Eu não estava e nem você está preparado para levar o choque de Inhotim. Se você cair de quatro ou ficar de joelhos, não será o primeiro nem o último.
Vamos começar pelo nome. Inhotim. Tim era um fazendeiro gringo, e Inho, naqueles tempos, era senhor.
Virou Inhotim. Simples, mas às vezes é dificil entender.
Fui lá a primeira vez há uns 20 anos, a convite de Bernado Paz, para conhecer a mineração dele. Depois nos convidou para almoçar na casa da fazenda, modesta mas limpa e confortável.
Hoje é a única construção modesta em Inhotim, com certeza a maior combinação de museu de arte contemporânea e jardim botânico do mundo.
A cinco minutos do terceiríssimo mundo de Brumadinho e a menos de uma hora de Belo Horizonte, levei um choque de primeiro mundo como nunca tinha sentido no Brasil.
Não duvide se Inhotim tiver em Minas o impacto cultural igual ou maior que o Guggenheim teve em Bilbao e na região do País Basco.
O jardim nasceu na década de 80, filho da amizade de Bernardo com Burle Marx. O paisagista vinha do Rio e outras partes carregado de plantas nobres e raras.
Constrói-se um lago aqui, outro ali, mais uma fileira de palmeiras e um ninho de patas de elefante.
A fazenda virou um vasto e lindo jardim. Hoje Inhotim tem 310 empregados, a maioria jardineiros.
No tempo que eu conheci o Bernardo em Nova York ele nunca manifestou interesse por arte ou museu, mas ele diz que herdou a sensibilidade da mãe, que pintava e escrevia poesia em casa.
Conta que um dia foi "tungado".
A amizade com o artista Tunga deu nele um desejo irresistível de enriquecer o jardim com obras de arte moderna. Cada artista teria sua própria galeria, e a primeira obra foi a de Tunga.
Hoje são nove galerias em condições impecáveis para proteger as 400 obras do acervo, na maioria grandes instalações.
Cildo Meireles tem duas, Hélio Oitica uma, a galeria da Adriana Varejão - mulher de Bernardo - está quase pronta, e há trabalhos de artistas do mundo inteiro.
Para quem não entende de arte moderna, como é, é difícil saber se o melhor do Inhotim está dentro ou fora das galerias, no magnífico jardim.
Há quatro lagos com dezenas de aves e vários cisnes negros com tanta atitude que deixam os brancos de bico caído.
Inhotim está aberto para o público de quinta a domingo e em outubro vai fazer um ano.
Para quem detesta verde e arte, há um ótimo restaurante e um bar cheio de bossa onde os visitantes podem matutar sobre o fenômeno Inhotim.
Quanto custou? De onde veio o dinheiro? Será que se paga só com a venda de ingressos?
A maledicência mineira não tem limites, mas quando você ouve o Bernardo contar como foi e como vai ser daqui a alguns anos - 28 galerias, mais lagos, cisnes, spa isto, hotel aquilo, centro de conferências, campo de golfe com todos os buracos, você percebe que está diante de um dos maiores egos do mundo.
O Super Ego não é nada perto do ego faraônico-babilônico do Bernardo.
Este é o grande impulso do Inhotim. São egos como o dele que mudam a paisagem do mundo."
Um comentário:
Concordo com o que você disse sobre Inhotim, principalmente com sua última frase "são os grandes egos que modificam as paisagens", muito bacana! Condiz com o que penso sobre o não lugar em que está se transformando Inhotim. Antes era o nome do povoado, agora foi comprado juntamente com o povoado e os seus habitantes... Assim morre o terceiro mundo? Pode até ser... Mas quem disse que o primeiro mundo é mais feliz?
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