terça-feira, setembro 25, 2018

Nota sobre as eleições (13) - Ibope Sul/Sudeste/Centro-Oeste - e uma discrepância seríssima.

Sem mais delongas, vamos ao x da questão:
No Rio Grande do Sul, a última pesquisa é de 21 de setembro. Nela, aparece os seguintes resultados:

Bolsonaro 35%
Haddad 18%
Branco/Nulo 12%
NS/NR 9%
Alckmin 7%
Ciro 7%
Marina 5%
Outros: ???

Segundo Turno 2014:
Aécio 53,53%
Dilma 46,47%
Brancos/Nulos 4,99%
Abstenção 18,19%

Meu palpite é que o Bolsonaro tem potencial para aumentar essa diferença. Até agora ele + Alckmin dão 42% e o Haddad + Ciro + Marina, 30%

Em Santa Catarina, a última pesquisa também é de 21 de setembro:

Bolsonaro 40%
Haddad 12%
Branco/Nulo 11%
NS/NR 9%
Alckmin 6%
Ciro 6%
Marina 5%
Outros ???

Segundo Turno 2014
Aécio 64,59%
Dilma 35,41%
Brancos/Nulos 4,16%
Abstenções 17,86%

Tá feia a coisa para o Haddad nesses dois estados. Sobra o Paraná, onde o Ibope não fez pesquisa específica.

Mas aí hoje o Ibope disse que o Bolsonaro PERDEU 8% entre a última pesquisa (18 de setembro) e ontem (24 de setembro) - sendo que o Ciro chamou os sulistas literalmente de nazistas e GANHOU dois pontos! Isso significaria dizer que: 1) a tendência de alta do Bolsonaro no Sul foi contida; 2) não só a alta foi contida mas houve uma queda drástica na mesma medida; ou 3) ou não houve nada disso e o Haddad conseguiu virar no Paraná, que foi apenas um pouco menos anti-petista que Santa Catarina nas últimas eleições. Vocês sinceramente acreditam nisso?

Continuemos, e agora vamos para o Sudeste. Direto para a fatia mais cobiçada;
São Paulo
Bolsonaro 30%
Alckmin 13%
Haddad 13%
Branco/nulo 12%
Ciro 8%
NS/NR 8%
Marina 6%

Segundo Turno 2014
Aécio 64,31%
Dilma 36,69%
Branco/nulo 6,44%
Abstenções 20,51%

O Bolsonaro tem potencial para manter esse patamar - isso se não for atrapalhado pela melhor linha auxiliar que o PT jamais sonhou em ter: Geraldo Alckmin. Porque entende-se que o Alckmin tenha concentrado seus ataques ao Bolsonaro enquanto a candidatura do PT ainda não tinha se definido, mas uma vez que o Haddad foi "promovido", o que fez o picolé de chuchu? MANTEVE OS ATAQUES CONCENTRADOS NO BOLSONARO!!! Quando muito seus ataques ao PT se resumem a um "não votem no Bolsonaro, pois senão o PT ganha [e o PT é mau, ok?]" Não só está levando um merecido nabo em São Paulo, arriscando-se até a ficar em TERCEIRO caso o Haddad o supere por lá, como pode inclusive ser prejudicial para a campanha do Dória, pois a possibilidade dos bolsonaristas votarem no Skaf só de birra não pode ser desconsiderada.

Agora, a fatia mais importante:
Minas Gerais
Bolsonaro 29%
Haddad 16%
Branco/nulo 12%
Ciro 11%
NS/NR 9%
Alckmin 7%
Marina 6%

Segundo Turno 2014
Dilma: 52,41%
Aécio 47,59%
Branco/Nulo 5,03%
Abstenções 21,17%

O Aécio essencialmente perdeu as eleições em Minas, já disse isso várias vezes. O problema é que aqui a situação ainda continua MUITO apertada (Bolsonaro + Alckmin = 37% Haddad + Ciro + Marina = 33%). Pode ser que com o Fernando Pimentel perdendo para o Anastasia possa fazer com que o Bolsonaro finalmente vire o jogo em Minas (o que não acontece desde 2002). No entanto, temos que levar em conta que Minas terá a proeza de eleger Dilma Rousseff para o Senado (obrigado, Lewandovski e Renan Calheiros!)

Finalmente, a fatia mais surpreendente
Rio de Janeiro
Bolsonaro 37%
Branco/Nulo 14%
Haddad 11%
Ciro 10%
Marina 8%
NS/NR 8%
Alckmin 6%

Segundo Turno 2014
Dilma 54,94%
Aécio 45,06%
Brancos/nulos 13,29%
Abstenções 22,36%

Chama a atenção o altíssimo índice de brancos/nulos que o Rio teve em 2014. Dito isso, a soma do Haddad + Marina + Ciro + indecisos dá o percentual que somente o Bolsonaro tem agora! Indiscutivelmente o Rio não está mais na esfera de influência do PT. Ajudou muito para isso a divisão maciça da esquerda local - notadamente a Caviar, que se dividiu entre a Marina, o Ciro e o Boulos. Não se surpreendam caso uns 15% ou 20% desses resolvam anular no segundo turno...

Vou ficar devendo Espírito Santo. Vamos à região mais desimportante de todas: Centro-Oeste. No entanto, focarei no único estado que importa:

Goiás
Bolsonaro 35%
Haddad 15%
Branco/Nulo 10%
Ciro 9%
NS/NR 8%
Marina 6%
Alckmin 6%
Meirelles 6%

Segundo Turno 2014
Aécio 57,11%
Dilma 42,89%
Brancos/Nulos 6,29%
Abstenções 21,53%

Aqui temos os eleitores do Meirelles! Partindo do ponto que eles são mais propensos a eleger o Bolsonaro que o Haddad, acredito que o Bolsonaro, ao que tudo indica, aumentará esse percentual.

E lembrando uma coisa: a abstenção geral de 2014 foi em 19,4%, ocasionada sobretudo pelo enforcamento com Finados (mais o Dia do Servidor Público em algumas localidades). Nesse ano as eleições ocorrerão no Dia do Servidor Público (28) e Finados cairá na distante sexta-feira seguinte. Assim, a abstenção será menor.

A Dilma ganhou do Aécio por 3,5 milhões de votos. Dá para tirar a diferença? Dá  (sobretudo se o Alckmin parar de fazer merda), principalmente ao se confirmar a virada no Amazonas, Pará e Rio. Além disso, em tese o Bolsonaro terá a mão direita em Minas, com o Anastasia favorito para ganhar do Pimentel.




segunda-feira, setembro 24, 2018

Notas sobre as eleições (12) - E agora, os estados (Norte e Nordeste)

Na prévia da pesquisa presidencial do Ibope, eles soltaram várias estatísticas estaduais. Vamos a elas (mais o resultado eleitoral no segundo turno de 2014 para uma contextualizada). Ah: um pormenor importante: ao contrário de 2014, não vai dar para enforcar Finados (mais o dia do servidor em algumas localidades) esse ano.

Região Norte:

Tocantins:
Bolsonaro 32%
Haddad 27%
Ciro 11%
Branco/nulo 5%
Marina 5%
Alckmin 5%

2º turno 2014
Dilma 59,49%
Aécio 40,51%
Brancos/nulos 3,93%
Abstenções 24,73%

O Tocantins é um lugar onde o Haddad tem potencial para virar. Para facilitar o raciocínio, somem todos os votos do Alckmin+Meirelles+Álvaro Dias+Amoedo ao Bolsonaro e todos aos do Ciro/Marina/Boulos para o Haddad - Daciolo e outros eu definitivamente não considero. Grosso modo é isso que acontecerá.

Acre:
Bolsonaro 53%
Marina 11%
Alckmin 8%
Ciro 8%
Haddad 7%
Brancos/nulos 5%
Meirelles 2%
Daciolo 1% (sic)
Segundo turno 2014:
Aécio 63,68%
Dilma 36,32%

Brancos/nulos - 2,09%
Abstenções 22,18%

Chama a atenção a queda da Marina. Em 2014 os eleitores dela votaram maciçamente no Aécio (a uma taxa de 13:3. Nessa os eleitores já fizeram isso no primeiro turno... Esperem uma proporção ainda maior de vitória do Bolsonaro.

Amapá:
Bolsonaro 28%
Haddad 17%
Marina 14%
Ciro 13%
Alckmin 8%
Brancos/Nulos 8%
NS/NR - 4%
Meirelles 3%
Amoêdo 2%
Álvaro dias 1%
Boulos 1%

Segundo Turno 2014:
Dilma 61,45%
Aécio 38,55
Brancos/Nulos 4,89%
Abstenções 14,53%

Aqui é outro local onde o Haddad também pode virar o jogo no segundo turno. Mas não aparenta ser uma diferença 60-40 não...

Rondônia
Bolsonaro 35%
Haddad 15%
Brancos/nulos 11%
NS/NR 9%
Ciro 6%
Marina 6%
Alckmin 6%
Álvaro Dias 3%
Meirelles 2%
Amoêdo 2%
Daciolo 1% (sic)
Eymael 1% (sci-fi)


Segundo turno 2014:
Aécio 54,85%
Dilma 45,15%
Brancos/nulos 5,37%
Abstenções 24,35%

O Bolsonaro ganha aqui também, e está tudo relativamente proporcional a 2014. No entanto, a parcela Brancos/nulos/NS/NR ainda está perigosamente alta...

Roraima 
Bolsonaro 52%
Gomes 9%
Haddad 8%
Marina 7%
Branco/nulo 7%
NS/NR 6%
Alckmin5%
Daciolo 2% (sic)
Meirelles 2%
Álvaro Dias 1%
Boulos 1%

NS/NR 6%

Segundo Turno 2-14:
Aécio 54,85%
Dilma 45,15%
Brancos/Nulos 5,37%
Abstenções 16,43%

Aqui a crise dos refugiados venezuelanos se faz valer. O Bolsonaro terá um eleitorado MUITO superior ao do Aécio em 2014, e potencialmente já no primeiro turno.

Até agora falamos dos estados pequenos do Norte. Vamos aos filés: 

Amazonas (2/3 do eleitorado de todos os estados acima somados):
Bolsonaro 33%
Haddad 17%
Ciro 12%
Marina 10%
Branco/Nulo 10%
Alckmin 5%
NS/NR 5%
Meirelles 4%
Álvaro Dias 2%
Boulos 1%
Amoêdo 1%

Segundo Turno 2014:
Dilma 65,02%
Aécio 34,98%
Brancos/Nulos 7,75%
Abstenções 22,62%

Aqui definitivamente houve uma virada à direita. Mesmo se o Haddad ganhe, definitivamente não será 65-35, já que o Bolsonaro JÁ ESTÁ PRATICAMENTE COM ESSES 35 NO PRIMEIRO TURNO!

Pará (quase a soma dos estados anteriores):
Bolsonaro 26%
Ciro 16%
Haddad 14%
Alckmin 12%
Marina 10%
Branco/nulo 10%
NS/NR 7%
Meirelles 3%
Álvaro Dias 1%
Amoêdo 1%
João Goulart Filho 1% (sic)

Segundo Turno 2014
Dilma 57,41%
Aécio 42,59%
Brancos/Nulos 5,51%
Abstenções 25,22%

O número de Brancos/Nulos/NS/NR ainda está muito alto, mas mantendo tudo do jeito que está, está pintando uma virada aqui. E lembrando que o partido do Bolsonaro mantém uma "aliança profana" com o PMDB dos Barbalho, que, ao que tudo indica, ganharão no primeiro turno (governo e senado). Confirmando a vitória do Bolsonaro por lá eles tenderão a apoiá-lo, e esse apoio pode fazer a diferença.

Agora vamos à terra arrasada chamada Nordeste. Será que ela está definitivamente arrasada?

Alagoas
Haddad 28%
Bolsonaro 22%
Branco/Nulo 11%
NS/NR 10%
Gomes 8%
Marina 7%
Alckmin 7%
Meirelles 2%
Álvaro Dias 1%
Daciolo 1% (sic)
Eymael 1% (sci-fi)
Boulos 1%
Amoêdo 1%
Vera Lúcia 1% (MUITO sic)

Segundo Turno 2014
Dilma 62,12%
Aécio 37,88%
Brancos/Nulos 5,51%
Abstenções 19,63%

Um percentual ainda altíssimo de brancos/nulos/NS/NR. Mas provavelmente o Haddad leva. Ainda mais com os Calheiros ganhando o governo e o senado. Não tem jeito: Alagoas é o CÃNCER do Brasil.

Bahia
Haddad 33%
Branco/Nulo 17%
Bolsonaro 14%
NS/NR 12%
Ciro 9%
Marina 6%
Alckmin 6%
Álvaro Dias 1%
Henrique Meirelles 1%
Amoêdo 1%

Segundo Turno 2014
Dilma 70,16%
Aécio 29,84%
Branco/nulo 5,79 
Abstenções 24,81%

O Haddad ganha aqui tranquilo (a Bahia está dominada), mas o que chama a atenção são os quase 30% de Branco/Nulo/NS/NR a essa altura do campeonato! Não dá para afirmar nada aqui.

Ceará (ainda não houve pesquisas :( )

Maranhão 
Haddad 36%
Bolsonaro 18%
Ciro 13%
NS/NR 10%
Branco/Nulo 8%
Marina 6%
Alckmin 5%
Álvaro Dias 1%
Meirelles 1%
Vera Lúcia (sic) 1%
João Goulart Filho (sci-fi) 1%

Segundo Turno 2014
Dilma 78,76%
Aécio 21,24%
Brancos/Nulos 3,74%
Abstenções 27,37%

Eis aqui uma boa notícia para o Bolsonaro: ele tem potencial para perder "apenas" de 75-25! Isso é melhor que o Aécio, gente!

Paraíba
Haddad 26%
Bolsonaro 19%
Ciro 16%
Branco/Nulo 15%
Marina 7%
NS/NR 7%
Alckmin 5%
Álvaro Dias 1%
Daciolo 1% (sic)
Eymael 1% (sci-fi)
Meirelles 1%
Amoêdo 1%

Segundo Turno 2014
Dilma 64,26%
Aécio 35,74%
Brancos/Nulos 7,56%
Abstenções 17,99%

Aqui acho que essa proporção se repetirá...

Pernambuco
Haddad 24%
Bolsonaro 17%
Branco/Nulo 16%
Ciro 13%
Marina 9%
NS/NR 8%
Alckmin 7%
Amoêdo 2%
Álvaro Dias 1%
Boulos 1%
Meirelles 1%
Vera Lúcia 1% (sic)
João Goulart Filho 1% (sci-fi)

Segundo turno 2014
Dilma 70,20%
Aécio 29,80%
Brancos/nulos 7,54%
Abstenções 17,99% (os dados na Wikipédia estão repetidos, ignorem)

Os números do Nordeste de brancos/nulos abstenções ainda estão muito altos... Mas salvo pelo Maranhão não vejo nenhuma grande mudança no cenário do NE. Realmente está pintando cenário de terra arrasada aqui.

Rio Grande do Norte
Haddad 29%
Bolsonaro 22%
Ciro 18%
Branco/Nulo 11%
NS/NR 5%
Alckmin 5%
Marina 4%
Meirelles 2%
Daciolo 1% (sic)
Amoêdo 1%

Segundo Turno 2014
Dilma 69,96%
Aécio 30,04
Branco/nulo 10,35%
Abstenções 17,66%

Um estado onde os Brancos/Nulos/NS/NR estão bem abaixo da média... Não vejo uma alteração dramática no quadro aqui.

Sergipe
Haddad 33%
Branco/Nulo 18%
Bolsonaro 16%
NS/NR 8%
Ciro 7%
Marina 6%
Alckmin 5%
Vera Lúcia 2% (mas nem a pau isso!)
Álvaro Dias 1%
Daciolo 1% (sic)
Boulos 1%
Meirelles 1%
Amoêdo 1%

Segundo Turno 2014
Dilma 67,01%
Aécio 32,99%
Brancos/Nulos 5,74%
Abstenções 15,91%

Outro percentual bastante alto de Brancos/Nulos/NS/NR. Mas essa história do PSTU ter 2% me faz desconfiar seriamente dessa pesquisa em SE.

Confirmado: o Nordeste é terra arrasada. Mas o cenário no Maranhão me faz desconfiar que a destruição ocorrerá num patamar menor.

quarta-feira, setembro 19, 2018

Notas sobre as eleições federais 2014 (11) - Lula fora, Haddad dentro (ou: pesquisas paralelas)

Com a pesquisa do Ibope de ontem o eleitorado passou a mensagem de que: 1) FINALMENTE entendeu que o Lula não concorrerá (por mais que o PT continue usando desavergonhadamente as imagem, voz e gravações do Lula; e 2) que o Haddad é o sucessor do Lula. Resultado? O Haddad disparou e se isolou na segunda colocação. Onde que ele ganhou terreno? Claramente entre os eleitores da Classe E (renda de até um salário mínimo, onde o Haddad subiu 17%) e no Nordeste, onde ele subiu 18%. No entanto, deve se notar que o Bolsonaro oscilou para baixo dentro da margem de erro entre os primeiros e subiu ACIMA da margem de erro no NE, estando agora com 16%.

Mas qual é o limite do crescimento do Haddad? A solução é se lembrar de como é que a situação estava em 2014. Na pesquisa Ibope mais próxima desse período, feita entre 13 e 15 de setembro e divulgada no dia 17, a Dilma estava liderando isoladíssima no Nordeste com 48%, a Marina estava com 29% e o Aécio 9%. Anteriormente eu disse que o Ibope errou feio com o Aécio, e isso aconteceu também no Nordeste, onde o Aécio teve 15,38% dos votos válidos. Mas também errou com a Marina, dessa vez pra cima, uma vez que ela teve na verdade apenas 22,76% dos votos válidos. No segundo turno, por sua vez, a Dilma bateu o Aécio na região por 69,78% a 27,56%.

Outro ponto a se notar foi a distribuição dos votos da Marina. Considerando que ela era herdeira de Eduardo Campos, ela ganhou no primeiro turno em Pernambuco com 2.310.700 votos, contra 2.126.491 da Dilma e 284.771 do Aécio. No segundo turno a Dilma conseguiu 3.438.165 votos e o Aécio, 1.459.229. Grosso modo, o Aécio pegou 1,2 milhão de votos da Marina mais ex-brancos e ex-nulos e a Dilma, 1,3 milhão. Peguei Pernambuco por ser um estado importante, mas duas coisas devem ser salientadas:

1) O Bolsonaro pegará menos votos das viúvas do Ciro/Marina que o Aécio pegou da Marina - pois uma coisa é ir da esquerda para a centro esquerda, e outra da esquerda para a direita;
2) Os 28 milhões de votos que a Dilma teve no segundo turno no NE são o TETO do Haddad no NE (com margem de erro de 600 mil votos). Muito embora o quantitativo de votos no NE tenha sido maior em 2014 que em 2010, deve ser salientado que passamos por um estelionato eleitoral e um impeachment neste ínterim (além do que o argumento "se fulano for eleito acabará com o Bolsa-Família" perdeu força)
3) Os quase 8 milhões de votos que o Aécio teve no segundo turno no NE são o PISO do Bolsonaro
no NE
4) Enquanto que o NE tinha 38 milhões de eleitores registrados em 2014, nesse ano já há 39.

Agora vamos a outra região interessantíssima: o Norte. Infelizmente o Ibope agrega o Norte com o Centro-Oeste, mesmo tendo características antagônicas (em 2014, por exemplo, a Dilma ganhou no Norte e o Aécio no Centro-Oeste), mas aqui há uma diferença enorme: enquanto que na Pesquisa Ibope realizada em 2014 a Dilma liderava com 35%, a Marina com 32% e o Aécio estava na rabeira com com 20%, nesta o Bolsonaro está liderando com 32% dos votos, o Haddad assumiu a vice-liderança com 15% e os outros estão com 36% (forçados, pois o Daciolo apareceu com 2%). Para que o Haddad passe o Bolsonaro ele teria que: 1) fazer com que mais indecisos o escolham; e/ou 2) 50% dos 36% referentes aos outros candidatos votassem nele E a outra metade não cogitasse votar no Bolsonaro. É uma diferença grande para ser tirada.

A receita para o Bolsonaro? 1) melhorar logo, para voltar a participar mais ativamente na campanha (e fazer com que o pessoal da sua campanha PARE de bater cabeça); 2) investir nos eleitores do Alckmin, Amoêdo, Meirelles e até alguns do Ciro (da mesma forma que os do Lula, alguns votam no Ciro porque gostam do jeito dele - que, convenhamos, é bastante parecido com o do Bolsonaro). Ele já fez muito bem com a questão do voto útil, e o caminho é esse; 3) fazer com que os que rejeitam ele ao menos anulem o voto na hora de escolher entre o Bolsonaro e o Haddad. Uma eleição ganha-se quando se consegue mais votos E quando o adversário deixa de conseguir votos.

sexta-feira, setembro 14, 2018

Nota sobre as eleições presidenciais (10) - O Viés da #GloboLixo

Domingo, 18 de março de 2018. O primeiro Fantástico após o assassinato da Marielle Franco teve as seguintes reportagens dedicadas ao acontecido:

"'Não entendo como saí daquilo', conta assessora de Marielle que sobreviveu" - Duração: 9 minutos e 34 segundos.

"Vídeo mostra o motorista Anderson muito perto dos prováveis assassinos" - Duração: 7 minutos e 24 segundos

"Marielle Franco iniciou militância após perder amiga vítima de bala perdida" - Duração: 6 minutos e 13 segundos

"Manifestantes protestaram contra assassinatos de Marielle e Anderson em São Paulo" - Duração: 31 segundos.

"Viúva do motorista Anderson Gomes dá exemplo de força e esperança" - Duração: 5 minutos e 14 segundos.

"Após assassinato de Marielle, vereadora é atacada na internet" - Duração: 4 minutos e 54 segundos.

"'Não consigo acreditar que ela não vai voltar', diz companheira de Marielle" - Duração: 6 minutos e 3 segundos.

"Kate Perry interrompe show e presta homenagem à Marielle Franco em show do Rio" - Duração: 36 segundos.

"Elza Soares e Pitty homenageiam Marielle Franco no palco do Fantástico". com direito à pinturas do rosto da vereadora ao fundo. - Duração: 2 minutos e 13 segundos

Reportagens indiretamente envolvidas com o caso:

"Governo anuncia a liberação de dinheiro para a área de segurança" - Duração: 1 minuto e 27 segundos.

Total: 42 minutos e 42 segundos de reportagens diretamente relacionadas ao caso e 44 minutos e 11 segundos de reportagens direta e indiretamente relacionadas ao caso.

Domingo, 09 de setembro de 2018. O primeiro Fantástico após o atentado ao Jair Bolsonaro teve as seguintes reportagens dedicadas ao acontecido (disponível aqui - o Fantástico parou de colocar as notícias no site próprio em 05 de agosto):

Primeira reportagem antes da abertura (quem é Adélio Bispo + boletim ao vivo sobre o estado de saúde de Jair Bolsonaro): 9 minutos e 18 segundos.

Algum novo boletim ao vivo sobre o estado de saúde de Jair Bolsonaro - ???

E SÓ.

terça-feira, setembro 11, 2018

Notas sobre as eleições presidenciais (9) - Gato de Schrödinger III (Ibope regional)

O Ibope está publicando várias pesquisas presidenciais de intenções de voto para presidente por estados. Vamos acompanhar?

Rio Grande do Sul (3 a 5 de setembro, pré-atentado):

Bolsonaro 26%
Haddad - 9%
Ciro - 9%
Marina - 8%
Alckmin - 6%
Meirelles - 3%
Amoêdo - 3%
Álvaro Dias - 2%
Outros: 4%
Branco/Nulo - 16%
NS/NR - 14%

Sempre lembro que o eleitorado gaúcho é o mais idiota do Brasil (ou seja: vota ideologicamente, não circunstancialmente). Dito isso, chama a atenção os 30% de pessoas que vão desperdiçar seu voto ou ainda não sabem em quem votar.

São Paulo (7 a 9 de setembro, pós-atentado)

Bolsonaro - 23%
Alckmin - 18%
Ciro - 11%
Marina - 8%
Haddad  - 7%
Amoêdo - 5%
Meirelles- 3%
Álvaro Dias - 2%
Outros - 3%
Branco/Nulo - 15%
NS/NR - 6%

Aqui chama a atenção o seguinte: o Bolsonaro subiu apenas 1%, mesmo com o atentado, e o Alckmin subiu 3%. Já disse que acredito que o Alckmin conseguirá ganhar em São Paulo, mas não parece que essa vitória se dará às custas da queda do Bolsonaro.

Paraná (1º a 4 de setembro, pré-atentado)

Bolsonaro - 23%
Álvaro Dias - 23%
Ciro Gomes - 8%
Marina - 5%
Alckmin - 4%
Amoêdo - 4%
Haddad - 4%
Outros - 3%
Branco/Nulo - 14%
NS/NR - 11%

E aqui achamos o foco do Álvaro Dias! Por mais que ele não ganhe a eleição ele não deixará de ficar feliz com a prisão do Beto Richa. O pessoal da campanha do Bolsonaro tem um espaço enorme para fazer uma campanha de voto útil no Paraná.

E essa é uma pesquisa mais antiga, mas de capital importância:

Minas Gerais - (24 a 26 de agosto)

Bolsonaro - 22%
Marina - 11%
Ciro - 9%
Alckmin - 7%
Haddad - 4%
Amoêdo - 3
Álvaro Dias - 2%
Outros - 3%
Branco/Nulo - 26%
NS/NR - 13%

Esse índice alto de Branco/Nulo e indecisos deve-se ainda ao Lula, pois no cenário com ele presente ele ganhava de 36% do Bolsonaro (19%). Nesse cenário, os Brancos/Nulos estavam em 16% e os que NS/NR estavam em 9%. Provavelmente o Haddad tem um terreno enorme para crescer, embora seja prejudicado pelo fraco desempenho do governador petista Fernando Pimentel - no entanto os mineiros, além de esfaquearem o Bolsonaro, vão eleger a Dilma para o Senado e provavelmente o Aécio para deputado federal (e eles adoram detonar o Rio...)!

Vamos ao Nordeste, que é terra arrasada contra o Bolsonaro:

Pernambuco (divulgado em 5 de setembro, pré-atentado):
Marina - 15%
Ciro - 13%
Bolsonaro - 12%
Haddad - 10%
Alckmin - 6%
Outros - 6%
Brancos/Nulos - 27%
NS/NR - 10%
Aqui o Haddad tem um potencial enorme para crescimento. Primeiro pelos votos brancos/nulos, depois pelo apoio do governador em campanha para reeleição Paulo Câmara. Mas terá o Ciro no cangote.

Notas sobre as eleições presidenciais (8) - Gato de Schrödinger II

Saiu a pesquisa do Datafolha e, como diz a piada, a facada do Bolsonaro só causou 2 pontos. Mas antes de me alongar nisso, vou mostrar o porquê de não se poder fiar muito em pesquisas. Seguem abaixo as últimas pesquisas Datafolha e Ibope realizadas antes do primeiro turno em 2014:

Datafolha (03 e 04 de outubro de 2014):

Dilma - 40%
Aécio -  24%
Marina - 21%
Pastor Everaldo - 1%
Luciana Genro - 1%
Eduardo Jorge - 1%
Brancos/nulos -  7%
Não Sabe/Não Respondeu - 5%

Ibope (03 e 04 de outubro de 2014)

Dilma - 40%
Aécio - 24%
Marina - 22%
Pastor Everaldo - 1%
Luciana Genro - 1%
Eduardo Jorge - 1%
Branco/Nulo - 4%
Não Sabe/Não Respondeu - 5%

Resultado Final 1º Turno:

Dilma - 41,59%
Aécio - 33,55%
Marina - 21,32%
Luciana Genro - 1,55%
Pastor Everaldo 0,75%
Eduardo Jorge - 0,43%
Outros - 0,21%
Brancos/Nulos - 9,64%
Abstenções - 19,39%

Conclui-se que os institutos de pesquisa acertaram a votação da Dilma, da Marina, da Luciana Genro, do Pastor Everaldo e do Eduardo Jorge na margem de erro, mas erraram FEIO com o Aécio - e ambos, sobretudo o Ibope, erraram nos Brancos/Nulos.

Voltemos ao Datafaolha. A pesquisa de ontem mostrou o seguinte resultado:

Bolsonaro  - 22%
Ciro - 13%
Marina - 11%
Alckmin - 10%
Haddad - 9%
Álvaro Dias - 3%
Amoêdo - 3%
Meirelles - 3%
Boulos - 1%
Vera Lúcia (PSTU) - 1%
Cabo Daciolo - 1%
Brancos/Nulos 15%
NS/NR - 7%

Para começar, não acho que nem a candidata do PSTU nem o Daciolo chegam a 0,5%. O Amoêdo é o fator surpresa dessas eleições. e estivesse num partido mais estabelecido garanto que conseguiria almejar um 4º lugar à Covas/89.  O Boulos acredito que está na margem de erro - mas os votos que ele teria com a comoção do assassinato da Marielle Franco se perderão com o esfaqueamento do Bolsonaro. O Meirelles aí já é piada. Sabe o porquê? Em 1989 o Dr. Diretas Ulysses Guimarães, a pessoa mais popular do PMDB, com a impopularidade que o Sarney tinha na época, teve 4,73% dos votos - bastante parecido, aliás, com os 4,38% de votos que o Quércia (outro peemedebista relativamente carismático) teve em 1994 . Por que é que o Meirelles, que não é nem do PMDB autêntico, 0 de carisma, com a impopularidade MAIOR que o Sarney tinha na época irá ter uma votação parecida? Meu palpite é que a votação do Meirelles ficará na casa dos 2%. O Álvaro Dias também sofrerá um processo de desidratação, por mais que seu bastião sulista tenha se mantido.

Agora vamos aos potenciais favoritos: a candidatura do Haddad ainda tem potencial para crescimento, mas aí ele terá que conquistar os eleitores do Ciro no Nordeste, e isso dependerá das alianças regionais. A pergunta é: será que os políticos apoiadores de Lula no NE farão isso? Além disso, o Haddad parece que tem bastante potencial para crescer no Norte (disparou de 2% para 11%

Em relação ao Alckmin, a boa notícia é que ele finalmente chegou nos dois dígitos. A má notícia é que isso não ocorreu às custas do Bolsonaro. Considerando que, ainda mais com o ocorrido, será muito difícil o Bolsonaro perder eleitores, a solução é ele conseguir uma adoção dos eleitores mais classe média da Marina. Mas independente de sua estratégia, tudo pode vir por água abaixo devido à prisão do ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa (e olha a merda que vai acontecer lá: o Requião já está com a reeleição praticamente garantida. Após essa prisão quem muito provavelmente ficará em segundo lugar é o ex-petista - e da Rede! - Flávio Arns).

A Marina está se desmilinguindo a olhos vistos, despencando no Centro-Oeste, Norte e Nordeste (visivelmente perdeu votos para o Haddad em todas essas regiões e também para o Ciro no NE). A que se deveu isso? Acredito que à soma da promessa do Ciro sobre o SPC e do ataque do Bolsonaro à Marina sobre a questão do plebiscito - o avanço dela contra o Bolsonaro no debate da RedeTV pode ter feito sua campanha vibrar, mas considerando o fato do eleitorado feminino do Bolsonaro ter aumentado 3% e o dela ter diminuído 7% (em detrimento, mais uma vez, do Haddad) faz parecer que o efeito do discurso dele foi mais efetivo...

Agora o Ciro: no momento atual é a principal vidraça nas eleições - considerando que os ataques ao Bolsonaro ainda não estão totalmente restabelecidos. Esperem ataques dos dois principais oponentes do Ciro para a vaga no segundo turno que possuem tempo de TV para ataques: PSDB e - principalmente - PT. Reparem como ele está fulo com o PT tanto na questão do Lula como na do Haddad. Ele deve ter tido acesso a pesquisas que mostram que o PT é quem tem o maior potencial para lhe roubar votos.

Finalmente, o Bolsonaro: chama a atenção que a campanha que ele fez no Norte deu resultado: sobretudo com o despencamento da Marina, a diferença para o segundo colocado (Ciro) aumentou para 14%. Além disso, provavelmente um efeito do atentado, ele subiu 5% no Sudeste. Os pontos fracos dele continuam sendo as mulheres (por mais que tenha passado a liderar após a queda da Marina, é uma liderança de apenas 5% e com 17%) e Nordeste, onde suas intenções de voto mantiveram-se em 14%. A boa notícia é que a recuperação dele está progredindo de forma positiva. Agorinha há pouco foi anunciado que ele passará a se alimentar oralmente. O que falta agora é ele finalmente poder ir para o CTI e lá ser liberado para gravar vídeos. E é para mencionar também que a saída dele no hospital será um ato político. Além disso, ele pode fazer um gesto teatral talvez um pouco arriscado, mas de impacto indiscutível: subir a camisa e mostrar a cicatriz na sua barriga mais a bolsa de colostomia. Lembra uma peça do Shakespeare que, mesmo não sendo badalada, é uma das melhores dele: Coriolano. Pode ser arriscada porque provavelmente vai ter gente que achará "nojentinho". Se ele fizer isso, que tome o cuidado para que a bolsa de colostomia esteja vazia.

Ainda vou escrever mais sobre pesquisas, mas será do Ibope, porque surgiu uma informação importantíssima: a intenção de votos em Minas

Nota sobre as eleições presidenciais (7.1) - Sobre o Lobo Solitário

Antes de mais nada, aqui vai uma longa lista de assassinatos políticos causados por pessoas de esquerda - e isso considerando apenas os estritamente de esquerda, sem entrar no mérito se nazistas ou fascistas são ou não de esquerda:

1881 - Tsar Alexander II da Rússia. Assassinado pelo revolucionário Ignacy Hryniewiecki.

1897 - Antonio Cánovas del Castillo, primeiro-ministro espanhol. Assassinado pelo anarquista italiano  Michele Angiollino.

1898 - Elisabeth ("Sissi"), Imperadora da Áustria e Rainha da Hungria. Assassinada pelo anarquista italiano Luigi Lucheni

1901 - William McKinley, presidente dos Estados Unidos. Assassinado pelo anarquista polaco-americano Leon Czolgosz

          - Humberto I da Itália. Morto pelo anarquista Gaetano Bresci

1911 - Pyotr Stolypin, primeiro-ministro russo. Assassinado pelo anarquista - e agente-duplo - Dimitry Bogrov

1912 - José Canalejas, primeiro-ministro espanhol. Assassinado pelo anarquista Manuel Pardiñas

1913 - Jorge I da Grécia. Assassinado pelo anarquista Alexandros Schinas.

1914 - Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro. Assassinado por Gravilo Princip, membro do grupo Jovem Bósnia, que tinha substrato anarquista, revolucionário russo, etc.

1917 - Ivan Logginovich Goremykin, ex-primeiro-ministro russo. Assassinado pela junta revolucionária soviética.

1918 - Sidónio Pais, presidente de Portugal. Assassinado pelo ativista de esquerda José Júlio da Costa.

        - Tsar Nicolau II e família. Assassinados pelo regime soviético.

1921 - Eduardo Dato Iradier, primeiro-ministro espanhol. Assassinado pelos anarquistas catalães Lluís Nicolau, Pere Mateu, e Ramon Casanelles

1926 - Symon Petilura, presidente-no-exílio da Ucrânia. Assassinado pelo ativista anarquista Sholom Schwartzbard em Paris.

1933 - Luiz Miguel Sánchez Cerro, presidente do Peru. Assassinado por  Abelardo Mendoza Leyva, pertencente à Aliança Popular Revolucionária Americana, partido de centro-esquerda.

1964 - John Kennedy, presidente dos Estados Unidos. Assassinado pelo comunista americano Lee Harvey Oswald

1978 - Aldo Moro, deputado e ex-primeiro-ministro italiano. Morto pelas Brigadas Vermelhas.

1980 - Anastasio Somosa, ditador deposto da Nicarágua. Morto no exílio em Assunção (no Paraguai do Stroessner) por sandinistas numa emboscada. Diz-se que tiveram apoio logístico de Cuba.

Vortemos.

Um dos conceitos mais interessantes da administração foi o 5W2H, que busca fazer um checklist das que uma empresa deve executar. Busca responder às seguintes perguntas:
O que a empresa tem de fazer? (what)
Quem fará? (who)
Por que será feito? (why)
Onde será feito? (where)
Quando será feito? (when)
Como será feito? (how)
Quanto custará? (how much)
Se vocês notarem bem, essas perguntas podem ser aplicadas a qualquer crime. Por exemplo no da Marielle Franco. Sabemos o que aconteceu (ela foi morta), quando e onde aconteceu (Rio de Janeiro, no bairro do Estácio, na noite do dia 14 de março de 2018). Mas falta saber quem fez, por que fez e eventualmente quanto custou, caso tenha sido uma execução. Além disso, não se sabe totalmente como foi feito (foi uma execução a tiros, mas não se sabe por exemplo quais foram os carros usados e qual foi a arma usada - nesse caso é provável que os assassinos tenham se livrado de ambos).

No caso do Bolsonaro, sabemos também quando e onde foi feito (06 de setembro, num ato de campanha de Juiz de Fora), o que aconteceu (o Bolsonaro sofreu um atentado político), como foi feito (Bolsonaro foi esfaqueado) e temos noções de quem fez e por que fez. Por que disse que "temos noções"? Não há dúvida da autoria direta do ato - foi efetivamente o Adélio Bispo -, mas ele fez sozinho ou não?

E outra: quem é ele? Sabemos que ele foi filiado ao Psol (sempre o Psol!), alegadamente visitou o gabinete de um deputado na Câmara em 2013 (disse "alegadamente" porque uma pessoa pode ter alegado isso com a anuência de alguém do gabinete apenas para ter acesso à Câmara), que tem características antissociais (com trocentos empregos, formais e informais, em Minas e Santa Catarina, nos últimos 17 anos), que, em 04 de setembro de 2017, ele ganhou R$ 4200 líquidos em um processo trabalhista em Montes Claros contra uma empresa de Santa Catarina, que em 18 de julho de 2018, ele passou num clube de tiro em SC frequentado pelos filhos do Bolsonaro e que ficou 15 dias em Juiz de Fora (pagando adiantado R$ 400 numa pensão - fora as despesas básicas), tempo mais que necessário para conhecer a cidade e ter noção do que fazer.

E algo muito importante: mesmo considerando a hipótese dele ser louco, isso não elimina a possibilidade dele não ter agido sozinho. Muito pelo contrário: ele se encaixa no típico perfil das pessoas que não têm muito a perder, meio malucas e que são ideias para executar serviços sujos. Resta saber se o fato dele ter sobrevivido faz parte dos planos ou não... E o que reforça isso é a pasmaceira dos QUATRO advogados de uma famosa banca de Minas. Em primeiro lugar, salvo quando recebem muito dinheiro para defesa, advogados de renome FOGEM desse tipo de causa (crime de grande comoção nacional onde não há dúvida da autoria do ato). Vide o caso do Lindemberg, que matou a Eloá. Além disso, eles se embananaram na explicação sobre como eles estão sendo pagos (muito embora um advogado não tenha a obrigação de dar essa informação). Primeiro falaram que tinha vindo de Testemunhas de Jeová, igreja que o Adélio Bispo seria afiliado. A igreja negou, falou que vai processar os advogados. Aí o advogado saiu com essa pérola: "tenho certeza de que o dinheiro da defesa não está vindo nem de partido político ou de um grupo". Oi? Como assim "tenho certeza"? Se isso fosse verdade ele não teria dito "eu tenho certeza", mas sim que "não há dinheiro ". O que aconteceria, prezado leitor, se você, numa discussão com sua companheira, dissesse "eu tenho certeza de que não te traí"? É semelhante ao José Dirceu, que, na sessão da Comissão de Ética da Câmara, disse: "nunca estive tão convicto de minha inocência!". Na ocasião, o pessoal caiu na gargalhada. Após tudo isso, e após alegar que está recebendo ameaças de morte no WhatsApp (!), ele disse que está sendo pago por "um benemérito de Montes Claros".

Eu acho que:
1) O Adélio Bispo agiu por motivação ao que tudo indica política, por mais que possa ser louco;
2) Não agiu sozinho, pois ninguém que vive de bicos tem condições de ficar zanzando Brasil afora; e
3) Provavelmente ele agiu a mando de um grupo radical de extrema-esquerda, não necessariamente vinculado diretamente a uma cúpula partidária.

sexta-feira, setembro 07, 2018

Nota sobre as eleições presidenciais (7) - BOLSONARO ESFAQUEADO (ou: Campanhas Paralelas)

Mais uma vez uma eleição no Brasil é virada de cabeça para baixo, da mesma forma que houve em 2014 com a morte do Eduardo Campos. No entanto, vamos às diferenças:
1) Campos morreu, Bolsonaro (ainda) vive;
2) Ninguém filmou a queda do avião do Eduardo Campos, e há uma profusão de filmagens do esfaqueamento do Bolsonaro, divulgada por todos os meios.
3) A morte do Eduardo Campos gerou a teoria, depois dita de conspiração, de que foi um acidente armado. No caso do Bolsonaro não há conspiração alguma (exceto na questão do "Lobo Solitário", que vai ganhar um post particular): a autoria direta do atentado é 100% conhecida e há 0% de dúvida de que se tratou de um atentado.
4) Eduardo Campos morreu em 13 de agosto de 2014, sendo que o primeiro turno ocorreu em 05 de outubro. Bolsonaro foi esfaqueado no dia 06 de setembro, e as eleições ocorrerão dia 07 de outubro (sempre no primeiro domingo de outubro, para quem ainda nunca reparou).
5) Eduardo Campos só teve tempo de participar da sabatina no Jornal Nacional, ocorrida um dia antes de sua morte. Bolsonaro já participou de dois debates televisivos (na Band e na Rede TV!) e da sabatina na Globo.
6) Eduardo Campos não viveu para se ver no horário eleitoral, que começou dia 19 de agosto de 2014. Bolsonaro ainda vive para participar (em termos, já que só tem 7s), do horário eleitoral.
7) Marina Silva substituiu o Eduardo Campos em 16 de agosto, quando ela tomou a dianteira e passou a receber uma saraivadas de ataques da campanha da Dilma, perdendo momentum e ficando de fora do segundo turno.
Para o Bolsonaro perder o momentum ainda precisam divulgar a próxima rodada de pesquisas, provavelmente na semana que vem. Aí os candidatos podem passar a ficar desesperados e a trégua de agora acabará rapidinho. E aí que entra a principal diferença entre o Bolsonaro e o Campos: a Marina já era sua substituta plena na campanha quando passou a ser atacada. A figura do Campos, entretanto, JAMAIS foi atacada. Atacar alguém que foi esfaqueado em público, que foi parar numa UTI, que está com um saco de colostomia e que está fragilizado demais para se defender pode se tornar uma faca de dois gumes.
De resto, as principais dificuldades do Bolsonaro agora são: 1) permanecer vivo (ele está num momento bastante crítico, uma vez que houve ruptura intestinal com vazamento de fezes); 2) não poder mais participar de atos de campanha (com certeza no primeiro turno, provavelmente no segundo turno); 3) não poder mais participar de debates; 4) só, possivelmente, poder participar da segunda sabatina no JN por videoconferência e isso se os outros candidatos concordarem (o que, a depender das pesquisas, pode não ocorrer); 5) tudo ocorrendo bem, ficar os próximos 15 dias de molho; e 6) a bolsa de colostomia não ser algo muito agradável de se ver.
Situações semelhantes na história? De um candidato que sobreviveu a um atentado político não, mas de candidatos que morreram sim. Nas Américas houve o John Kennedy em 1964 (que fez com que o vice Lyndon Brown Johnson ganhasse - e fosse um dos piores presidentes dos EUA), Luis Carlos Galán na Colômbia em 1989 (era franco favorito e o seu substituto César Garviria ganharia de lavada) e Luis Donaldo Colosio em 1994 (https://www.youtube.com/watch?v=2vfS2MQbeLM - de qualquer forma o PRI, que foi meio que o PT do México, ganharia).
Resumido a história:
1) Bolsonaro precisa sobreviver;
2) Possivelmente as próximas pesquisas Ibope/Datafolha realizadas a partir de hoje mostrem uma "estilingada" do Bolsonaro.
3) No momento subsequente à divulgação (que não sei quando ocorrerá - pode ser ou nesse domingo ou na semana que vem) acabará a trégua contra o Bolsonaro (salvo pelo Alckmin, que foi pego com a brocha na mão e não conseguiu suspender os programas críticos ao Bolsonaro que passarão nesses dias).
4) O contra-ataque dos adversários durará no máximo três semanas, ao contrário das 6 semanas que a Dilma teve para desconstruir a Marina;
5) Como o Bolsonaro ainda está vivo, esses contra-ataques podem sair pela culatra.