sábado, junho 30, 2007

Essas coisas só acontecem quando estou fora de Brasília... :S

Desde 2002 eu tinha certeza absoluta que o judiciário do DF comia nas mãos do roriz. Depoimentos dos juízes do TRE-DF, algumas direitos de resposta absurdos consguidos pela coligação do PMDB (do tipo, 'roriz, ao contrário do que a coligação do PT disse, deu o reajuste de 28% aos funcionários do GDF') e a histórica censura ao Correio Braziliense na época - hoje o Correio (e TODOS do grupo Associados) não servem nem pra forrar gaiola de passarinho. Tive que ser obrigado a discutir civilizadamente com certos acólitos rorizistas, sempre falando que ele era absolvido porque o judiciário distrital comia na mão do atual senador (gasp).

Pois bem, hoje, na Veja (que é uma ótima revista quando se trata de jornalismo investigativo, de crítica de cinema, páginas amarelas e de Diogo Mainardi) sai uma reportagem bomba sobre o destino da diferença de R$ 1,9 mi que o Dom Constantino (pai do dono da Gol) deu pro roriz: para MOLHAR A MÃO DO TRE-DF!!!

Aqui vai a reportagem na íntegra, que está aberta no site da Veja, e depois eu volto:

"O dinheiro era para subornar

Joaquim Roriz usou dinheiro de Nenê Constantino para pagar propina a juízes

O senador Joaquim Roriz, flagrado em uma conversa telefônica combinando a partilha de 2,2 milhões de reais, finalmente subiu à tribuna para explicar-se na semana passada. Com um discurso pronunciado à semelhança de Odorico Paraguaçu, o inesquecível personagem de folhetim que encarnava o aspecto folclórico da política, Joaquim Roriz repetiu o que dissera antes – só que, da tribuna, adicionou algumas lágrimas e muita retórica. "Quem em sua vida nunca pediu um empréstimo a um amigo?", disse. "Será que um senador não poderia pedir um empréstimo a um amigo de longa data?", repetiu. "Imaginem se pedir dinheiro emprestado é falta de decoro. Meu Deus! A que ponto chegamos?" No discurso, Roriz disse que pediu 300.000 reais ao seu amigo e empresário Nenê Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas, para pagar uma bezerra. Constantino entregou um cheque de 2,2 milhões, Roriz sacou o dinheiro, reteve 300.000 reais e devolveu o restante, 1,9 milhão, ao empresário. A novidade é que, se parte do dinheiro foi mesmo usada para pagar uma bezerra, outra parte teve destino explosivo – serviu para subornar juízes do Tribunal Regional Eleitoral que livraram Roriz de cassação em 2006.

Na semana passada, VEJA conversou com um político que priva da intimidade do senador e que ouviu a confissão do pagamento da propina do próprio senador – e não de terceiros. Ele conta que, no começo de fevereiro passado, Joaquim Roriz recebeu seu suplente, o ex-deputado distrital Gim Argello, em sua casa. Conversaram sobre os boatos de que a decisão pró-Roriz do TRE teria sido comprada. A certa altura, travou-se o seguinte diálogo:

Argello – O Agnelo (refere-se a Agnelo Queiroz, ex-ministro e candidato derrotado ao Senado) me disse que a decisão foi comprada. É isso mesmo?

Roriz – É isso mesmo. Achei que o processo não ia dar em nada, mas tivemos de resolver. Tivemos de comprar dois.

Conforme o relato do político que detalhou o assunto a VEJA sob a condição de manter-se anônimo, "comprar dois" significa subornar dois juízes do TRE. Na mesma conversa, Roriz lembrou ao interlocutor que o mandato de senador também lhe pertencia. "O mandato também é seu, você precisa me ajudar", apelou. "Tem de levantar 1,2 milhão", detalhou. Roriz não explicou se 1,2 milhão de reais era o valor total da propina dos dois juízes ou se era a parte que faltava pagar. A solução não demorou a surgir. No dia 13 de março, conforme aparece no diálogo telefônico capturado pela polícia, Roriz descontou o cheque de 2,2 milhões de Nenê Constantino e, sabe-se agora, repassou pelo menos 1,2 milhão aos juízes subornados. Isso explica por que, na conversa grampeada, Roriz se recusa a receber o dinheiro em sua própria casa, num carro-forte, e explica que a partilha dos recursos envolve outras pessoas. "O dinheiro é de muita gente", diz ele.

O caso que livrou Roriz da cassação foi julgado em 23 de outubro, mas começou no dia 19 de setembro, quando o Ministério Público o acusou de uso político da máquina pública do governo do Distrito Federal. Na época, Roriz deixara o cargo de governador para concorrer ao Senado, e a estatal de abastecimento de água, a Caesb, mudara em propagandas seu número de atendimento telefônico de 115 para 151 – número de Roriz nas urnas. O placar do julgamento no TRE estava em 3 a 2 contra Roriz. Um juiz pediu vistas e, dias depois, quando a sessão foi retomada, votou a favor de Roriz, cravando um empate em 3 a 3. Antes que o presidente do tribunal desse seu voto de Minerva, um dos juízes que votaram contra Roriz subitamente mudou de idéia. Com isso, Roriz livrou-se da cassação por 4 a 2. A virada no placar teria custado pelo menos 1,2 milhão de reais. Procurado por VEJA, o suplente Gim Argello confirmou o encontro com Roriz, mas disse que não faria comentários a respeito de pagamento de propina.

Na versão oficial de Roriz, a sobra de 1,9 milhão não virou propina para ninguém. Foi devolvida ao empresário Nenê Constantino. VEJA perguntou ao empresário o que ele fez com o 1,9 milhão de reais, mas o empresário não respondeu. Roriz, por sua vez, alega que os 300 000 reais foram usados para pagar uma bezerra, de 271 000 reais, e a sobra de 29 000 reais foi emprestada a Benjamin Roriz, seu primo, que estava com problemas de saúde na família. O problema de Roriz é que a nota fiscal que supostamente comprova o pagamento de 271.000 pela bezerra está crivada de mistérios. A nota foi emitida no dia 1º de março, o bicho foi entregue no dia 3 e o pagamento foi feito apenas no dia 14. Por que alguém entrega a mercadoria e a nota antes de receber o dinheiro? Além disso, a nota informa a venda de "04" animais, mas na versão de Roriz foi apenas uma bezerra.

Mais: na nota consta o pagamento de 532.000 reais, mas Roriz diz que obteve um desconto de 50%. O vendedor confirma. "Ele chorou muito e eu dei o desconto de 50%", diz o pecuarista Márcio Serva. Mas fica a pergunta: por que o vendedor faz uma nota com um valor superior ao real? Para pagar mais imposto? Márcio Serva não soube explicar. Por fim, a nota fiscal distribuída à imprensa vem com um cabeçalho de fax em que se lê a data de 30 de maio de 2005. Com base nessas informações, deduz-se que nessa data a nota foi enviada da empresa de Roriz para algum outro lugar – o que sugere que a nota, apresentada como sendo de agora, é muito mais antiga. Isso é fraude. Os assessores de Roriz dizem que o fax estava com defeito e informava data e hora incorretas. Apesar do acúmulo de inconsistências a respeito da nota fiscal, ainda assim não há evidência concreta de que o negócio de 271.000 reais não tenha sido feito. O que parece certo é que a parte do leão do dinheiro, o 1,9 milhão de reais restantes, não foi para as mãos do empresário Nenê Constantino, mas acabou azeitando o propinoduto de Roriz. Haverá mais lágrimas e mais retórica."

Cá estou.

Bom, a reportagem em si a princípio é frágil, já que apóia-se em apenas em um depoimento de um político apenas (desconfio que seja alguém ligado ou ao Pedro Passos ou ao Júnior Brunelli, ambos distritais, ambos do PMDB e ambos inimigos entre si - o Pedro Passos, vocês conhecem, poderia ter dado esse depoimento como possível vendetta pelo senador não estar apoiando-lhe; e o Brunelli, quem está julgando o caso do Peter Steps no Conselho de Ética na Câmara Legislativa, já deu a entender que está sofrendo pressões de aliados para absolvê-lo, e pode ter sacaneado com horroriz nessa), e em um processo criminal isso não é nada. MAS, o Ministério Público de lá, se tiver sido esperto, pode ter conseguido investigar sinais externos de riqueza 'expontânea' dos meretríssimos. Se teve essa sorte (já que a quebra de sigilo é uma decisão judicial, e duvido muito da capacidade dos vigilantes vigiarem-se), o roriz tá fudido. E outra coisa: processo político é diferente do processo jurídico...


Eu ainda sambarei em cima da lápide dele, entre outros...

Aos leitores:

Desculpa no momento eu não poder responder a todos como merecem, mas é que ainda estou em condições precárias em Betim. Meu ambiente de 'trabalho' (ainda não estou com a carteira assinada mas a coisa tá prosseguindo) é um pc numa mesa de bar de plástico com propaganda da Skol em uma recepção vazia... E ainda por cima o pc é em Linux! Tentem ler algo em romeno e vocês vão sentir o meu drama de ser um 'fluente' apenas em Windows...

PS: Ao que mencionou o Viciado Carioca: que fim levou ele? O blog saiu do ar... :S

quinta-feira, junho 28, 2007

Entrevista de Bruno Tolentino à Veja em 1996

Aqui vai a entrevista citada no post anterior, copiada integralmente do blog do Reinaldo Azevedo. Me pegou de surpresa o fato dele citar o Mainardi já naquela época. Eu pensava que ele tinha iniciado sua carreira de polemista só em 1999, mais ou menos...

Eu tenho a impressão de que, se eu ler uma obra desse cara, ou não vou entender as nuances (o mais provável) ou eu vou finalmente entender o porquê dos gênios serem sempre mal-compreendidos quando vivos.

"Por Geraldo Mayrink
Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino, menino carioca de família aristocrática, gosta de dizer que é de um tempo em que rico não roubava. O avô foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal e seus tios eram intelectuais, como os escritores Lúcia Miguel Pereira e Otávio Tarquinio dos Santos, além dos primos Barbara Heliodora, a crítica teatral, e Antonio Candido, o crítico literário. Ainda era analfabeto em português quando duas preceptoras, mlle. Bouriau e mrs. Morrison, o ensinaram a conversar em francês e inglês dentro de casa. Tolentino saiu do Brasil em 1964 e, no estrangeiro, ocupou-se de árvores genealógicas de origem erudita. Orgulha-se de ter filhos com mulheres descendentes do filósofo Bertrand Russell e do poeta Rainer Maria Rilke. O mais novo, Rafael, de 8 anos, nascido em Oxford, Inglaterra, onde o pai ensinou literatura durante onze anos, é filho da francesa Martine, neta do poeta René Chair. Bruno publicou livros de poesia em inglês e francês. Em 1994, lançou no Brasil As Horas de Katharina, e no fim do ano passado mais dois, Os Deuses de Hoje e Os Sapos de Ontem — todos ignorados pela crítica, pelo público e pelos curiosos.
Aos 56 anos, já de volta ao Brasil, Tolentino tem feito força para tornar-se herdeiro do embaixador João Guilherme Merchior, intelectual de boa formação e polemista musculoso. Tem conseguido aparecer. Brigou com os poetas concretos, depois com o que considera máquina de propaganda de Caetano Veloso e sua turma. Em seguida, com os críticos literários e os filósofos, elevando ainda mais o tom numa entrevista publicada por O Globo, duas semanas atrás. Fora do país, Tolentino ensinou em Oxford, Essex e Bristol e trabalhou com o grande poeta inglês W.H. Auden. Conheceu celebridades como Samuel Beckett e Giuseppe Ungaretti. Horrorizado com a possibilidade de ver o filho mais novo crescendo em escolas que ensinam as obras de letristas da MPB ao lado de Machado de Assis, abriu fogo contra o que considera o lado ruim de sua pátria, como explica em sua entrevista a VEJA:
VEJA — Por que tantas brigas ao mesmo tempo?
TOLENTINO — Para ver se o pessoal cai em si e muda de mentalidade. O Brasil é um país vital que está caindo aos pedaços. Não quero sair outra vez da minha terra, mas não posso ficar aqui sem minha família, que está na França. Não posso educar filho em escola daqui.

VEJA — Por que não?
TOLENTINO — Foi minha mulher quem disse não. Educar um filho ao lado de Olavo Bilac, última flor do Lácio inculta e bela, que aconteceu e sobreviveu, ao lado de um violeiro qualquer que ela nem sabe quem é, este Velosô, causou-lhe espanto. A escola que ela procurou para fazer a matrícula tem uma Cartilha Comentada com nomes como Camões, Fernando Pessoa, Drummond, Manuel Bandeira e Caetano. O menino seria levado a acreditar que é tudo a mesma coisa. Ele nasceu em Oxford, viveu na França e poderá morar no Rio de Janeiro. Ele diz que seu cérebro tem três partes. Mas não aceitamos que uma dessas partes seja ocupada pelo show business.

VEJA — Qual o problema?
TOLENTINO — Minha mulher já havia se conformado com os seqüestros e balas perdidas do Rio, mas ficou indignada e espantada pelo fato de se seqüestrar o miolo de uma criança na sala de aula. Se fosse estudar no Liceu Condorcet, em Paris, jamais seria confundido sobre os valores do poeta Paul Valéry e do roqueiro Johnny Hallyday, por exemplo. Uma vez entortado o pepino, não se desentorta mais. Jamais educaria um filho meu numa escola ou universidade brasileira.

VEJA — Não é levar Caetano Veloso a sério demais? Ele não é só um tema de currículo, entre tantos outros?
TOLENTINO — Não. Ele está também virando tese de professores universitários. Tenho aqui um livro, Esse Cara, sobre Caetano, uma espécie de guia para mongolóides, e a mesma editora desse livro me pede para escrever um outro, sob o título Caetano Se Engana. É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o show biz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura.

VEJA — O que você tem contra a música popular?
TOLENTINO — Se fizerem um show com todas as músicas de Noel Rosa, Tom Jobim ou Ary Barroso, eu vou e assisto dez vezes. Mas saio de lá sem achar que passei a tarde numa biblioteca. Não se trata de cultura e muito menos de alta cultura. Gosto da música popular brasileira e também da de outros países, mas a música popular não se confunde com a erudita. Então, como é que letra de música vai se confundir com poesia?

VEJA — O senhor não está ressentido por ele ter assinado um manifesto contra um artigo seu sobre uma tradução do poeta Augusto de Campos? No fundo, parece que o senhor está querendo aparecer à custa deles.
TOLENTINO — Não tenho ressentimento nem ciúme. Nem tenho nada contra quem assina manifesto. Se você vê um amigo seu brigando na rua, o mínimo que pode fazer é ir lá apartar. Foi o que ele fez no caso do Augusto de Campos. Só que assinou um cheque em branco. A princípio, achei que ele tinha entrado de gaiato, e lhe dei o benefício da dúvida, sobre uma questão muito delicada de tradução e de cultura que ele não está capacitado para julgar. Nem ele nem Gal Costa. Que intelectuais são esses? Se os irmãos Campos não sabem inglês, imagine eles.

VEJA — Os poetas e tradutores Augusto e Haroldo de Campos não sabem inglês?
TOLENTINO — Não sabem inglês, nem alemão nem grego. Por exemplo, traduziram Rainer Maria Rilke e criaram a frase "ele tem um pássaro", que é literal, mas que, em alemão, quer dizer que alguém tem uma telha a menos, é meio doido. São péssimos poetas e péssimos escritores. Não sabem absolutamente nada do que alardeiam saber.

VEJA — Por que só o senhor, e não outros críticos, diz essas coisas?
TOLENTINO — Na República das Letras, ainda estamos à espera das diretas-já. A usurpação do poder legal por vinte anos deixou-nos seus legados nas patotas literárias que desde então controlam a entrada em circulação, ou a exclusão pelo silêncio, de livros, autores, obras inteiras. Nas redações dos jornais como nas universidades, prevalece a censura, e o único critério para sancionar uma obra parece ser o bom comportamento do neófito, sua genuflexão aos ícones da hora. Nossa crítica suicidou-se, matando o diálogo, o debate e a polêmica. Mascarados de universitários, esses anõezinhos conseguem dar a impressão de que a inteligência nacional encolheu, de que, em Lilliput, só se sabe da cintura para baixo. Quem já ouviu falar de Alberto Cunha Melo, que vive escondido no Recife, e é nosso maior poeta desde João Cabral? São dele estas palavras: "Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem". Mas José Miguel Wisnik ora é crítico, ora é letrista e compositor, portanto é catedrático. Os violeiros empoleiraram-se nas cátedras, e Fernando Pessoa virou afluente da MPB. Não é à toa que até em Portugal os brasileiros viraram piada. Ouvi uma que provocava gargalhada logo à primeira frase: "Um intelectual brasileiro ia começar a ler Camões quando a banda passou e..." É preciso perguntar dia e noite: por que Chico, Caetano e Benjor no lugar de Bandeira, Adélia Prado e Ferreira Gullar?

VEJA — Por que o senhor acha os críticos brasileiros ruins?
TOLENTINO — O que os críticos disseram sobre meus trinta anos de poesia? Só, desonestamente, que minha poesia é arcaizante e não suficientemente progressista. Que eu, o escritor Diogo Mainardi e — como é mesmo o nome do marido da Fernandinha Torres? — o diretor Gerald Thomas somos figurinhas carimbadas porque somos amigos de gente famosa. Quer dizer, chamam a atenção para a pessoa e não para a obra. E toda pessoa é discutível. Eu sou meio apalhaçado mesmo. A minha biografia é interessante, meio cinematográfica, e assim é como se eu não tivesse escrito nada. Uma espécie de Ibrahim Sued das letras.

VEJA — Mas o que aconteceu com os críticos para que se tornassem tão incapazes, na sua opinião?
TOLENTINO — A crítica brasileira não existe mais. Cometeu um haraquiri muito bem pago. Trocou sua independência por cátedras e verbas. É uma gente venal, vendida, que controla as nomeações para as cátedras, bolsas e verbas. Vão se meter com um maluco como eu? Todos, de Roberto Schwarz a David Arrigucci, foram formados pelo meu primo Antonio Candido, que é um geriatra nato.

VEJA — Caramba... Não sobra nenhum crítico brasileiro?
TOLENTINO — Sobra, evidentemente, Wilson Martins, que não tem lá muito gosto poético, mas enfim...

VEJA — O senhor também não sobra?
TOLENTINO — Em vários sentidos. Não tenho onde escrever. Sou herdeiro, e me considero assim, da combatividade crítica de José Guilherme Merquior. Crescemos e fomos amigos juntos, tínhamos idéias convergentes embora nem sempre coincidentes. Quando ele morreu, em 1991, houve um grande suspiro de alívio entre nossos críticos e poetômanos. Infelizmente, ele era embaixador. Eu não sou embaixador de nada. Essa gente está morta de medo de que eu venha a ter uma tribuna. Não me importa ser celebrado lá fora. Não faço falta lá, há muitos outros como eu. Aqui, com esta independência, cultura, erudição e combatividade, não tem outro que nem eu.

VEJA — Sem embaixada, o senhor vai ser só poeta?
TOLENTINO — Minha obra poética está basicamente terminada. Escrevi poesia por mais de trinta anos e não conheço nenhum outro poeta, além de Manuel Bandeira, que tenha conseguido escrever bem além dessa média. A partir daí, decai. Estou transferindo o meu esforço para o ensaio. Falar, por exemplo, dos males que a ditadura causou ao país me parece cada vez mais um sintoma do que uma causa. É um sintoma do Febeapá, vem no bojo dele. A imbecilidade já crescia. A ditadura simplesmente institucionalizou a falta de respeito pela realidade, pelo próximo, pela legalidade. A verdade foi substituída pela verossimilhança, a literatura, pela imitação da literatura.

VEJA — O senhor poderia dar exemplos disso?
TOLENTINO — Foi Wilson Martins quem levantou essa idéia, ao dizer que as obras de Chico Buarque e Jô Soares eram imitações da literatura. Auden, o Drummond lá dos ingleses, também dizia algo parecido. A gente lia um cara e concluía que ele era muito ruim. Auden discordava, dizendo que ele era muito bom. "Faz a melhor imitação de poesia que já li", dizia. Parecia piada, mas não era.

VEJA — O senhor acha que a imitação é ruim?
TOLENTINO — A imitação da literatura se dá quando se fecha no círculo de ferro na modernidade. Ela obriga o leitor a seguir moda, busca efeito imediato, como se tudo começasse por você, naquele momento. A verdadeira literatura está sempre acuando tudo que a precedeu. Quincas Borba, de Machado, contém toda a novelística russa, e também Balzac. Wilson mostrou com muita acuidade e mordacidade que os romances de Chico são uma reedição do nouveau roman, que já morreu. Agora morreu a última representante dele, Marguerite Duras. Conheci toda aquela gente do nouveau roman, Alain Robbe-Grillet, Michel Butor, e saí correndo. Chato existe em todo lugar, não só no Brasil. Mas Wilson foi injusto com a imitação do Jô. É uma coisa que não pretende ser mais do que aquilo mesmo, divertir.

VEJA — Por que o senhor não vai ensinar o que sabe nas universidades?
TOLENTINO — Só entro numa universidade disfarçado de cachorro ou levado por uma escolta de estudantes. Sou um vira-lata muito barulhento. Não vão me convidar para nada porque eu quero acabar com os empregos e mordomias deles. Quero que eles passem por todos os exames de Oxford para ver se sabem mesmo alguma coisa.

VEJA — Então as universidades não servem para nada?
TOLENTINO — A escola pública desapareceu. A fórmula de sobrevivência do país é a trilogia emprego público, de preferência com aposentadoria acumulada, condomínio fechado e plano de saúde. Esse é o apartheid construído por uma elite analfabeta e totalmente irresponsável que entregou nossa cultura. Nem estou falando da nossa classe média, que tem dinheiro para gastar em boates e shows e sair de lá gargarejando cultura.

VEJA — O senhor tem acompanhado a produção intelectual das universidades brasileiras?
TOLENTINO — O departamento de filosofia da Universidade de São Paulo nunca produziu filosofia nenhuma, não por inépcia ou preguiça, mas por um estranho espírito de renúncia parecido ao espírito de porco. Cultivavam a crença de que só poderia nascer uma filosofia no Brasil "ao término de um infindável aprendizado de técnicas intelectuais criteriosamente importadas", como diz um professor de lá. Mais urgente do que filosofar era macaquear os debates dos "grandes centros" produtores de cultura filosófica. O que significava tomar o padrão europeu do dia como norma de aferição do valor e da importância do pensamento local. Imaginando ou fingindo preservar a mente brasileira de uma independência prematura, o que os maîtres à penser da USP fizeram foi apenas incentivar a prática generalizada do aborto filosófico preventivo. Não espanta que, por quatro décadas, o "rigor" (com aspas) uspiano não produziu outro resultado senão o rigor mortis de uma filosofia que poderia ter sido o que não foi.

VEJA — Mas José Arthur Giannotti escreveu um livro de filosofia, Apresentação do Mundo, que foi muito elogiado...
TOLENTINO — É, ele escreveu um besteirol sobre Ludwig Wittgenstein saudado em suplementos de várias páginas como marco do nascimento da filosofia no Brasil. É uma audácia depois de Mário Ferreira dos Santos, Miguel Reale, Vicente Pereira da Silva e Olavo de Carvalho. Nós temos uma filosofia nativa, isso sem falar da filosofia de cunho religioso, teológico, que eu não vou citar porque sou católico e vão dizer que estou puxando a brasa para a sardinha da Virgem Maria. Passei cinco meses garimpando nas páginas daquele livro e não encontrei nada que não fosse uma leitura do que Wittgenstein acha da dificuldade lingüística de compreender a realidade. Isso a gente já sabe, a partir do próprio Wittgenstein. Uma filosofia nacional não tem nada a ver com isso.

VEJA — Tem a ver com o quê?
TOLENTINO — A cultura filosófica brasileira é quase nula. Nossos professores gastaram décadas lendo Marx, em vez de Husserl. Aqui só dá o tripé Kant, Hegel e Marx. E onde está a grande tradição escolástica que vai de Aristóteles a Husserl? Isso não é lido nem discutido aqui. Mas existe uma filosofia brasileira. Reale e Olavo de Carvalho, que não se formaram em lugar algum, não perderam tempo com essa estupidez. Foram estudar e aprender as tantas línguas que falam. Eu, quando tenho dificuldade com latim, grego ou alemão, é para eles que telefono.

VEJA — O senhor não está exagerando, sendo duro demais?
TOLENTINO — Não. Não passei nenhum dia aborrecido aqui. Sempre encontro gente inteligente. Quando cheguei à Europa, não tive nenhum complexo de inferioridade. É verdade que eu conheci em casa o que o Brasil tinha de melhor. Faço parte do patriciado brasileiro. E não via diferença entre Ungaretti e Manuel Bandeira, só de língua. Era a mesma coisa. Não havia um Terceiro Mundo na minha cabeça. Eu, quando pequeno, conheci Graciliano Ramos e Elisabeth Bishop. Só havia gente dessa categoria.

VEJA — Dá a impressão de que só agora se começou a falar e a escrever besteira no país... TOLENTINO — O besteirol, se havia, estava lá longe, nos cantos. Hoje ele está no centro. Tem razões mercadológicas, de dinheiro. Os artistas devem ganhar muito, muito dinheiro, para ir gastar em Miami. Só não é possível que esses senhores usurpem a posição do intelectual. Eles são um formigueiro com pretensão a Everest.

VEJA — Não é bom para o país ter um intelectual na Presidência da República?
TOLENTINO — Votei no Fernando Henrique Cardoso porque era uma oportunidade única, desde Rui Barbosa, de ter um intelectual no poder. E o que ele fez na sua primeira entrevista coletiva? Citou Machado de Assis ou Euclides da Cunha? Não. Citou o mano Caetano. Uma coisa tão espantosa quanto Rui Barbosa, se tivesse ganho a eleição, citasse Chiquinha Gonzaga. O Brasil que eu conheci, e do qual me recordo vivamente, era um país de grande vivacidade intelectual, mesmo sendo uma província. Não estou sendo duro com o Brasil. Quero saber quem seqüestrou a inteligência brasileira. Quero meu país de volta."

Bruno Tolentino, RIP

Ontem morreu o poeta Bruno Tolentino, aos 66 anos. Tenho que confessar uma coisa: não sei apreciar poesia. Sou um eqüino de orelhas enormes nesse aspecto. Salvo Omar Kayan (sic) e seu Rubayat (sic - meu persa é horrível), onde há um niilismo boêmio da melhor espécie (os xiitas já gostavam de vinho um dia - hoje os bons vivants têm que contrabandear bebida dos armênios em Teerã), sou incapaz de apreciar a sensibilidade de uma boa poesia que não fale sobre decepções amorosas.

Voltemos ao finado Tolentino. Como eu disse, por ignorância assumida e sempre inconormada, (pensava que) não o conhecia, salvo algumas vezes que o Olavo de Carvalho o enaltecia em alguns de seus artigos. Como o Tolentino era poeta (e por pensar que ele estava morto - meus instintos pavlovianos me diziam que os poetas bons já se foram desse mundo), nunca pesquisei muito sobre o assunto até ontem, no dia do seu falecimento. Primeiro, o Reinaldo Azevedo (o fato de tê-lo criticado não significa que não deixo de ler) lançou uma post de pesar, e muito sentido. Pensei: "bom, devia ser amigo dele, paciência". Depois, no site do Olavo de Carvalho, a mesma coisa, onde ele diz que "Tolentino foi o maior poeta da língua portuguesa depois de Camões". Pensei: "O quê!? O Olavo fazendo um elogio desses? Sinal que esse Tolentino deve ser bom mesmo...".

Daí cheguei no meu quarto de hotel (estou em Betim, quase com a carteira assinada). Ponho na Rede Minas (tv pública) e lá aparece uma homenagem ao Tolentino com a reexibição da reportagem dele divulgando o que agora é sua última obra lançada em vida, A Imitação do Amanhecer. Os detalhes essa mente mal-dormida não se lembra, mas fiquei impressionado dele falando que se trata de um épico em sonetos alexandrinos (!) com narração a partir de três pontos de vista (!!!) e que ele sentia uma pena antecipada do leitor já que os poemas poderiam ser lidos de forma linear, separados, ciclicamente, etc. e que ele, que era o autor, não conseguia mais terminar de ler a sua obra (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!). Quando me estabilizar aqui em Betim esse vai ser meu próximo livro depois de Crime e Castigo.

Não, o post não acabou. Agora vem a melhor parte: hoje o Reinaldo Azevedo pôs em seu site uma entrevista que o Tolentino deu para a Veja em 1996. E EU LI ESSA ENTREVISTA NA ÉPOCA!!! Tinha 15 anos, estava no segundo ano e obviamente não tinha idéia de quem era Wittgenstein e outras pessoas mencionadas na entrevista, um burro completo (hoje sou apenas meio burro, já que, espinozamente falando, os conheço por "ouvir dizer"), mas eu já me incomodava que usassem músicas da mpb e do BRock em questão de provas de português. E o Tolentino meteu o dedo na ferida. Foi a primeira vez que tive contato com essa diferença entre "alta cultura" e "baixa cultura". Se hoje eu sou uma pessoa medíocre, mas que sabe qual é o caminho da salvação para sair dessa barafunda (se não saio é por preguiça, defeito intrisecamente meu), é por culpa
de pessoas como o Tolentino. A entrevista na Veja sai no próximo post.

sexta-feira, junho 22, 2007

Brasil, terra do Curupira*

Você descobre quando um país não vai pra frente quando para fazer um mísero aluguel a imobiliária pede: comprovante de uma renda 3x maior do que a do aluguel (até que vai), dois fiadores (já começa a abusar - um fiador já estaria de bom tamanho) e que... SEJAM da região metropolitana em questão. Ah, puta que pariu! Esse país não tem jeito mesmo... :@

quinta-feira, junho 14, 2007

Eu, na muda de pele? Nem tanto... (2)

Há algum tempo atrás eu expus que embora eu não sejá mais aquele universotário esquerdista de antes, ainda não consegui entrar de corpo e alma na dita "direita conservadora". E a direita liberal? Bem, embora politicamente isso até pode ser, economicamente não. Uma coisa é ser liberal politicamente, a outra é sê-lo economicamente.

Mas voltamos ao assunto: no post com o link acima, eu tinha prometido uma réplica ao Reinaldo Azevedo, por algo que não me lembro agora. Mas hoje vai ter. O assunto é sobre a doutrinação marxista gramsciana das apostilas da COC, denunciada por uma integrante da ong www.escolasempartido.org, que denuncia as doutrinações marxistas na educação (ou seja, nunca poderia falar que já participei ordem unida no Colégio Militar onde homenagearam a "Revolução de 64" que serviu para botar ordem nesse país). Em vez da COC relevar o caso e corrigir as apostilas, resolveu fazer a besteira de processar a mulher e proibir que mencionassem o nome da empresa no site (antes do Azevedo falar isso no blog dele eu já sabia dessa informação da página do Olavo de Carvalho). Mas a COC perdeu, como vocês podem ver na* Veja dessa semana.

Ontem, o Luis Nassif, no blog dele, diz que estranhou o enfoque da reportagem, e mencionou que a Abril e a COC são concorrentes no mercado de livros didáticos. Já hoje há uma réplica mainardiana do Azevedo. O artigo vocês podem ver neste link, porque vou fazer só as críticas que me interessam:

(...) "Lá vou eu garantir um pouco de trânsito para Luiz Nassif. Entrei no seu Blog só para ver se o post realmente estava lá. Estava. Ontem, ele recebeu, ao todo, 95 comentários, o que dá conta da sua importância no debate. É o que jogo fora, por hora, de comentários de petralhas. Tal irrelevância foi construída de maneira meticulosa — provavelmente com textos soberbos como o que vai acima: desinformado e inepto". (...)

Uma das maneiras de se ganhar no debate é dizer, em outras palavras, "eu tenho mais gente que me apóia que você". Na forma e no conteúdo o Azevedo está errado. Na forma, porque só porque ele tem mais page viewers que o Nassif não significa que a posição deste esteja errada. No conteúdo, porque só porque o Nassif tem menos ibope não significa que ele esteja errado A título de exemplo, cito o mesmo Azevedo falando que não se importava em ser minoria por causa da reeleição do Lula, mencionando sempre a ética do Cavaleiro Negro do 'Em Busca do Cálice Sagrado, do Monty Python' (filme que lamentavelmente nunca vi todo, acho que nem cheguei aos Cavaleiros que Dizem Ni).

(...) Nassif, obviamente, ignora todos esses aspectos e prefere inventar uma história: * VEJA teria feito a reportagem a serviço de uma disputa comercial, que, de resto, é só uma fantasia de seus delírios conspiratórios. Não age por acaso. Ao pôr aquele texto sob suspeição, pretende fazer o mesmo com todas as matérias da revista. (...)

Não vivem dizendo que a imprensa é o Quarto Poder? Oras, então também deve ter o código de ética da 'mulher de César', ou, na versão jornalística, o muro entre o dpto. jornalístico e o dpto. comercial! Se é público e notório que a Ed. Abril trabalha com livros didáticos então isso deve ser posto em contexto, senão a reportagem tem tanta credibilidade quanto um processo penal correto no mérito mas que derrapa nos trâmites processuais.

A síntese da crítica do Azevedo é dizer que o Nassif discorda das críticas à apostila da COC, e tenta desqualificar as alegações dele falando que: 1) ele é irrelevante à discussão, já que tem poucos leitores; 2) como ele refuta as críticas ao conteúdo das apostilas do COC, TODO o seu argumento é inválido; 3) a partir disso, setencia que o Nassif está inventando que TODA a acusação do COC não passa de uma conspiração da Abril pra detonar aquela companhia; 4) desqualifica o adversário fazendo uma acusação fora do âmbito do assunto, mencionando dois ataques do Mainardi ao Nassif. Mas EM NENHUM MOMENTO (ao menos até o horário dessa postagem) o Azevedo fala que a Ed. Abril tem editoras de livros pedagógicos, e que a omissão disso na reportagem é motivos sim para que o viés dela seja posto em dúvida (por mais que no mérito tenha razão).

Tenho que ler urgentemente o "A Arte de ter Razão" do Schopenhauer. O Olavo vive recomendando... As refutações acima eu aprendi a discernir a partir do pouquíssimo que aprendi no livro.

*Uma recomendação do Schopenhauer, a de desqualificar o adversário, pode ser feita também acusando erros gramaticais, o que é um outro tipo de ataque à forma do argumento. O Mainardi e o Azevedo adoram usar essa tática. Por isso eu vou usar também: Qual é a dificuldade de colocar um bendito ARTIGO DEFINIDO antes de 'Veja'? Até entendo que o Azevedo escreva o nome da revista em caixa alta, já que trabalha lá. Mas a omissão do artigo, corroborado com um "EM VEJA" em vez de um "na VEJA" no último parágrafo do segundo artigo do Mainardi é de um anglicismo nojento. Parece um trabalho mal-feito de tradutor! :|

terça-feira, junho 12, 2007

DF 2014 redux (ou: meu lado Sim City)

Já vendo como será o esquema dos VLTs em Brasília, acredito que até 2020, quando eu completar quarenta anos, o mapa do sistema público de transporte no DF será mais ou menos desse jeito:


Não tive saco para descrever todas as estações (só as finais e as com baldeação), mas, no papel, serão todas essas. Vamos á descrição delas:

Linhas verde e vermelha: são as do metrô, que já funciona atualmente. Até 2014 espero que TODAS as estações estejam funcionando.

Linha preta: VLT da esplanada. Até 2014 terá que estar funcionando, já que será a ligação para o Mané Garrincha (segunda estação acima das baldeações com a linha azul). Os dois trajetos estão separados porque as estações estão separadas 200 metros uma da outra. Sabe-se lá porque cargas d'água a linha preta não irá até a rodoferroviária. Os gringos também vão chegar de ônibus para verem os jogos, não? Bem, a não ser que a tal da nova rodoferroviária seja inaugurada até lá. Pessoalmente eu duvido, mas enfim.

Linha azul: ligará o Aeroporto até o fim da Asa Norte. Como fizeram a besteira de não levar o metrô até lá, vai de VLT mesmo. Num futuro bastante distante, é capaz do Terminal Norte ser a ligação de outro VLT que dê acesso a Sobradinho e Planaltina, além dos condomínios. Essa linha azul será a tal que revitalizará a W3. Aguardemos. O certo é que o VLT até o Aeroporto servirá para consolida-lo como área de lazer. Graças as taxas de embarque mais caras do mundo, o aeroporto daqui tem até cinema!

Linha rosa: ligará o Gama e Santa Maria até o terminal da Asa Sul. Aquela estação onde as linhas se bifurcam (sic?) é a do Catetinho, que deixará de ser acessível somente por carro. As duas estações antes do Terminal Asa Sul servirão tanto ao Núcleo Bandeirante quanto à Candangolândia. Poderia ter botado apenas uma, mas pensei no acúmulo de pessoas nas paradas. Além disso, como as linhas do CLT serão no centro da pista, ali já existem duas passarelas, que poderiam servir como acesso às estações.

Agora, como diria aquele piloto do jumbo português de 2700 lugares, 15 andares e piscina olímpica: "Vamos cruzar os dedos e torcer para que essa merda funcione".

sábado, junho 09, 2007

Tipinhos lombrosianos 01 - a "maria-político"

Esse tipo é bastante fértil (com e sem trocadilhos) em paragens onde o poder é o que conta. Em cidades de interior, por exemplo, os vereadores/prefeitos preferem é ir pra zona ou para "pescarias" para praticar o bom esporte bretão (que não é o futebol). Nas capitais dos estados a coisa já começa a esquentar, embora os deputados estaduais ainda prefiram ir para whiskerias, scotch bares. Já Brasília, a capital quase cinqüentenária o pau come solto. com e sem trocadilhos. Sabe como é, os políticos e barnabés passam os dias da semana aqui e só têm de dar satisfação para as patroas no fim de semana (no calendário executivo, no fim de semana normal, no calendário legislativo, de sexta até segunda).

Daí a solidão aperta e a coisa desanda. Ou eles se engraçam com as estagiárias (caso do José Carlos Alves do Santos, o pivô da CPI do Orçamento no distante 1993, que tinha caso com uma estudante de direito do então Ceub, até que ela engravidou, a mulher dele, a Ana Elisabeth Lofrano dos Santos, descobriu e ele resolveu por bem matá-la), ou com putas (vide a "Casa da Molly" que virou a mansão do Lago Sul a qual o Palocci era habitué e eventual BOP - baba-ovo de puta), ou então com jornalistas. Até então o exemplo mais famoso era o do FHC com a Mirian Dutra, que gerou um filho e fez com que ela tornasse "correspondente da Globo em Barcelona" - dia desses o filho dos dois reagiu a um assalto e levou uma facada, mas felizmente nada grave). Mas agora surgiu o caso do Renan Calheiros com a Mônica Veloso, uma ex-global (que também teve caso com o Luiz Eduardo Magalhães, segundo consta).

Mas vamos à análise lombrosiana. Primeiro, aqui vai um video do youtube da época que ela apresentava o DF-TV . O ano é 1993. Não prestem atenção ao patrocínio da Fundação Luis Estevão, isso era um factóide movido a leite de soja que serviu para iniciar a carreira política dele (nunca com o meu voto). Nem na Délis Ortiz (já pegava boas pautas na época, por isso foi merecidamente promovida ao JN e ao JH) e o pobre menininho colombiano que não sei que fim levou. Ou ainda na farra da festa dos aprovados na UnB (desconfio que o video sobreviveu até hoje por causa dessa reportagem). Reparem na Mônica, então âncora do DF-Tv. Noves fora as olheiras, ela possui uma beleza ibérica estonteante, que dá pra notar mesmo com o tailleur pesado - reminiscências dos anos 80...

Agora reparem na foto que está na Veja dessa semana (a que está nesse post - sou um imbecil pra usar html, não reparem). Segundo a revista, ela está com 38 anos! Marca de biquini que tem jeito de ser de bronzeamento artificial uma beleza muito mais pra balzaquiana que pra quarentona (botox?), uma magreza que parece ser genética... É uma mulher que se preocupa com a aparência, com certeza.


















Mas meu instinto é que ela armou a gravidez (aos 34/35). Deve ter batido aquele chamado materno e ela deve ter armado pro Renan sim. Ela armou e se deu (muito) bem. Claro que isso não absolve o Renan, o Talleyrand brasileiro, que foi extremamente burro em não se cuidar. Vasectomia é barata, e o plano de saúde do Senado (um dos 1.000.000 de atrativos para se trabalhar lá) é uma maravilha. Tivesse feito isso a provável vitma seria outra pessoa.

terça-feira, junho 05, 2007

Os EUA, esses "imperialistas"...

Eles não são o que são porque exploram o Terceiro Mundo. Eles são o que são porque lá as leis são obedecidas, não importando quem seja

segunda-feira, junho 04, 2007

Venezuela e Mercosul

Em 2005, apesar de não gostar do Chavez, postei aqui uma defesa contra a postura dos EUA e uma reportagem da Veja, a revista que desinforma e solta tinta. Enfim, até então o presidente venezuelano estava se movendo nos limites da democracia frágil de lá. Reitero o que disse então: a imprensa pediu a cabeça em 2002, e nada mais natural do que ter um payback. Mas em nenhum momento eu sequer cogitei da hipótese dele ter o direito de fechar uma emissora (e no meu ódio perante a Veja -que depois de sair do módulo impeachment do Lula está uma revista bastante razoável - eu nunca quis que o governo fechasse ela, mas sim que ela fechasse por falir mesmo - lutando a boa luta, já diria São Paulo).

Enfim, o Chavez poderia ter "punido" a RCTV por 1001 outras maneiras que não o fechamento puro e simples. Sim, ele diz que pelas leis venezuelanas ele poderia ter feito isso, e eu até acredito. Mas como diria Hobbes em Do Cidadão (livro muito mais acessível e claro que Leviatã), não é porque o soberano/leviatã pode fazer tudo que ele deva fazer tudo.

A Venezuela irá entrar no MERCOSUL, onde vigora a cláusula democrática, tal como na OEA (queria saber como que esta se comportou nos anos de chumbo na América Latina...). Se virar ditadura, tá fora do grupo. Isso é que faz o Paraguai ser democrático, apesar dos inúmeros perrengues que já teve (veremos se o tal do Lago, o jesuíta louco, será eleito - oxalá somente depois de 2010, senão o Lula é capaz de entregar Itaipú de bandeja pra eles), foi isso que salvou a Argentina de desandar em 2001/2002.

Como que os gloriosos membros do MERCOSUL se comportarão quando a Venezuela entrar oficialmente no bloco? A Venezuela é um regime 100% democrático? Qual é a fronteira entre democracia e ditadura que será considerada pelo grupo? Se por um acaso a OEA expulsar a Venezuela por ela não ser mais democrática, o MERCOSUL vai fazer imediatamente o mesmo? Ou vamos alegar que foi lobby do "imperiaismo americano" que seduziu o Chile, o Peru, a Colômbia, o Panamá, a Costa Rica, El Salvador, Guiana, etc?

Possivel mapa do transporte no DF na Copa 2014














Bom, isso é mais ou menos o que o Arruda pensa em fazer por aqui para 2014. A linha vermelha é a do metrô, que já existe (bem, apenas as estações Central, a Galeria e a 114 estão funcionando - a 108 parece que vai ficar pronta no ano que vem). A linha cinza é a do VLT que ligará o Aeroporto até o Terminal Asa Sul, e a que passará pela W3 Sul, pois é uma linha só, ora bolas! Essa linha será muito útil para o povo aqui em casa (enquanto vivermos aqui), já que não precisaremos mais ir de carro até o Aeroporto. Você de vora perguntaria o porquê das estações do VLT serem ímpares. O motivo é simples: as entrequadras na W3 são diferentes que nas do Eixão. Uma estação 514 na W3 daria a entender um desavisado que bastaria andar em linha reta perpendicularmente à pista para chegar na Estação 114 Sul, o que não é verdade. Para quem quer saber, a distãncia entre as paralelas w3 Sul e o Eixão são de aproximadamente 700m. A parada SCS seria de frente ao Pátio Brasil, na futura praça, e a W3 Sul/Norte seria a "estação final" (pois acho que a linha pode ser extendida até o fim da W3 Norte) da linha cinza.

A linha azul começaria na altura do Itamaraty (por razões estratégicas não daria para ir ao Congresso, imagino eu) e iria até a Rodoferroviária. Se o Arruda não fizer isso ele é um imbecil, já que as pessoas também chegarão pela Rodoferroviária - que ESPERO que seja reconstruída tal qual o Mané Garrincha. Talvez haja uma birfucação para o SIG a partir da Praça do Buriti, e dali bem que poderiam fazer uma linha que passasse pelo Sudoeste (e já planejassem algo para o futuro Noroeste). Mas ainda acho bastante problemático um trem de superfície cortando a Esplanada...

Sobre o VLT em Brasília

Eu oficialmente sou contra a Copa de 2014 no Brasil. Vejam o que acontece no Rio de Janeiro com os Jogos Panamericanos, com superfaturamento de 500% nas obras (de U$500 mi estão custando U$ 2 bi). Ceterus paribis (sic) a Copa nos irá custar U$ 10 bi - caso o mundo não acabe antes de acordo com o calendário maia. Enfim, somos candidatos únicos e é batata que a FIFA vai escolher o Brasil. Se dez cidades forem escolhidas com sede, o meu palpite é de que as premiadas serão (por ordem de baixo para cima): Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília, Salvador e Belém/Manaus/Recife. Vamos falar pela parte que me toca.

O 'glorioso' Gov. Arruda (a quem elogio por não estar fazendo farra na publicidade, só fazendo campanhas institucionais - deviam olhar isso com mais carinho) apresentou o plano para que Brasília sedie jogos da Copa. Como a cidade é planejada, não é violenta e tem uma infra-estrutura hoteleira bastante razoável (menos para quem faz mochilagem), não será preciso muitas intervenções, "apenas" na reforma do Mané Garrincha (tá mais pra - muito merecida - reconstrução) e para a instalação de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT - um metrô de superfície, praticamente). O projeto pro Mané Garrincha está muito bonito, como todas os projetos virtualmente o são. Meu único receio é que vire um elefante branco que seja só usado pro campeonato candango e jogos da segundona e terceirona, praticamente. Oxalá dêem um jeito para que façam com que o espaço seja aproveitado para eventos, como comícios, shows do Calypso, etc - e também para que o inevitável superfaturamento da obra seja "perdoável".

Vamos à questão do VLT. O Arruda pretende fazer três linhas, basicamente. Uma ligaria o Aeroporto ao terminal da Asa Sul do metrô (a.k.a. "primeira estação inútil"). O ideal seria que se extendesse até a Rodoferroviária, passando pelo SIA, Octogonal, Cruzeiros Novo e Velho, mas isso seria para um futuro distante. Acho até plausível que consigam fazer esse trajeto até 2012, já que o tráfego no trânsito local não é muito congestionado, e não há nenhum prédio por perto - só um afluente do Lago Paranoá, mas basta fazerem uma ponte pro VLT.

O foda vai ser o segundo. Segundo o ComuniWEB, do grupo Comunidade (cujos jornais nem para limpar o cu servem) a linha servirá para revitalizar a W3, e irá do Terminal Asa Sul até o início da W3 Norte. Vai custar "R$ 500 milhões" (o que é um preço-fantasia, já que as obras vão atrasar, vão fazer contrato de emergência sem licitação, os preços dos insumos irão aumentar, etc. Acho até que essa obra revitaizaria a W3, mas há um probleminha: Brasília é Patrimônio da Humanidade. Será que o povo do IPHAN vai aceita-la? Aposto atraso nas obras por causa disso.

Outra parte polêmica: "O projeto prevê a construção de um túnel ligando as W3 Sul e Norte, possibilitando que a superfície seja ocupada pela praça exclusiva para pedestre e que poderá abrigar bares, restaurantes e espaços para apresentações culturais." Acho uma ótima idéia colocar uma praça por ali. Vai virar tipo a nossa versão do Anhangabaú. Mas se fizerem isso na Asa Sul vão ter que fazer o mesmo na Asa Norte, porque senão vai gerar uma assimetria entre as Asas (olha o IPHAN de novo aí!). E aí, como que vai ser? Vão construir um Vale W3 com uma praça horizontal que vai do Pátio Brasil até o Brasília Shopping?. Sem contar o transtorno do povo que costuma usar a W3

Finalmente a terceira parte, que vai ligar a Rodoviária à Esplanada e que irá até o Palácio do Buriti, passando pelo Mané Garrincha e servindo também ao SIG. Deixa ver se eu entendi: vão construir um VLT que vai passar POR CIMA DA ESPLANADA!? Eu gostaria muito de ver um infográfico mostrando quais serão as rotas, porque duvido muito que o IPHAN deixe fazerem isso (por mais que eu concorde com a importância - devem passar umas 100 mil pessoas por dia na Esplanada em um dia sem protestos).

Minha opinião final é: acho introdução do VLT muito positiva em Brasília, principalmente porque permitirá o povão fazer baldeações tanto no Terminal da Asa Sul - que deixará de ser inútil - na Rodoviária/Estação Central e na W3. Mas tenho certeza que haverá uma grita do IPHAN e de um monte de gente daqui que achará que o projeto do Plano Piloto será desvirtuado.

Obs: Mais uma vez a Asa Norte não foi contemplada com nenhum projeto de metrô/VLT o escambau. Os 500 mil que vivem pras bandas de lá (Asa Norte, Condomínios, Sobradinho e Planaltina) se deram mal de novo :(

PS: Vou montar um esquema no paint do que seria um sistema de transporte público integrado.