quarta-feira, julho 09, 2008

Livros lidos em 2008: 3 - Duas viagens ao Brasil*, de Hans Staden




Enquanto meu carro estava trocando o vidro dianteiro em Contagem (obs: se Betim é uma mistura de periferia com roça Contagem é 100% periferia, mano!), fui para o Itaú Power (plant) Shopping almoçar e esperar a hora da busca. Enquanto isso, fui na banca procurar um livreto da LP&M pra passar o tempo, e encontrei esse, talvez para continuar a saga de "relatos estrangeiros sobre o Brasil".

Hans Staden, ou melhor, seu ghost writer Dr. Dryander, não era nenhum Stephan Zweig em termos literários, por isso quem espera uma narrativa emocionante sobre o Novo Mundo irá encontrar apenas um típico livro escrito por um intelectual sem vocações literárias. Mas analisemos o contexto: foi publicado em 1557, quando todos já sabiam que a terra era redonda (na verdade é achatada nas pontas...), mas a América era ainda uma incógnita. Ainda mais na Alemanha, que estava fora dessa coisa colonial na época. Sem contar que Staden presenciou e relatou algo que impressionaria as pessoas até hoje: o canibalismo. Os europeus tinham noção do que era sacrifícios humanos (fenícios e cartaginenses faziam isso na Idade Antiga, os Astecas também), mas canibalismo era totalmente inimaginável (se bem que também havia na região da Papua Nova Guiné/ leste da Indonésia pelo menos até o Século XIX - mais abandonaram com reticências, como pode ser visto na foto desse single do RDP tirada num levante de independência naquelas ilhotas indonésias na época da libertação do Timor Leste). Resultado: as reedições e traduções se espalhaam feito rastilho de pólvora na Europa.

O livro se divide em duas partes: a primeira é onde o Staden narra suas duas viagens para o Brail (dããã): a primeira servindo a armada portuguesa, quando ele perambulou por Pernambuco e Paraíba, relatando algumas escaramuças com os índios locais, mas nada de interessante; e a segunda, principal assunto dessa parte. Aí sim: servindo a armada espanhola dessa vez, a intenção era chegar na foz do Prata, mas a navegação não é muito exata e eles param na Ilha de Santa Catarina, na época "ocupada" (na verdade um protótipo de acampamento) por espanhóis, onde fala sobre os índios carijós do local - e começa a mencionar o canibalismo... O interessante é que hoje, em Florianópolis, não há nenhuma rua chamada Hans Staden (teoricamente ele foi o primeiro alemão por ali, não?), e a rua dos Carijós é um bequinho no meio do nada, de acordo com o Google Earth. Considerando que o único catarinense presidente, Nereu Ramos, também tem uma "ruazinha", até que os catarinas são coerentes.

Voltando, como a frota chegou desfalcada, parte da tripulação resolve navegar até a "ilha" de São Vicente para pedir um barco emprestado com os patrícios. Mas no meio do caminho havia uma tempestade... E eles naufragaram, em Itanhaem. Depois conseguiram chegar até São Vicente onde, por navegar ilegalmente em águas portuguesas, ficaram fazendo trabalhos forçados. Há a menção entre a rivalidade entre os Tupiniquins, aliados dos portugueses, e Tupinambás (Tamoios), dos franceses. Staden fala da fundação de Bertioga, um posto avançado dos portugueses. Tudo estava indo bem até que... Capturaram ele. E daí começou o 'Holocausto Canibal'. Não vou entrar em detalhes sobre o que ele passou, mas ele sobreviveu (dããã²!), aliás de forma extremamente velhaca: conseguiu enrolar os tamoios falando que era francês e falando que tudo de ruim que acontecia na tribo era porque ele estava cativo e porque eram canibais.

Cotação: É um bom livro, e um importante relato histórico do Brasil. Vale a pena ganhar duas horas lendo ele. E para ver também um pouco de onde arrancaram o esteriótipo hollywoodiano das tribos canibais. Mas há relatos de viagem na América Colonial melhores. Tem um de um pirata inglês que não me recordo agora que parece ser ótimo, onde ele faz uma das melhores descrições sobre o abacaxi.

* Na verdade, o nome oficial do livro é História Verídica e descrição de uma terra de selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecidas antes e depois de Jesus Cristo nas terras de Hessen até os dois últimos anos , visto que Hans Staden, de Homberd, em Hessen, a conheceu por experiência própria, e que agora traz a público com essa impressão.

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