quarta-feira, setembro 19, 2018

Notas sobre as eleições federais 2014 (11) - Lula fora, Haddad dentro (ou: pesquisas paralelas)

Com a pesquisa do Ibope de ontem o eleitorado passou a mensagem de que: 1) FINALMENTE entendeu que o Lula não concorrerá (por mais que o PT continue usando desavergonhadamente as imagem, voz e gravações do Lula; e 2) que o Haddad é o sucessor do Lula. Resultado? O Haddad disparou e se isolou na segunda colocação. Onde que ele ganhou terreno? Claramente entre os eleitores da Classe E (renda de até um salário mínimo, onde o Haddad subiu 17%) e no Nordeste, onde ele subiu 18%. No entanto, deve se notar que o Bolsonaro oscilou para baixo dentro da margem de erro entre os primeiros e subiu ACIMA da margem de erro no NE, estando agora com 16%.

Mas qual é o limite do crescimento do Haddad? A solução é se lembrar de como é que a situação estava em 2014. Na pesquisa Ibope mais próxima desse período, feita entre 13 e 15 de setembro e divulgada no dia 17, a Dilma estava liderando isoladíssima no Nordeste com 48%, a Marina estava com 29% e o Aécio 9%. Anteriormente eu disse que o Ibope errou feio com o Aécio, e isso aconteceu também no Nordeste, onde o Aécio teve 15,38% dos votos válidos. Mas também errou com a Marina, dessa vez pra cima, uma vez que ela teve na verdade apenas 22,76% dos votos válidos. No segundo turno, por sua vez, a Dilma bateu o Aécio na região por 69,78% a 27,56%.

Outro ponto a se notar foi a distribuição dos votos da Marina. Considerando que ela era herdeira de Eduardo Campos, ela ganhou no primeiro turno em Pernambuco com 2.310.700 votos, contra 2.126.491 da Dilma e 284.771 do Aécio. No segundo turno a Dilma conseguiu 3.438.165 votos e o Aécio, 1.459.229. Grosso modo, o Aécio pegou 1,2 milhão de votos da Marina mais ex-brancos e ex-nulos e a Dilma, 1,3 milhão. Peguei Pernambuco por ser um estado importante, mas duas coisas devem ser salientadas:

1) O Bolsonaro pegará menos votos das viúvas do Ciro/Marina que o Aécio pegou da Marina - pois uma coisa é ir da esquerda para a centro esquerda, e outra da esquerda para a direita;
2) Os 28 milhões de votos que a Dilma teve no segundo turno no NE são o TETO do Haddad no NE (com margem de erro de 600 mil votos). Muito embora o quantitativo de votos no NE tenha sido maior em 2014 que em 2010, deve ser salientado que passamos por um estelionato eleitoral e um impeachment neste ínterim (além do que o argumento "se fulano for eleito acabará com o Bolsa-Família" perdeu força)
3) Os quase 8 milhões de votos que o Aécio teve no segundo turno no NE são o PISO do Bolsonaro
no NE
4) Enquanto que o NE tinha 38 milhões de eleitores registrados em 2014, nesse ano já há 39.

Agora vamos a outra região interessantíssima: o Norte. Infelizmente o Ibope agrega o Norte com o Centro-Oeste, mesmo tendo características antagônicas (em 2014, por exemplo, a Dilma ganhou no Norte e o Aécio no Centro-Oeste), mas aqui há uma diferença enorme: enquanto que na Pesquisa Ibope realizada em 2014 a Dilma liderava com 35%, a Marina com 32% e o Aécio estava na rabeira com com 20%, nesta o Bolsonaro está liderando com 32% dos votos, o Haddad assumiu a vice-liderança com 15% e os outros estão com 36% (forçados, pois o Daciolo apareceu com 2%). Para que o Haddad passe o Bolsonaro ele teria que: 1) fazer com que mais indecisos o escolham; e/ou 2) 50% dos 36% referentes aos outros candidatos votassem nele E a outra metade não cogitasse votar no Bolsonaro. É uma diferença grande para ser tirada.

A receita para o Bolsonaro? 1) melhorar logo, para voltar a participar mais ativamente na campanha (e fazer com que o pessoal da sua campanha PARE de bater cabeça); 2) investir nos eleitores do Alckmin, Amoêdo, Meirelles e até alguns do Ciro (da mesma forma que os do Lula, alguns votam no Ciro porque gostam do jeito dele - que, convenhamos, é bastante parecido com o do Bolsonaro). Ele já fez muito bem com a questão do voto útil, e o caminho é esse; 3) fazer com que os que rejeitam ele ao menos anulem o voto na hora de escolher entre o Bolsonaro e o Haddad. Uma eleição ganha-se quando se consegue mais votos E quando o adversário deixa de conseguir votos.

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