terça-feira, setembro 11, 2018

Notas sobre as eleições presidenciais (8) - Gato de Schrödinger II

Saiu a pesquisa do Datafolha e, como diz a piada, a facada do Bolsonaro só causou 2 pontos. Mas antes de me alongar nisso, vou mostrar o porquê de não se poder fiar muito em pesquisas. Seguem abaixo as últimas pesquisas Datafolha e Ibope realizadas antes do primeiro turno em 2014:

Datafolha (03 e 04 de outubro de 2014):

Dilma - 40%
Aécio -  24%
Marina - 21%
Pastor Everaldo - 1%
Luciana Genro - 1%
Eduardo Jorge - 1%
Brancos/nulos -  7%
Não Sabe/Não Respondeu - 5%

Ibope (03 e 04 de outubro de 2014)

Dilma - 40%
Aécio - 24%
Marina - 22%
Pastor Everaldo - 1%
Luciana Genro - 1%
Eduardo Jorge - 1%
Branco/Nulo - 4%
Não Sabe/Não Respondeu - 5%

Resultado Final 1º Turno:

Dilma - 41,59%
Aécio - 33,55%
Marina - 21,32%
Luciana Genro - 1,55%
Pastor Everaldo 0,75%
Eduardo Jorge - 0,43%
Outros - 0,21%
Brancos/Nulos - 9,64%
Abstenções - 19,39%

Conclui-se que os institutos de pesquisa acertaram a votação da Dilma, da Marina, da Luciana Genro, do Pastor Everaldo e do Eduardo Jorge na margem de erro, mas erraram FEIO com o Aécio - e ambos, sobretudo o Ibope, erraram nos Brancos/Nulos.

Voltemos ao Datafaolha. A pesquisa de ontem mostrou o seguinte resultado:

Bolsonaro  - 22%
Ciro - 13%
Marina - 11%
Alckmin - 10%
Haddad - 9%
Álvaro Dias - 3%
Amoêdo - 3%
Meirelles - 3%
Boulos - 1%
Vera Lúcia (PSTU) - 1%
Cabo Daciolo - 1%
Brancos/Nulos 15%
NS/NR - 7%

Para começar, não acho que nem a candidata do PSTU nem o Daciolo chegam a 0,5%. O Amoêdo é o fator surpresa dessas eleições. e estivesse num partido mais estabelecido garanto que conseguiria almejar um 4º lugar à Covas/89.  O Boulos acredito que está na margem de erro - mas os votos que ele teria com a comoção do assassinato da Marielle Franco se perderão com o esfaqueamento do Bolsonaro. O Meirelles aí já é piada. Sabe o porquê? Em 1989 o Dr. Diretas Ulysses Guimarães, a pessoa mais popular do PMDB, com a impopularidade que o Sarney tinha na época, teve 4,73% dos votos - bastante parecido, aliás, com os 4,38% de votos que o Quércia (outro peemedebista relativamente carismático) teve em 1994 . Por que é que o Meirelles, que não é nem do PMDB autêntico, 0 de carisma, com a impopularidade MAIOR que o Sarney tinha na época irá ter uma votação parecida? Meu palpite é que a votação do Meirelles ficará na casa dos 2%. O Álvaro Dias também sofrerá um processo de desidratação, por mais que seu bastião sulista tenha se mantido.

Agora vamos aos potenciais favoritos: a candidatura do Haddad ainda tem potencial para crescimento, mas aí ele terá que conquistar os eleitores do Ciro no Nordeste, e isso dependerá das alianças regionais. A pergunta é: será que os políticos apoiadores de Lula no NE farão isso? Além disso, o Haddad parece que tem bastante potencial para crescer no Norte (disparou de 2% para 11%

Em relação ao Alckmin, a boa notícia é que ele finalmente chegou nos dois dígitos. A má notícia é que isso não ocorreu às custas do Bolsonaro. Considerando que, ainda mais com o ocorrido, será muito difícil o Bolsonaro perder eleitores, a solução é ele conseguir uma adoção dos eleitores mais classe média da Marina. Mas independente de sua estratégia, tudo pode vir por água abaixo devido à prisão do ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa (e olha a merda que vai acontecer lá: o Requião já está com a reeleição praticamente garantida. Após essa prisão quem muito provavelmente ficará em segundo lugar é o ex-petista - e da Rede! - Flávio Arns).

A Marina está se desmilinguindo a olhos vistos, despencando no Centro-Oeste, Norte e Nordeste (visivelmente perdeu votos para o Haddad em todas essas regiões e também para o Ciro no NE). A que se deveu isso? Acredito que à soma da promessa do Ciro sobre o SPC e do ataque do Bolsonaro à Marina sobre a questão do plebiscito - o avanço dela contra o Bolsonaro no debate da RedeTV pode ter feito sua campanha vibrar, mas considerando o fato do eleitorado feminino do Bolsonaro ter aumentado 3% e o dela ter diminuído 7% (em detrimento, mais uma vez, do Haddad) faz parecer que o efeito do discurso dele foi mais efetivo...

Agora o Ciro: no momento atual é a principal vidraça nas eleições - considerando que os ataques ao Bolsonaro ainda não estão totalmente restabelecidos. Esperem ataques dos dois principais oponentes do Ciro para a vaga no segundo turno que possuem tempo de TV para ataques: PSDB e - principalmente - PT. Reparem como ele está fulo com o PT tanto na questão do Lula como na do Haddad. Ele deve ter tido acesso a pesquisas que mostram que o PT é quem tem o maior potencial para lhe roubar votos.

Finalmente, o Bolsonaro: chama a atenção que a campanha que ele fez no Norte deu resultado: sobretudo com o despencamento da Marina, a diferença para o segundo colocado (Ciro) aumentou para 14%. Além disso, provavelmente um efeito do atentado, ele subiu 5% no Sudeste. Os pontos fracos dele continuam sendo as mulheres (por mais que tenha passado a liderar após a queda da Marina, é uma liderança de apenas 5% e com 17%) e Nordeste, onde suas intenções de voto mantiveram-se em 14%. A boa notícia é que a recuperação dele está progredindo de forma positiva. Agorinha há pouco foi anunciado que ele passará a se alimentar oralmente. O que falta agora é ele finalmente poder ir para o CTI e lá ser liberado para gravar vídeos. E é para mencionar também que a saída dele no hospital será um ato político. Além disso, ele pode fazer um gesto teatral talvez um pouco arriscado, mas de impacto indiscutível: subir a camisa e mostrar a cicatriz na sua barriga mais a bolsa de colostomia. Lembra uma peça do Shakespeare que, mesmo não sendo badalada, é uma das melhores dele: Coriolano. Pode ser arriscada porque provavelmente vai ter gente que achará "nojentinho". Se ele fizer isso, que tome o cuidado para que a bolsa de colostomia esteja vazia.

Ainda vou escrever mais sobre pesquisas, mas será do Ibope, porque surgiu uma informação importantíssima: a intenção de votos em Minas

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