quinta-feira, novembro 26, 2009

Honduras 19 - Um historiador indigente

Depois de imbecis da USP e da Unicamp, agora surge um no Rio de Janeiro, mais exatamente na UFRJ. Dessa vez, é na área da história. Eu estava pensando que o povo da história estava deixando de ser tão comunista radical, que estavam migrando mais para a geopolítica, mas parece que ainda não... Vamos à notícia do Terra, com um ponto-a-ponto

"Eleições podem gerar guerra civil em Honduras, diz historiador"

Olhando assim pensa-se que virá uma análise séria balizada nos seguintes fatos: 1) o ex-presidente Manuel Zelaya foi deposto pelos militares e considera a sua deposição ilegal, assim como as eleições de domingo agora; logo, seus partidários - com o apoio da Venezuela, Nicarágua e, por que não? o Brasil - podem apoiar um levante; 2) eleições latino-americanas são complicadas, ainda mais acima do Equador: no México mesmo, em 1994, o então candidato do PRI à presidência, Luis Donaldo Colosio, simplesmente foi assassinado; 3) somando '1' e '2', há uma possibilidade real de guerra civil ali. ISSO seria uma análise política séria. Vejamos o que o sr. Rafael Araújo diz.

"As polêmicas eleições presidenciais em Honduras, marcadas para este domingo, deverão agravar ainda mais a crise política que atinge o país, que poderá mergulhar em uma guerra civil caso todas as tentativas de negociação se esgotem. O cenário sombrio, que faz parte do passado político de muitas nações latino-americanas, é traçado pelo historiador Rafael Araujo, pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente da UFRJ."

Antes de mais nada: "Laboratório de Estudos do Tempo Presente"!? Que nome GAY! Noto um erro da condicional aí, o que torna a análise já furada no primeiro parágrafo. No momento, não há tentativa de negociação. Não significa que não haverão no futuro. Sem contar o "deverão agravar". Gente: O Zelaya saiu do poder, ameaçou voltar de avião, voltou clandestinamente ao Brasil, clamou um "pátria ou morte" e a coisa não mudou muito... Alguém sinceramente acha que a coisa mudará?

"Acredito que a comunidade internacional tem obrigação de não reconhecer o novo presidente. Essas eleições ocorrem sem a presença no governo de um mandatário legitimamente eleito e em meio a um golpe de estado, que inaugurou em Honduras um período de graves violações aos direitos humanos e à liberdade de expressão, através da figura de Micheletti", diz Rafael.

Apesar de tudo, gostei do sr. Rafael... Sem tergiversações, já disse a que veio. Nisso já é um pouco melhor que aquela estrupícia da USP. Mas é igualmente um imbecil. Só digo uma coisa: mostre-me ao menos UMA denúncia de que as forças hondurenhas estejam prendendo os opositores do Micheletti às cegas, que tenha matado sem piedade, que esteja torturando, que aí eu me convenço. Ah, e quando me mostrar isso, mostre-me os dados sobre como era no período do Zelaya. Noves fora o período de estado de sítio (previsto em TODA constituição democrática que se preze), duvido muito que os dados sejam muito diferentes. Mas aguarde que o sr. Rafael superará a uspiana em breve...

O presidente eleito na votação deste domingo não será reconhecido pela maioria dos países latino-americanos, União Europeia e ONU. Nas últimas semanas, algumas das principais cidades hondurenhas foram alvos de explosões de bombas caseiras e inclusive de armamento militar, segundo a polícia, sem provocar feridos. Até agora, os eventos violentos não alterarão o processo eleitoral, segundo as autoridades do Tribunal Supremo Eleitoral hondurenho (TSE), que já distribuiu a maior parte do material para as eleições com apoio das Forças Armadas e da Polícia.

"A abstenção eleitoral será alta. Creio que supere os 50%, em virtude da campanha pelo desconhecimento ativo das eleições que vem sendo desenvolvida pela Frente Nacional de resistência ao golpe de estado e movimentos sociais do país. Até a última terça, mais de 100 candidatos retiraram seus nomes das eleições. Acredito que isso demonstre o quanto às eleições estão sendo deslegitimadas no país", defende Rafael. "Quanto à violência, creio que, infelizmente, ela estará presente. A imposição do estado de emergência pelo governo, com o chamado de aproximadamente 5 mil reservistas do exército, e a repressão ao movimento pró-Zelaya apontam para isso."

Olha só, uma "republiqueta de bananas" com VOTO FACULTATIVO! Que inveja! Mas voltando ao assunto: se for pra chutar, acredito que a abstenção será MENOR que a média histórica hondurenha. Em todo caso, maior ou menor, a única maneira real de se avaliar o impacto do "golpe" será comparando com as eleições anteriores. Além disso, não necessariamente uma eleição com menos de 50% dos eleitores necessariamente é ilegítima. Isso depende principalmente das leis hondurenhas. Só pra lembrar: no plebiscito sobre a independência de Kosovo, mais de 50% foram favoráveis, mas o percentual foi menor do que o minimo oficialmente aceito pela comunidade internacional. E ainda sim fizeram o grande erro de reconhecer Kosovo.

Mudando de assunto: vocês já repararam que, para uma "ditadura", há uma quantidade bastante saudável de protestos de manifestantes pró-Zelaya!? Onde está a repressão pra vir com cavalos, cassetetes, bombas de gás e brucutus? Quanto à convocação de reservistas, é como o título (parece que é a única coisa certa nesse artigo) diz tudo: há uma possibilidade concreta de guerra civil.

A situação de Zelaya e o abrigo concedido pelo governo brasileiro em sua embaixada em Tegucigalpa não deve se alterar após as eleições. Segundo Rafael, os grupos sociais e o próprio Zelaya não vão aceitar outra solução para o conflito que não inclua o seu retorno ao poder. Por isso, o historiador defende que o governo brasileiro deve continuar apoiando Zelaya, até que a ordem constitucional seja restaurada.

"Por mais que Zelaya possa ter cometido vários equívocos ao longo de seu mandato, nada justifica um golpe de estado. A democracia, a constituição e o respeito aos direitos humanos devem ser garantidos em Honduras. Neste sentido, a presença de Zelaya em nossa embaixada garante minimamente um olhar da comunidade internacional sobre Honduras, algo que não ocorreria com tanta intensidade se o Brasil não tivesse na linha de frente em defesa de Zelaya e da ordem democrática hondurenha", diz Rafael.


Bom, talvez o sr. Rafael não tenha percebido que o Zelaya continua não aceitando a situação, os movimentos sociais continuam não aceitando a situação e... NÃO ACONTECEU NADA! E o Rafael demonstra que não sabe PORRA NENHUMA da situação local, apenas palpitando, quando diz que "a democracia, a CONSTITUIÇÃO e o respeito aos DDHH devem ser garantidos em Honduras". Sério, tô com preguiça de citar a constituição hondurenha... O Brasil, a Venezuela, a Nicarágua e, assistindo tudo de camarote, a Espanha (já repararam no teor da cobertura do Terra?) no fundo querem aumentar sua influência política nas Américas, batendo de frente com os Estados Unidos; porém até agora sem sucesso. A única coisa que o sr. Rafael acerta é que o Zelaya realmente foi para a embaixada do Brasil para tentar gerar um fato político. Nisso ele quase conseguiu, forçando o Micheletti a negociar.


Agora vamos à parte mais CANALHA do artigo. Antes lembro o seguinte: quando o Zelaya foi deposto, os candidatos à presidência já estavam definidos, e não houve reclamações sobre eventuais autoritarismos no país até então. Está sentado? Vamos lá:

Pesquisas realizadas pelo CID-Gallup indicam que apenas dois candidatos lutam para se eleger na votação de domingo. O favorito é o conservador Porfírio Lobo, candidato do Partido Nacional, com 37% das intenções de voto. Em segundo lugar, Elvin Santos, do Partido Liberal, tem o apoio de 21% dos entrevistados. O candidato independente Carlos Reyes está em terceiro lugar com apenas 6% e não tem chances, de acordo com a imprensa hondurenha.

"Porfírio Lobo é um candidato que representa a direita hondurenha, possuidora de uma participação decisiva na articulação do golpe de estado. Apesar de ser favorito, Lobo é visto com desconfiança pelos setores marginalizados e excluídos socialmente por ser aliado da oligarquia hondurenha que há décadas controla o país", analisa Rafael. "O apoio do seu partido ao golpe de estado é um motivo a mais para tornar o próximo governo ilegítimo. O boicote popular e o rechaço internacional as eleições no meio de um regime autoritário, tornam o repúdio a um provável governo de Lobo ainda mais provável."

Aos 61 anos, Porfírio Lobo é filho do ex-congressista Porfirio José Lobo López - já morto. Ele cursou Administração de Negócios na Universidade de Miami, nos EUA, antes de voltar para Honduras e se dedicar aos negócios de agricultura e pecuária da família. Foi presidente do Congresso, do qual é membro desde 1990, entre 2002 e 2006. Nas eleições de 2005, quando Zelaya foi eleito, ficou em segundo lugar com 46% dos votos.

1) O sr. Rafael é MENTIROSO, já que, fora os candidatos de esquerda - um já furou o boicote do Zelaya...- TODOS eles fugiram do assunto "deposição/golpe" como o diabo da cruz, já que eles serão os principais perdedores caso haja problemas nas eleições de domingos;

2) O sr. Rafael é um GOLPISTA CANALHA. Todos os partidos, mesmo os de esquerda, são legais, e deslegitimar um partido, tal como um tribunal de exceção, é deslegitimar o regime hondurenho. Não somente o governo Micheletti mas TODO O PERÍODO DEMOCRÁTICO DE HONDURAS ATÉ ENTÃO. E ele não para por aí não. Permitam-me acrescentar o que ele falou do Elvin Santos:

Elvin Santos, 46 anos, é o candidato do Partido Liberal, o mesmo de Zelaya. Diretor da empresa de construção da família, foi acusado de conflito de interesses por ter contratos com a Secretaria de Obras Públicas de Honduras. Ele ocupou o cargo de vice-presidente no governo do presidente deposto entre janeiro de 2006 e dezembro de 2008, quando renunciou para se tornar candidato à presidência.

Em campanha, Elvin disse que seu objetivo será combater a pobreza, mas não deixou claro como fará isso, já que entidades como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial não estão concedendo empréstimos à nação devido à crise política. "Não se trata de uma luta de esquerda ou direita, ou de uma ideologia, trata-se fundamentalmente de enfrentar a pobreza", disse o candidato.

"Elvin Santos também não representa uma dissociação com o golpismo. Ele faz parte do setor do Partido Liberal que apoiou o golpe de estado, sustentando Micheletti no poder. Tanto ele como Lobo representam um setor político que, aliado com as oligarquias hondurenhas, articularam o golpe de estado e sustentaram um regime autoritário, que fere os princípios democráticos e os direitos humanos. Neste sentido, caso ele seja eleito a situação interna hondurenha continuará tensa e internacionalmente, provavelmente, ele terá pouco apoio e legitimidade", analisa Rafael.

Ou seja: os dois principais partidos políticos de Honduras, com quase 60% de intenções de voto do eleitorado (e até hoje NINGUÉM mostrou que as pesquisas são fraudadas), simplesmente são ILEGAIS, é isso!? Bom, o sr. Rafael já pode se comparar à uspiana, no fundo no fundo ele não reconhece é todo o período democrático hondurenho pós-volta da democracia. A coisa está complicada no meio acadêmico...


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