terça-feira, janeiro 08, 2019

Bolsonaro, Semana Um

O que se pode dizer do governo Bolsonaro? Bem:

1) Até agora não houve um estelionato eleitoral como com o confisco da poupança do Collor logo no dia seguinte à posse. Mais uma semana e o Bolsonaro superará o segundo governo FHC após a desvalorização do real em 15 de janeiro de 1999. Na questão econômica por enquanto não há indícios que haverá uma explosão da inflação, tal como com o Sarney após as eleições para governador de 1986 e no segundo governo Dilma.

2) A Damaris virou o bode expiatório da imprensa. Quanto mais o Bolsonaro a mantiver no ministério que nem deveria existir, mas o Moro e o Guedes farão o que deve ser feito.

3) O Bolsonaro quer acabar com o "presidencialismo de coalizão" clássico, onde o Executivo negocia com os líderes partidários para aprovar leis, dando em troca verbas (o que por si só não haveria nada demais) e cargos comissionados. A solução na qual ele investirá pode ser chamada de "downsizing político". Este termo, tão temido na administração, significa a redução dos cargos intermediários entre a chefia e o chão da fábrica. O que o Bolsonaro pretende é fazer uma reorganização por bancadas de interesse (da bala, evangélica, ruralista, etc.) e dar um passa-moleque nos líderes partidários. Dará certo? Isso o tempo dirá, mas não acho que os líderes das principais bancadas ainda podem ser prescindidos. E nisso chegamos no principal defeito do governo até agora, que é um defeito de todos nós, brasileiros:

4) O patrimonialismo. Em todo o histórico parlamentar do Bolsonaro (talvez não quando ele já se visse candidato à presidência), ele nunca, JAMAIS titubeou em usufruir de todas as vantagens que um deputado federal tem direito: passagens, imóveis funcionais, verbas de gabinete, vantagem cumulativa para passar o rodo no imóvel funcional, nepotismo para empregar a esposa em seu gabinete... A peixada para o filho do Mourão no Banco do Brasil (em que pese o fato dele ser escriturário de carreira) é um mau sinal.

5) Outro mal sinal é desagradar a classe média que votou nele. A declaração do presidente da Caixa que ela terá que pagar juros de financiamento de mercado (de um mercado extremamente oligopolizado, diga-se), pegou muito mal (se duvidam, tentem achar algum eleitor do Bolsonaro na área dos comentários defendendo a medida). Já há uma reforma da previdência extremamente dura para ser aprovada, e a última coisa que o Bolsonaro precisa é que se avolumem motivos para que as manifestações de esquerda que virão ganhem força.

6) Essas são as palavras de um burocrata federal: a ideia da CGU em redefinir os critérios para indicação de cargos comissionados é ótima. Mas pode ser que a "despetização" não ocorra a contento. No ministério mesmo onde trabalho, a Rádio Corredor está dizendo que comissionados que se refugiaram no Planalto após o impeachment da Dilma estão prestes a voltar.