sexta-feira, setembro 07, 2018

Nota sobre as eleições presidenciais (7) - BOLSONARO ESFAQUEADO (ou: Campanhas Paralelas)

Mais uma vez uma eleição no Brasil é virada de cabeça para baixo, da mesma forma que houve em 2014 com a morte do Eduardo Campos. No entanto, vamos às diferenças:
1) Campos morreu, Bolsonaro (ainda) vive;
2) Ninguém filmou a queda do avião do Eduardo Campos, e há uma profusão de filmagens do esfaqueamento do Bolsonaro, divulgada por todos os meios.
3) A morte do Eduardo Campos gerou a teoria, depois dita de conspiração, de que foi um acidente armado. No caso do Bolsonaro não há conspiração alguma (exceto na questão do "Lobo Solitário", que vai ganhar um post particular): a autoria direta do atentado é 100% conhecida e há 0% de dúvida de que se tratou de um atentado.
4) Eduardo Campos morreu em 13 de agosto de 2014, sendo que o primeiro turno ocorreu em 05 de outubro. Bolsonaro foi esfaqueado no dia 06 de setembro, e as eleições ocorrerão dia 07 de outubro (sempre no primeiro domingo de outubro, para quem ainda nunca reparou).
5) Eduardo Campos só teve tempo de participar da sabatina no Jornal Nacional, ocorrida um dia antes de sua morte. Bolsonaro já participou de dois debates televisivos (na Band e na Rede TV!) e da sabatina na Globo.
6) Eduardo Campos não viveu para se ver no horário eleitoral, que começou dia 19 de agosto de 2014. Bolsonaro ainda vive para participar (em termos, já que só tem 7s), do horário eleitoral.
7) Marina Silva substituiu o Eduardo Campos em 16 de agosto, quando ela tomou a dianteira e passou a receber uma saraivadas de ataques da campanha da Dilma, perdendo momentum e ficando de fora do segundo turno.
Para o Bolsonaro perder o momentum ainda precisam divulgar a próxima rodada de pesquisas, provavelmente na semana que vem. Aí os candidatos podem passar a ficar desesperados e a trégua de agora acabará rapidinho. E aí que entra a principal diferença entre o Bolsonaro e o Campos: a Marina já era sua substituta plena na campanha quando passou a ser atacada. A figura do Campos, entretanto, JAMAIS foi atacada. Atacar alguém que foi esfaqueado em público, que foi parar numa UTI, que está com um saco de colostomia e que está fragilizado demais para se defender pode se tornar uma faca de dois gumes.
De resto, as principais dificuldades do Bolsonaro agora são: 1) permanecer vivo (ele está num momento bastante crítico, uma vez que houve ruptura intestinal com vazamento de fezes); 2) não poder mais participar de atos de campanha (com certeza no primeiro turno, provavelmente no segundo turno); 3) não poder mais participar de debates; 4) só, possivelmente, poder participar da segunda sabatina no JN por videoconferência e isso se os outros candidatos concordarem (o que, a depender das pesquisas, pode não ocorrer); 5) tudo ocorrendo bem, ficar os próximos 15 dias de molho; e 6) a bolsa de colostomia não ser algo muito agradável de se ver.
Situações semelhantes na história? De um candidato que sobreviveu a um atentado político não, mas de candidatos que morreram sim. Nas Américas houve o John Kennedy em 1964 (que fez com que o vice Lyndon Brown Johnson ganhasse - e fosse um dos piores presidentes dos EUA), Luis Carlos Galán na Colômbia em 1989 (era franco favorito e o seu substituto César Garviria ganharia de lavada) e Luis Donaldo Colosio em 1994 (https://www.youtube.com/watch?v=2vfS2MQbeLM - de qualquer forma o PRI, que foi meio que o PT do México, ganharia).
Resumido a história:
1) Bolsonaro precisa sobreviver;
2) Possivelmente as próximas pesquisas Ibope/Datafolha realizadas a partir de hoje mostrem uma "estilingada" do Bolsonaro.
3) No momento subsequente à divulgação (que não sei quando ocorrerá - pode ser ou nesse domingo ou na semana que vem) acabará a trégua contra o Bolsonaro (salvo pelo Alckmin, que foi pego com a brocha na mão e não conseguiu suspender os programas críticos ao Bolsonaro que passarão nesses dias).
4) O contra-ataque dos adversários durará no máximo três semanas, ao contrário das 6 semanas que a Dilma teve para desconstruir a Marina;
5) Como o Bolsonaro ainda está vivo, esses contra-ataques podem sair pela culatra.


Nenhum comentário: