domingo, novembro 08, 2009

"Ah, mas eu só estuprei ela porque ela estava com um decote bem safado"

Sério, o subdesenvolvimento não é fácil, é um trabalho de séculos. Vocês a essa altura sabem do rebu da "loira do vestido vermelho" da Uniban. Pois é, em vez de fazer o razoável, que seria pedir desculpas e fazer algum seminário sobre respeito à mulher, a Uniban resolveu expulsar a moça! Talvez pelo fato dela não ser preta nem lésbica, não teve nenhuma ong para defendê-la. Segue um ponto-a-ponto com o comunicado oficial deles:

"Responsabilidade educacional

A educação se faz com atitude e não complacência

Concordo. Vamos à palhaçada?

A Universidade Bandeirante – UNIBAN BRASIL – dirige-se ao público e, especialmente, à sua comunidade acadêmica para divulgar o resultado da sindicância no campus de São Bernardo do Campo sobre o episódio ocorrido no dia 22 de outubro, fartamente exibido na internet e divulgado pelos veículos de comunicação.

Quando vocês lerem esse comunicado, tenham em mente duas coisas: 1) Foram ALUNOS quem colocaram o vídeo na internet, não a "loira do vestido vermelho". Portanto, se ela se "promoveu" com o incidente, o pecado original não foi dela não senhor; 2) Os meios de comunicação só divulgaram a coisa toda porque tratou-se de um clássico caso de "homem mordendo rabo de cachorro". Ou seja, um caso de misoginia extrema explícita.

A sindicância consoante com o Regimento Interno nos termos do artigo 216, parágrafo 5, e do artigo 207, da Constituição Federal, colheu depoimentos de alunos e alunas, professores, funcionários e da estudante envolvida, além de analisar vídeos e imagens divulgadas.

Redação confusa. O art. 216 é o da Uniban, e o 207 é o da CF. Acredito que a ênfase dada aqui seja a da autonomia. Acho que eles deveriam também prestar mais atenção ao resto do teor do artigo, que fala também em "ensino, pesquisa e extensão". Universidades tabajara sempre ignoram esses dois últimos assuntos...

Os fatos:
Foi apurado que a aluna tem frequentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento.

Como eu disse numa comunidade do orkut: 1) Defina-me "inadequados". O que pode ser inadequado pra mim não pode ser para a maioria das pessoas, e vice-versa. Em algumas famílias é normal as pessoas andarem peladas na casa, em outras não, e nem por isso a casa da primeira seja um antro de perversão; 2) Esse "apesar de alertada" eles vão ter que provar, seja por testemunhas (e vai ter que ser um monte, senão cai no '1'), ou por algum documento que comprove isso. Pessoalmente, duvido muito. Depois desse rebu todo alguma coisa já deveria ter aparecido.


A sindicância apurou que, no dia da ocorrência dos fatos, a aluna fez um percurso maior que o habitual aumentando sua exposição e ensejando, de forma, explícita, os apelos dos alunos que se manifestavam em relação à sua postura, chegando, inclusive, a posar para fotos.

Pera lá! Quer dizer que ela deveria ser punida por "ter feito um percurso maior que o habitual"!?. Virou crime isso agora? Vem cá: será que não era direito dela fazer isso não? E outra coisa: os depoimentos do acontecimento não dizem essa coisa de "posar para fotos".


Novamente, a aluna optou por um percurso maior ao se dirigir ao toalete, o que alimentou a curiosidade e o interesse de mais alunos e alunas, tendo início, então, uma aglomeração em frente ao local.

Pera lá! Quer dizer que ela deveria ser punida por "ter feito um percurso maior que o habitual"!?. Virou crime isso agora? Desculpe o "Ctrl+V", mas eles também repetiram o mesmo argumento imbecil.

Depoimentos de colegas indicam que, no interior do toalete feminino, a aluna se negou a complementar sua vestimenta para desfazer o clima que havia criado.
Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.

De novo o argumento do "inadequado". Mas com um agravante: aqui eles dão a entender que a vestimenta dela estava incompleta. Não vi as reportagens (não vejo a Record, e faz muito tempo que não vejo Fantástico também), mas por tudo o que entendi a peça estava completa. Agora, se era para vestir outra peça que cobrisse a roupa dela, surpresa: se não fosse autoridade policial, ela tinha mesmo o direito de não usar outra roupa, sabia?

Também vou copiar o mesmo argumento de post no orkut sobre isso: Não sei se fui só eu, mas quando li o "chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar" e "reação coletiva de defesa do ambiente escolar", me fez associar àquela idéia de "você é diferente de nós, logo te odiamos". Adimirável mundo novo esse...


Em seu depoimento perante a comissão, a aluna demonstrou um comportamento instável, que oscilava entre a euforia e o desinteresse, e estava acompanhada de dois advogados e uma estagiária vinculados a uma rede de televisão.

Outro "Ctrl+V": Bem, a Uniban é uma pessoa jurídica de direito privado, e tem o direito de barrar quem lhe der na veneta, mas... Ei, eles realmente reclamaram dela vir acompanhada de ADVOGADOS!? Não pode isso agora, é? Talvez ela tenha feito isso para evitar que acontecesse algo pior com ela... Algo como expulsarem ela da faculdade. Mas, ops!, isso aconteceu... :S

Decisão do Conselho Superior da Universidade:
Diante de todos os fatos apurados pela comissão de sindicância, o Conselho Superior, amparado pelo relatório apresentado e nos termos do Regimento Interno, decidiu, com base no Capítulo IV – Regime Disciplinar, artigos 215 e seguintes:


1 – Desligar a aluna Geisy Villa Nova Arruda do quadro discente da Instituição, em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade;

VOLTAMOS À ÉPOCA PRÉ-MINISSAIA! Tremei, Brasil! http://www.youtube.com/watch?v=JeqYn0Blwtc Uma malta de pessoas em estado de linchamento moral puro nada, né?

2 – Suspender das atividades acadêmicas, temporariamente, os alunos envolvidos devidamente identificados no incidente ocorrido no dia 22 de outubro.

Como duvido muito que alguém será "devidamente identificado", tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes. Estamos testemunhando aqui um clássico caso de corda estourando para o lado mais fraco.

A UNIBAN reafirma o seu compromisso com a responsabilidade social e a promoção dos valores que regem uma instituição de ensino superior, expressando sua posição de apoio aos seus 60 mil alunos injustamente aviltados. Nesse sentido, cabe aqui registrar o estranhamento da UNIBAN diante do comportamento da mídia que, uma vez mais, perde a oportunidade de contribuir para um debate sério e equilibrado sobre temas fundamentais como ética, juventude e universidade.

"Promoção dos valores"? Menos alguns vários, mas principalmente dois: TOLERÂNCIA E CIVILIDADE. A Uniban acabou de jogar querosene nas eventuais feridas dos alunos aviltados, que, a partir do episódio (e da reação da Uniban), terão a reputação de viados, misóginos e animais. Para não falar de FALSOS MORALISTAS.

Ah, só para dizer que vivemos em tempos lulistas: ALUNOS da Uniban cometeram o ato de barbárie, ALUNOS da Uniban colocaram o vídeo no Youtube e, a culpa de tudo, como sempre, foi da... Imprensa!

E mais uma coisinha: juventude não é valor, é apenas um estágio da vida. Mas se bem que eles podem ter razão: esse tipo de atitude perante ao diferente é coisa de MOLEQUE mesmo.

Para tanto, convida seus alunos e alunas, professores, funcionários, a comunidade e a mídia para um ciclo de seminários sobre cidadania em data a ser oportunamente informada.

Onde você lê "em data a ser oportunamente informada", entenda-se: "vamos esperar essa coisa toda esfriar até que se esqueçam do ocorrido e também nós nos esqueçamos de qualquer medida compensatória".

Universidade Bandeirante – UNIBAN BRASIL

Dica para os paulistas, principais leitores desse horrível blog:

Se eu morasse em São Paulo e fosse empregador, depois dessa não empregaria alguém da Uniban nem para auxiliar de serviços gerais.

Se eu fosse estudante da Uniban, de outro campi, eu aproveitaria uma promoção de transferência de faculdades para qualquer outra e evitaria esse futuro estigma no mercado de trabalho. Ou então faria uma faculdade à distância. É mais barata que um curso convencional, o diploma tem o mesmo valor e só teria aula presencial uma vez por semana. E veria filmes como "A Lista de Schindler" e "O Pianista".

Se eu fosse estudante da Uniban de São Bernardo do Campo, recomendaria uma ida ao Bom Retiro ter uma conversa com algum judeu sobrevivente de campo de concentração para aprender até onde o ser humano pode chegar em termos de crueldade.

Se eu fosse estudante de turismo, mudaria urgentemente de área.

PS: Por que me preocupo tanto com uma garota que nem conheço (e nem faço questão de conhecer) e por um paiseco fudido como Honduras? Bem, sempre me lembro daquela frase do Martin Niemöller, pastor luterano alemão e prisioneiro nos campos de concentração de Sachsenhausen e Dachau:

"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar..."

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