quarta-feira, agosto 29, 2018

Nota sobre as eleições presidenciais (6) - Sabatina do Bolsonaro. Ou: tirem as crianças da sala!

Não vou falar sobre o conteúdo da sabatina em si. Isso vocês podem encontrar pela internet.

Mas vou falar o seguinte: a campanha presidencial possui quatro momentos críticos: o primeiro debate (Bandeirantes) a sabatina da Globo, o início do horário eleitoral e o debate da Globo. O Bolsonaro se saiu bem no primeiro debate (mas nem tanto no segundo, sobretudo pela invertida da Marina) e se saiu MUITO bem na sabatina. O Bolsonaro não sabe se expressar bem e não tem uma boa retórica, mas o que houve ali foi uma verdadeira aula de heurística. O que é heurística? Digamos assim: a retórica é a arte de "saber falar". Isso é muito comum nos famosos "clube de debates" americanos (que infelizmente apenas estão começando a serem implementados aqui): apresenta-se um tema qualquer (por exemplo, aborto), um lado é escolhido para dar argumentos favoráveis, outro para argumentos contrários e cada um busca expô-los da forma mais lógica e racional possível, sem usar as malfadadas falácias lógicas. Querem ver um exemplo de debate retórico sério feito nesses moldes? Vejam o William Lane Craig x Cristopher Hitchings discutindo sobre a existência ou não de Deus.

Mas o que acontece: em tese, a retórica, do tipo persuasiva, é usada para uma plateia que: a) sinceramente não está convencida de algo; e principalmente b) que está sinceramente comprometida com a busca da verdade e da veracidade dos argumentos a serem utilizados. Isso, obviamente, NAO ACONTECE NA POLÍTICA (aliás, na ciência também, mas isso é outro assunto). Na política já entramos no cenário de luta com os nossos preconceitos e, por mais que o adversário eventualmente fale algo que seu candidato de preferência esteja objetivamente errado, você não só não irá dar o braço a torcer mas vai passar a acreditar que o errado é o certo. O mesmo acontece quando o seu candidato está certo e o seu adversário errado: os correligionários acharão a mesma coisa.

Em termos gerais o Bolsonaro sacou da manga várias manobras heurísticas que, se num debate retórico sério faria com que perdesse, na política fez com que ganhasse de goleada. Partiu para analogias pessoais com os debatedores (a questão do trabalho via CNPJ, o divórcio do Bonner, a comparação salarial do salário do Bonner com a Renata Vasconcelos - e a perda da compostura dela acentuou ainda mais a vitória... Não, espera aí, essa merece um parágrafo à parte).

Perguntado pela enésima vez sobre ter dito que não contrataria mulheres, e sobre como combateria a disparidade salarial de homens e mulheres (o que é uma falácia estatística - se fosse real a primeira providência dos patrões seria demitir todos os homens e contratar apenas mulheres, para economizar com a folha), ele disse que não cabe a um presidente combater isso, que a diferença salarial por sexo é proibida pela CLT e que cabe ao Ministério Público do Trabalho combater isso (os entrevistadores perderam uma oportunidade DE OURO de encurralar o Bolsonaro com uma declaração que ele fez na semana passada falando que o MPT era inútil - algo do tipo "mas deputado, você falou mal do MPT na semana passada, como pode estar falando bem agora?"), a Renata reforçou a pergunta e ele partiu para o ataque, fazendo especulações sobre o salário dela. Se ela tivesse começado a chorar o Bolsonaro teria perdido a campanha ali. Mas o tal do feminismo faz com que as mulheres tenham que se mostrar sempre fortes, e ela, visivelmente atarantada, resolveu partir para o sermão. Muito bonito, por sinal, mas digo uma coisa: quando você consegue desestabilizar emocionalmente o seu adversário isso significa que você GANHOU o debate. No mais, eu achava que era tão previsível que, se fizessem essa pergunta o Bolsonaro iria dar uma resposta daquelas que acho surpreendente que não tenham se preparado da mesma forma que se prepararam sobre a questão do Roberto Marinho - provavelmente já estavam com a resposta-padrão na mão para colocar no teleprompter do Bonner.

Outro momento crucial foi a questão da "homofobia". Noves fora a MENTIRA sobre os "assassinatos por homofobia" (melhor explicado pelo Felipe Moura Brasil), pela discussão bizantino-orwelliana sobre "homossexualismo x homossexualidade" e pelo "palavras machucam" soltado pela Renata Vasconcelos, a saída do Bolsonaro foi heurística pura. Em vez de responder à pecha de homofóbico falando que não, e as razões para tal, ele se concentrou no "Kit Gay", e conseguiu DESMONTAR os entrevistadores. Falo isso pelo seguinte: uma das regras do debate acordada pelos candidatos era não mostrar documentos. O Ciro tentou fazer isso com o seu programa de governo ontem e não conseguiu - aliás, o Ciro foi mal no debate, sobretudo porque o Bonner pegou ele na questão do Carlos Lupi (ex-dono de banca de revista que virou "parça" do Brizola). O Bolsonaro fez a mesma coisa, mas antes disso ele soltou o famigerado "pais, tirem as crianças da sala!". O Bonner deixou escapar um "não, não pode mostrar, tem crianças assistindo!", a câmera se afastou e o Bolsonaro acabou não mostrando. Mas o ponto é: 1) na prática o Bolsonaro quebrou as regras do debate; 2) ele, mesmo sem expor o livro, confirmou o ponto dele (afinal, por que um livro infantil não pode ser mostrado na TV?); 3) conseguiu não responder à pergunta.

E em termos de resultado, o que aconteceu? O consenso é que o Bolsonaro ganhou de goleada. O pessoal antipático a ele está se agarrando na invertida da Renata Vasconcelos, mas meu palpite é que alguns indecisos (sobretudo os futuros viúvos de Lula - aliás, saiu um artigo inacreditavelmente bom da BBC Brasil sobre os lulistas eleitores do Bolsonaro que confirma o que eu disse: são eleitores do Lula não porque ele seja de esquerda ou que gostem do PT, mas sim porque gostam do Lula) vão tomar o partido dele depois de ontem... A depender do que acontecer com o principal afluente de eleitores do Bolsonaro, Alckmin, hoje, ele ganhará ainda mais votos. E a sangria pode aumentar ainda mais se o Bonner e a Renata Vasconcelos (uso o nome completo dela não por machismo, mas por habitualmente acrescentar o nome a sobrenomes mais comuns) apertarem a Marina sobre as contradições das posições evangélicas dela a determinados temas.

PS: Estamos terminando o segundo momento crucial da campanha e nem o Lula e nem o Haddad apareceram. O tempo está correndo contra o PT - isso se o TSE não demorar demais para julgar a candidatura do Lula e serem seu nome e foto a aparecer na urna nas eleições.

PS2: Perguntas pertinentes que poderiam ter sido feitas ao Bolsonaro, sem tentativas de lacrações:
- Candidato, o senhor é de um partido pequeno. Como que o senhor acredita que conseguirá formar alianças no Legislativo para conseguir governar caso eleito (essa mesma pergunta pode ser feita para a Marina)? 
- Candidato, como que o senhor pretende acabar com o déficit nas contas públicas e ainda investir em segurança, como o Sr. afirma que irá fazer? De onde que virá o dinheiro?
- Candidato, o Paulo Guedes afirmou que é possivel conseguir R$ 1 trilhão com a privatização de estatais e concessões de estradas. Como o Sr. convencerá os parlamentares e a sociedade que essa medida é benéfica? E como o Sr. lidará com as resistências que irá encontrar?
- Candidato, como o Sr. pretende lidar com a crise de refugiados venezuelanos?
- Candidato, o Sr. afirmou que irá obrigar os médicos do Mais Médicos a fazer o revalida. Como que, após essa medida, o senhor lidará com uma eventual diminuição drástica da quantidade de médicos?
- Candidato, o senhor disse que passará a focar mais no ensino básico que no superior? Como que o Sr. acha que as universidades públicas poderiam arcar com essa diminuição de verba?
- Como o Sr. pretende lidar com a questão da superlotação nos presídios?

quinta-feira, agosto 23, 2018

Bolsonaro 2018. Ou... IMAGENS FORTES (1)

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Título esquerda: Dois pais são melhores que um.
Título direita: Horror de menino de Queensland (Austrália), criado dentro de uma rede global de pedofilia.
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O que os garotos faziam no meu tempo.
O que os garotos estão fazendo hoje. 
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"Por que a heterossexualidade é padrão?"

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Notícia do The Mirror: família onde a mãe é o pai, o pai é a mãe e o filho está sendo criado como gênero neutro.
Notícia do Huffington Post: Aqui uma maneira espetacular de ensinar a cultura drag para crianças.

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Estuprador transgênero que foi transferido para prisão feminina apesar de ainda possuir pênis é isolado após "fazer abordagens sexuais não solicitadas" em suas colegas de cela.
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Mãe e filho estão se tornando pai e filha

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terça-feira, agosto 21, 2018

Notas sobre as Eleições 2019 (5) - Lula, Marina e o Oceano Vermelho da esquerda

Hoje (21 de agosto) o cenário atual nas eleições é: Lula preso, Bolsonaro em 1º, Marina em 2º, Ciro Gomes em 3º e Alckmin em 4º. No calendário eleitoral, as datas mais importantes e próximas são as seguintes:

Amanhã (22 de agosto) - fim do prazo para apresentação de pedido de impugnação das candidaturas.

31 de agosto - Início do horário eleitoral e spots nas TVs.

3 de setembro - Lacração das urnas eletrônicas

O ministro Luís Roberto Barroso, que é quem cuidará dos pedidos de impugnação da candidatura Lula, dará mais 7 dias a partir de 22 de agosto para que os advogados do Lula apresentem sua defesa. Assim, o Barroso terá entre 30 e 3 de setembro para que indefira a candidatura do Lula e seu nome e foto não apareçam nas urnas. Caso contrário, é garantia que o Haddad estará no segundo turno. Já estou até imaginando a dramatização com a foto do Lula 13 aparecendo na urna...

Sim, é verdade que o Lula não poderá fazer campanha para o Haddad, mas não há nenhum impedimento para que se usem vídeos antigos no programa dele.

Já se o Barroso conseguir (ou se for de seu interesse) julgar a inelegibilidade do Lula antes de 3 de setembro, preferencialmente antes do início do horário eleitoral, isso significará que o PT perdeu mais de 15 dias de campanha (além de dois debates televisivos, fora a cobertura não dada pelo Jornal Nacional) apostando no cavalo errado. A depender de como as pesquisas estarão até lá, pode ser que muitos candidatos locais (sobretudo no Nordeste) que tenham se comprometido a apoiar a candidatura do Lula mudem de lado, escolhendo o Ciro ou (mais provável) a Marina.

Finalmente, os eleitores do Lula. Para onde vão? A maioria vota no Lula não porque ele é de esquerda, não porque ele é do PT, mas simplesmente por ser um cara carismático, weberianamente falando. E é por isso que em TODAS as pesquisas feitas sem o Lula mostram um aumento principalmente entre os branco/nulos (na do Ibope de ontem, por exemplo, a diferença nos cenários com/sem Lula é de 16%/29%). Já dentre os candidatos que mais se beneficiariam com a ausência do Lula (tirando obviamente o Bolsonaro, que ficaria em 1º) é a Marina, que subiria de 6% para 12%. Assim, o PT, mais uma vez, partiria para a guerra suja contra a Marina para pegar seus votos e tentar, mais uma vez, ser o partido principal da esquerda - tal como foi feito em 2014. Daria certo? Bem, é possível, mas é muito menos do que em 2014, quando já se sabia desde 2010 que a Dilma tentaria a reeleição - e em 2010, se sabia desde 2006 que a Dilma sucederia o Lula, quando a opção Dirceu foi descartada. O Haddad teria pouco mais de um mês para ter seu nome divulgado nas outras regiões do país. 

Ficamos no seguinte:
- O Bolsonaro focará no anti-petismo (embora ele não seja só isso) e tentará  mostrar mais carisma para pegar alguns eleitores infiéis do Lula que estarão atarantadamente indecisos com sua ausência.
- O Alckmin tentará desconstruir o Bolsonaro (de maneira semelhante ao que foi feito com o Ciro em 2002). Preparem-se para spots tucanos envergonhados.
- O Ciro tentará se viabilizar como o candidato da esquerda, mesmo com o PT não gostando dele. Para tanto, tentará se mostrará como fodão contra o Bolsonaro.
- A Marina idem Ciro.
- O Álvaro Dias tem grande potencial para ser o que o Índio da Costa foi para o Rio: tirou um Bolsonaro da corrida pela prefeitura, não levando nem deixando levar, e deixando que a disputa ocorresse entre Marcelo Freixo e Marcelo Crivella.
- O Haddad tentará tirar votos do Ciro e sobretudo da Marina, e tentará se mostrar fodão contra o Bolsonaro.
- O Boulos é linha auxiliar do PT
- O Daciolo é linha auxiliar do Bolsonaro.

sexta-feira, agosto 17, 2018

Nota sobre as Eleições no DF (3) - Câmara dos Deputados (2)

Já temos as coligações. São as seguintes:

Brasília Acima de Tudo PRP - PRTB
Brasília de Mãos Limpas PCdoB - Rede - PDT - PSB - PV
DC DC (antigo PSDC)
Elas por Nós: Sem Medo de Mudar o DF PSOL - PCB
Novo Novo
PCO PCO
PPL PPL
Pra fazer a diferença I Avante - PP - MDB - PSL
PSTU PSTU
PT PT
Renovar DF PHS - PTB - PTC - Patriotas
Renovar DF 2 PMN - Pros - PMB
Unidos Pelo DF 1 PPS - PSC - PRB - Podemos - Solidariedade
União e Força PSDB - DEM - PR

Vejamos os destaques de cada coligação:

Brasília Acima de Tudo - Aqui é a chapa que fará campanha pelo Bolsonaro no DF (além do apoio velado que ele terá do Alberto Fraga). Não há nomes muito conhecidos - exceto talvez por uma, que será coincidentemente a minha candidata: a Bia Kicis (4417), que participou do ramo local do Vem Pra Rua e ajudou no impeachment da Dilma. É possível que, com um "efeito Bolsonaro", ela seja a única a se eleger na chapa. Vamos ver.

Brasília de Mãos Limpas - É uma boa chapa, admito. Tem dois nomes muito bons aqui: a Maria de Lourdes Avbadia (ex-deputada e ex-vice-governadora) e o Professor Israel, que vem do segundo mandato na Câmara Legislativa e pode ser considerado uma estrela em ascensão. Se fosse para em apostar em um deles, seria no Israel.

DC - Não vai conseguir eleger ninguém.

Elas por Nós: Sem medo de Mudar o DF - Idem. Não vai ser dessa vez, Maninha.

Novo - Ibidem.

PCO - Não, né?

PPL - Também não, muito embora o Marco António Campanella tenha mais votos que a Maninha.

Pra Fazer a Diferença I - Outra chapa muito boa, e com vários destaques: Celina Leão, também na mesma situação do Professor Israel e o Tadeu Filipelli, que ficou de molho após o fiasco Agnulo. Sairá outro deputado eleito daqui.

PSTU - Desculpe, Elcimara (cito nominalmente porque é a única candidata a deputada federal do partido), não rola.

PT - O PT vai de puro sangue nessas eleições. Mas apesar do Magellinha, a Érika Kokay será reeleita.

Renovar DF - O único nome de destaque é o ex-deputado distrital Dr. Charles. Mas ele não foi nem reeleito para a CLDF, de modo que acho que essa chapa irá flopar.

Renovar DF 2 - De destaque, o neto do Joaquim Roriz e o José Edmar, que há muito não tem mais a força política que costumava ter. É talvez a chapa mais rorizista puro sangue aqui. Há possibilidades remota de eleger 1 deputado.

Unidos pelo DF 1 - Adivinha quem está aqui? O Augusto Carvalho! Esse é danado para entrar em bosa coligações. Seguramente usará o Professor Pacco, que atualmente está na Câmara como suplente, como escada.

União e Força - Outra coligação boa que, a princípio, garantirá pelo menos a reeleição do Laerte Bessa. Mas há também a Flávia Arruda, mulher do dito-cujo, o Paulo Roriz (que se não será eleito contribuirá com votos para a coligação) e inclusive uma "candidata-celebridade", a ex-jogadora de vôlei Virna.

Então, para resumir, se fosse para distribuir as 8 vagas, seria dessa maneira:

Brasil Acima de Tudo - 1
Brasília de mãos limpas - 1
Pra Fazer a Diferença  1 -  1 (talvez 2)
PT - 1
Renovar DF - 1
Unidos pelo DF - 1
União e Força - 1

quarta-feira, agosto 15, 2018

Notas sobre as eleições 2018 (4) - Alckmin, Ciro e Marina

Temos novidades nessas eleições, mas também temos repetições. Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva já foram candidatos à presidente. Vamos analisar a votação deles?

Geraldo Alckmin 
2006
Total de eleitores: 125.913.479
1º Turno Alckmin - 39 968 369 (31,74% do total)
2º Turno Alckmin - 37 543 178 (29,81%)

Trata-se de um caso ÚNICO em países onde há segundo turno nas eleições: um candidato ter MENOS votos que no primeiro turno. A que atribuo isso? A isso:

Imagem relacionada

O PT estava dizendo que o Alckmin, se eleito, iria privatizar as estatais, com destaque para a Petrobras, a Caixa e o Banco do Brasil. O que o tucano fez? Mordeu a isca. Fazendo isso, mostrou que não era assim tão diferente do PT. E se for para se votar em alguém semelhante, por que não continuar votando no original? E deu Lula de novo (com a força do povo).

Mas vale a pena se alongar um pouco mais com o Alckmin e sua principal base eleitoral: São Paulo. Vamos ver a quantidade de votos que ele teve desde que substituiu Mário Covas no governo do estado, antes de 2002:

Governo
2002 - 7.505.486 (primeiro turno)
         - 12,008,819 (segundo turno)
Presidência
2006 - 11.927.802 (primeiro turno)
         - 11.696.938 (segundo turno)
(aparentemente o impacto do levante do PCC na época não pesou tanto para o Geraldo)
Governo
2010 - 11.519.314 (eleito no primeiro turno)
2014 - 12.230.807 (reeleito no primeiro turno)
Isso mostra o seguinte: desde o 2º turno de 2002 o Alckmin possui um eleitorado praticamente estável pelo menos de mais de 11 milhões de pessoas. Em 2006 isso representou quase 1/3 dos seus votos nacionalmente. Mas nessas eleições há o "fator Bolsonaro". Como disse antes, é bastante provável que o Alckmin consiga ser o vencedor na suas bases, mas caso o Bolsonaro tire uns 40% dos votos dele, seriam uns 4 milhões que podem fazer uma diferença capital para decidir quem irá para o segundo turno. Além disso, faltam menos de 2 meses e a pesquisa mais favorável ao Alckmin em São Paulo foi uma do Ibope de 3 de agosto que o apontava liderando, mas com empate técnico (19% a 16% - sem Lula). É provável que esses números aumentem por causa do horário eleitoral e sobretudo dos spots publicitários.

Ciro Gomes (cearense de Pindamonhangaba)
Como disse, o Ciro tem a seu favor o fato de ter, em tese, uma boa votação no Nordeste. Mas tem como peso o fato de não mais ser o candidato do "voto de protesto" como foi em 1998. O desempenho do Ciro como candidato à Presidência foi:

1998 -  7.426.190 (10,97% dos votos válidos)
2002 - 10.170.882 (11,97% dos votos válidos)

(Deve-se levar em conta que foi apenas em 2002 que se adotou nacionalmente o voto eletrônico - o que, se ajudou a diminuir a confiança na legitimidade do pleito - uma vez que eleição que não pode ser auditada é fraude POR SI SÓ-, por outro lado indubitavelmente diminuiu a quantidade de votos inválidos, uma vez que os analfabetos e semi-analfabetos só precisam decorar os números e ver a cara da pessoa. Isso explica a discrepância na quantidade de votos válidos).

O problema do Ciro é que, após 2002, a atuação política do Ciro se tornou bastante errática: virou ministro do Lula em 2002, teve uma votação maciça para deputado federal pelo Ceará em 2006, fez um movimento político totalmente equivocado ao mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo e tentar ser o candidato ao governo de lá pelo PSB, com apoio do PT - no que foi devidamente rifado pelo Lula. Depois disso se deitou nos louros do caudilhado do Ceará com seu irmão Cid e do afilhado político via PT Camilo Santana.

Mas o problema do Ciro é que ele é big in Ceará somente. Nos outros principais estados do Nordeste (Pernambuco e Bahia) quem parece herdar mais o eleitorado órfão do Lula é a Marina Silva. No caso da Bahia (Paraná Pesquisas, 30 de maio), na pesquisa com o Lula ele ficaria com 43%, o Bolsonaro com 17%, a Marina com 8,3% e o Ciro com 7,1%. Sem o Lula o Bolsonaro fica com 19,5%, a Marina fica com 18% e o Ciro com 13,5%. Já Pernambuco (Datamétrica, 18 de julho), o cenário com Lula é Lula 65%, Bolsonaro 9%, Ciro 2% e Marina 1%. Já sem o Lula seria Marina 14%, Bolsonaro 12% e Ciro 7% (a pesquisa que coloca o Haddad na frente com o estímulo "com o apoio de Lula" deve ser descartada: primeiro pelo viés de confirmação; segundo, porque o Lula estará preso e não aparecerá na TV nem dará um depoimento falado a respeito - apesar de que isso pode ser plenamente falsificado via WhatsApp com a quantidade de imitadores de Lula que há por aí).

Pesará ainda contra o Ciro a falta de tempo na TV

Marina Silva

Em 2010 ela encarnou o voto da esquerda não-petista, obtendo 19.636.359 votos. Em 2014, após a sabotagem (admitamos) que a Rede sofreu na justiça, após ser vice de Eduardo Campos, após a tragédia com a morte deste, após um crescimento espantoso nas pesquisas e após uma campanha terrivelmente suja por parte do PT, ela ainda assim obteve um aparente crescimento na sua base eleitoral, tendo 22.176.619 votos. No entanto, esse crescimento deve ser debitado principalmente (talvez até unicamente) a Pernambuco, terra de Campos, onde ela ficou em primeiro lugar com 2.310.700 votos. Provavelmente a boa votação da Marina em Pernambuco no cenário sem Lula descrita acima deva ser creditada a essa "memória d'água" eleitoral. Deve ser destacada também a votação que ela teve no Rio de janeiro, onde teve 2,590 milhões de votos (31,7% - mais votos inclusive que o próprio Aécio Neves. Na última pesquisa (Paraná Pesquisas, 23 de julho), no cenário com Lula, Bolsonaro lidera com 26,6%, Lula com 25,5% (empate técnico, portanto), Marina com 10,4% e Ciro com 6,1%. Sem Lula, Bolsonaro continua liderando com 29,1%, Marina passa a ser vice com 15,2%, Ciro fica com 8,6 e Alckmin com 4%.
O problema da Marina é o seguinte: mesmo sendo a candidata da esquerda não-petista, ela ainda conseguia se vender como candidata anti-sistema. Hoje quem consegue se vender assim é o Jair Bolsonaro. Além disso, mesmo no campo da "esquerda não-petista" ela terá a concorrência do Ciro Gomes que, se não representa uma ameaça tão séria assim, subtrairá-lhe votos que podem ser capitais na diferença entre ir ou não para o segundo turno. E mais: ela pode esquecer dos 2,3 milhões de votos em Pernambuco, pois a máquina eleitoral local já não estará mais com ela: o governador Paulo Câmara, ao menos até definição final do TSE, já disse que apoiará o Lula.
Finalmente, na casa de ferreiro o espeto é de pau: no Acre (4 de junho, Delta/TV Gazeta), Bolsonaro lidera com 32,50%, Marina fica em segundo com 18,1% e Lula em terceiro com 17,66%. Não houve pesquisa sem Lula.
(e é uma pena que não consegui encontrar nenhuma pesquisa no Pará, estado mais importante do Norte... No segundo mais importante, Amazonas -Instituto Intake Marketing e Pesquisas, 28 de junho -, Lula e Bolsonaro estão em empate técnico  com 28% e 27%, respectivamente, com a Marina aparecendo num distante terceiro lugar com 13,1%).

Pesará ainda contra a Marina a falta de tempo na tv.

terça-feira, agosto 14, 2018

Nota sobre as eleições no DF (2) - Câmara dos Deputados

Vai haver uma renovação boa na Câmara dos Deputados - salvo pela única que não deveria ser reeleita e irá, a Érika Kokay (PT). Isso se deve ao fato de que grande parte dos deputados tetará galgar voos mais altos esse ano. Em ordem alfabética:

Alberto Fraga - Tentando o GDF. É bastante provável que o nome dele cresça nas pesquisas após o imbroglio Frejat/Arruda tenha se solucionado.

Augusto Carvalho - A depender da força de sua coligação. O Carvalho é daqueles que sempre consegue se eleger, apesar de não conhecermos uma viv'alma que vote nele.

Érika Kokay - Nome mais forte do PT nessas eleições. Será reeleita.

Izalci Lucas - Tentando o Senado. Agora que o Paulo Octávio saiu da disputa, suas chances como o "senador além do Cristovam" aumentaram bastante. 

Laerte Bessa - Com o Fraga saindo para concorrer ao GDF poderá se sagrar como o principal nome conservador. E é batata que se reeleja se ele mostrar que foi o relator da redução da maioridade penal na Câmara.

Professor Pacco - É do PSB e está como suplente no momento. Como é da chapa do Rollemberg, a tendência é que não se reeleja caso se candidate.

Rôney Nemer - Mesmo caso do Augusto Carvalho.

Vitor Paulo - Um suplente que ninguém conhece.

Quanto aos deputados que atualmente não se encontram em exercício:

Rogério Rosso - Será candidato ao GDF e perderá.

Ronaldo Fonseca - Tem chances de reeleição, talvez até mais que o Augusto Carvalho e o Rôney Nemer, se focar no "voto crente".

terça-feira, agosto 07, 2018

Nota sobre as eleições no DF (1) - Senado

Finalmente temos uma lista! Nas últimas eleições o Cristovam e o Rollemberg fizeram campanhas um para o outro e se beneficiaram com o escândalo da Caixa de Pandora. Lembrando que você tem dois votos. A dica é: vote num candidato que você acha que deveria ganhar e outro que você considera o menos pior, mas que tem mais chances.

Aqui vão os nomes:

Átila Maia (PRTB) - Não

Chico Leite (Rede) - Não. Ex-PCdoB e ex-PT não dá. (adendo: muito embora esteja entre os favoritos à segunda vaga).

Chico Sant'Anna (PSOL) - Risos

Cristovam Buarque (PPS) - Esse vídeo dele deveria ser mais conhecido: numa audiência sobre legalização da maconha, um Zé Droguinha resolveu dizer que tinha maconha para distribuir. Daí uma pessoa contrária à legalização, baseada no artigo 301 do Código Processual Penal ("Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.") resolveu prender o Zé Droguinha. Daí o que o Cristovam fez? Utilizou os seguranças do Senado Federal para PROTEGER o Zé Droguinha! https://www.youtube.com/watch?v=87r_STLZ0HI

Danilo Matoso (PCO) - Risos

Fábio Barcellos (PDT) - Não

Fadi Faraj (PRP) - Não à família Faraj

Fernando Marques (SD) - Quem?

General Heleno (PRP) - Esse terá o voto "acho que deveria ganhar"

Izalci Lucas (PSDB) - Candidato a voto útil

Leila do Vôlei (PSB) - A pessoa errada da dupla Leila & Ana Paula está se candidatando. Aliás, já topei com a Leila no Terraço Shopping. Ela é enorme.

Marcelo Neves (PT) - Risos

Marivaldo Pereira (PSOL) - Risos

Paulo Octavio (PP) - Candidato a voto útil

Paulo Roberto Khouri (Novo) - Não

Paulo Torres (PSC) - Não

Robson da Silva (PSTU) - Não

Wasny de Roure (PT) - Risos. E é uma pena que a Érika Kokay tentará a reeleição como deputada federal. Ela devia ser candidata a governadora/senadora e perder.

Não vou dar um palpite sobre quem vai ganhar porque o universo é grande aqui, mas a princípio está entre Izalci, Leila, Paulo Octavio e Wasny.

Nota sobre as eleições (5) - Viva a França e antes do primeiro debate.

Superando uma tragédia pessoal, aqui vou eu:

Com as candidaturas praticamente fechadas, com o Lula praticamente fora, chegamos ao seguinte cenário, em ordem de acordo com a pesquisa eleitoral que não pergunta sobre o Lula:

Jair Bolsonaro - Adquiriu um "efeito teflon" inacreditável: hoje acho que nem se falarem que ele já comeu a mãe dele fará com que ele perca votos. Além disso, saiu-se muito bem nas entrevistas tanto no Roda Viva como na Globo News. Observemos como se sairá no debate (que tradicionalmente não vejo, porque a minha opinião não interessa, mas sim a opinião geral - além disso, tradicionalmente os debates na Band têm baixa audiência). Aqui temos que vero seguinte: ele é a pessoa a ser combatida nessas eleições. Será atacado principalmente pelo Alckmin e seu tempo enorme de campanha, sua "linha auxiliar" o Henrique Meireles, o PT, a Marina... Por todo mundo. Isso será "uma faca de dois legumes", podendo dar certo OU fazer com que a maior parte da população que (não tem TV a cabo, não assiste a TV Cultura e deixa a TV o tempo todo ligada ou na Globo ou na Record) começar a se perguntar: "ei, quem é esse cara?". Ter 7s de horário eleitoral também não adiantará nada na campanha. Assim, o Bolsonaro terá que investir bastante em WhatsApp e YouTube (porque no Facebook ele será sabotado). Também não ajuda em nada não ter conseguido um vice expressivo politicamente. Aliás, da mesma forma que Nelson Rodrigues adorava o sobrenome Garrastazu do Médici, não consigo pensar em nenhum nome de guerra para general que não seja mais perfeito que "Mourão". É como o "despachante Palhares".

Marina Silva - Como diz o José Simão, a Marina é como o Brasil em Copa do Mundo: aparece de 4 em 4 anos e PERDE. O divórcio com o PT, sobretudo no pós-Dilma, é bem evidente. Assim, ela será descartada como "voto útil" por grande parte do eleitorado da esquerda. Da mesma forma, o voto de protesto que antes tinha será redirecionado para o Bolsonaro. Terá um grande eleitorado na Zona Sul do Rio de Janeiro (ainda sim perigando concorrer com o Guilherme Boulos), no Acre e olhe lá. O vice dela é o Eduardo Jorge, do PV, mas quem se importa?

Ciro Gomes - O Lula tem birra com o Ciro, não é possível! Conseguiu desidratar bastante o que talvez fosse a melhor alternativa da esquerda nessas eleições. E - mais importante - fez com que o PSB, forte no Nordeste, se declarasse "neutro exceto contra o Bolsonaro". Isso fará com que sua candidatura perigue nem ir para o segundo turno. Terá votos no Ceará, algum ecúmeno nordestino e olhe lá. Sua vice, Kátia Abreu, também não vai ajudar: além de ser odiada no Brasil Caipira por ter se abraçado com a Dilma, e em pleno naufrágio, teve a proeza de ficar em QUARTO LUGAR nas eleições suplementares do seu Tocantins neste ano.

Geraldo Alckmin - Talvez a candidatura mais forte politicamente. Além do óbvio tamanho da coligação (o que fará com que corra o risco de ser justamente taxado como o "candidato do sistema" - além de também ser justamente acusado como "o PT com vaselina"), marcou um ótimo gol convencendo a Ana Amélia (PP-RS) ser sua vice-presidente. Não por ser mulher (isso é uma bobagem da imprensa: mulheres costumam ser preteridas até pelas próprias mulheres nas eleições, e esse fenômeno se acentuou no pós-Dilma), mas por ser da bancada ruralista. Conforme disse antes, o Alckmin terá um grande eleitorado no "interiorrrrr" paulista, provavelmente batendo o Bolsonaro, e a Ana Amélia lhe garantirá um naco importante do interior sulista. PORÉM, prevejo que as eleições no Sul serão bastante balcanizadas ( o Rio Grande do Sul principalmente), tanto pelo Álvaro Dias como pelo (não riam) Henrique Meirelles. Não se surpreendam caso ele vá para o segundo turno.

Álvaro Dias - Se o PSDB fosse um partido mais democrático, o Álvaro tivesse permanecido e fosse o candidato tucano para a presidência ele seguramente ganharia. Mas isso não aconteceu e ele será a pessoa que verdadeiramente tumultuará o meio de campo "centro-esquerda/direita". Possui plenas condições de ganhar no Paraná e tirar nacos importantes do Bolsonaro de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. No entanto, possui um vice inexpressivo politicamente (Paulo Rabello de Castro), de um partido (PSC) cujas únicas forças nas últimas eleições atendiam pelo nome de Jair Bolsonaro e Marco Feliciano.

Fernando Haddad - Sem o Lula, vai o poste mesmo. Sabe-se lá por que cargas d'água o PT achou que alguém que perdeu a reeleição da prefeitura de São Paulo NO PRIMEIRO TURNO era um candidato competitivo a ponto de substituir o presidente condenado. Terá bastante votos em São Paulo, poderá inclusive ganhar no Rio Grande do Sul (visto que com a Manuela d'Avila como vice unirá a esquerda gaúcha) e possivelmente surpreenderá no Nordeste com o apoio de membros do PSB no Nordeste e em Minas, onde eles ainda têm a máquina. Aliás, esse é o primeiro ponto negativo para o Haddad: o PT saiu do governo federal e perdeu o argumento "se fulano ganhar vai acabar com o Bolsa Família". O segundo ponto é que, fora lumiares talibikers da imprensa, ninguém gosta do Haddad.

Guilherme Boulos - O verdadeiro candidato da esquerda festiva. Pode ser que o Psol (cujos membros dizem "piçol") consiga eleger mais deputados que nas últimas eleições após o desencanto com o PT e o affair Marielle Franco (aliás: que merda é essa de se referir à companheira dela como "esposa"? Elas nem "casadas" eram!"), mas - ainda - são inofensivos na política tradicional (fora dela são uns filhos da puta de marca maior, vide o golpe que estão para dar com a legalização do aborto via STF)

Henrique Meirelles - diria apenas "risos", mas há um dado importante aqui: o vice dele será o Germano Rigotto. Sim, é verdade que ele perdeu a campanha pela reeleição ao governo do RS no primeiro turno, mas os gaúchos possuem uma idiotia chamada fidelidade partidária: um típico eleitor gaúcho tende a votar no mesmo partido até o final dos tempos. A proporção de eleitores prudentes (que votam de acordo com o desempenho da pessoa) é mais baixa lá que na média do país. Quem perderá com isso será o Bolsonaro e - principalmente - o Alckmin. De qualquer forma, vejo o Meirelles como o candidato para descaracterizar o Alckmin como sendo "o candidato do sistema". O Meirelles é o bode na sala: quando retirarem-no os tucanos dirão "estão vendo, o candidato do Temer perdeu! Votem no Alckmin! O fato de termos sido mais fieis nas votações que interessavam ao governo Temer, fora o impeachment, é irrelevante! Nós vamos mudar tudo [para tudo permanecer como está]"