terça-feira, agosto 07, 2018

Nota sobre as eleições (5) - Viva a França e antes do primeiro debate.

Superando uma tragédia pessoal, aqui vou eu:

Com as candidaturas praticamente fechadas, com o Lula praticamente fora, chegamos ao seguinte cenário, em ordem de acordo com a pesquisa eleitoral que não pergunta sobre o Lula:

Jair Bolsonaro - Adquiriu um "efeito teflon" inacreditável: hoje acho que nem se falarem que ele já comeu a mãe dele fará com que ele perca votos. Além disso, saiu-se muito bem nas entrevistas tanto no Roda Viva como na Globo News. Observemos como se sairá no debate (que tradicionalmente não vejo, porque a minha opinião não interessa, mas sim a opinião geral - além disso, tradicionalmente os debates na Band têm baixa audiência). Aqui temos que vero seguinte: ele é a pessoa a ser combatida nessas eleições. Será atacado principalmente pelo Alckmin e seu tempo enorme de campanha, sua "linha auxiliar" o Henrique Meireles, o PT, a Marina... Por todo mundo. Isso será "uma faca de dois legumes", podendo dar certo OU fazer com que a maior parte da população que (não tem TV a cabo, não assiste a TV Cultura e deixa a TV o tempo todo ligada ou na Globo ou na Record) começar a se perguntar: "ei, quem é esse cara?". Ter 7s de horário eleitoral também não adiantará nada na campanha. Assim, o Bolsonaro terá que investir bastante em WhatsApp e YouTube (porque no Facebook ele será sabotado). Também não ajuda em nada não ter conseguido um vice expressivo politicamente. Aliás, da mesma forma que Nelson Rodrigues adorava o sobrenome Garrastazu do Médici, não consigo pensar em nenhum nome de guerra para general que não seja mais perfeito que "Mourão". É como o "despachante Palhares".

Marina Silva - Como diz o José Simão, a Marina é como o Brasil em Copa do Mundo: aparece de 4 em 4 anos e PERDE. O divórcio com o PT, sobretudo no pós-Dilma, é bem evidente. Assim, ela será descartada como "voto útil" por grande parte do eleitorado da esquerda. Da mesma forma, o voto de protesto que antes tinha será redirecionado para o Bolsonaro. Terá um grande eleitorado na Zona Sul do Rio de Janeiro (ainda sim perigando concorrer com o Guilherme Boulos), no Acre e olhe lá. O vice dela é o Eduardo Jorge, do PV, mas quem se importa?

Ciro Gomes - O Lula tem birra com o Ciro, não é possível! Conseguiu desidratar bastante o que talvez fosse a melhor alternativa da esquerda nessas eleições. E - mais importante - fez com que o PSB, forte no Nordeste, se declarasse "neutro exceto contra o Bolsonaro". Isso fará com que sua candidatura perigue nem ir para o segundo turno. Terá votos no Ceará, algum ecúmeno nordestino e olhe lá. Sua vice, Kátia Abreu, também não vai ajudar: além de ser odiada no Brasil Caipira por ter se abraçado com a Dilma, e em pleno naufrágio, teve a proeza de ficar em QUARTO LUGAR nas eleições suplementares do seu Tocantins neste ano.

Geraldo Alckmin - Talvez a candidatura mais forte politicamente. Além do óbvio tamanho da coligação (o que fará com que corra o risco de ser justamente taxado como o "candidato do sistema" - além de também ser justamente acusado como "o PT com vaselina"), marcou um ótimo gol convencendo a Ana Amélia (PP-RS) ser sua vice-presidente. Não por ser mulher (isso é uma bobagem da imprensa: mulheres costumam ser preteridas até pelas próprias mulheres nas eleições, e esse fenômeno se acentuou no pós-Dilma), mas por ser da bancada ruralista. Conforme disse antes, o Alckmin terá um grande eleitorado no "interiorrrrr" paulista, provavelmente batendo o Bolsonaro, e a Ana Amélia lhe garantirá um naco importante do interior sulista. PORÉM, prevejo que as eleições no Sul serão bastante balcanizadas ( o Rio Grande do Sul principalmente), tanto pelo Álvaro Dias como pelo (não riam) Henrique Meirelles. Não se surpreendam caso ele vá para o segundo turno.

Álvaro Dias - Se o PSDB fosse um partido mais democrático, o Álvaro tivesse permanecido e fosse o candidato tucano para a presidência ele seguramente ganharia. Mas isso não aconteceu e ele será a pessoa que verdadeiramente tumultuará o meio de campo "centro-esquerda/direita". Possui plenas condições de ganhar no Paraná e tirar nacos importantes do Bolsonaro de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. No entanto, possui um vice inexpressivo politicamente (Paulo Rabello de Castro), de um partido (PSC) cujas únicas forças nas últimas eleições atendiam pelo nome de Jair Bolsonaro e Marco Feliciano.

Fernando Haddad - Sem o Lula, vai o poste mesmo. Sabe-se lá por que cargas d'água o PT achou que alguém que perdeu a reeleição da prefeitura de São Paulo NO PRIMEIRO TURNO era um candidato competitivo a ponto de substituir o presidente condenado. Terá bastante votos em São Paulo, poderá inclusive ganhar no Rio Grande do Sul (visto que com a Manuela d'Avila como vice unirá a esquerda gaúcha) e possivelmente surpreenderá no Nordeste com o apoio de membros do PSB no Nordeste e em Minas, onde eles ainda têm a máquina. Aliás, esse é o primeiro ponto negativo para o Haddad: o PT saiu do governo federal e perdeu o argumento "se fulano ganhar vai acabar com o Bolsa Família". O segundo ponto é que, fora lumiares talibikers da imprensa, ninguém gosta do Haddad.

Guilherme Boulos - O verdadeiro candidato da esquerda festiva. Pode ser que o Psol (cujos membros dizem "piçol") consiga eleger mais deputados que nas últimas eleições após o desencanto com o PT e o affair Marielle Franco (aliás: que merda é essa de se referir à companheira dela como "esposa"? Elas nem "casadas" eram!"), mas - ainda - são inofensivos na política tradicional (fora dela são uns filhos da puta de marca maior, vide o golpe que estão para dar com a legalização do aborto via STF)

Henrique Meirelles - diria apenas "risos", mas há um dado importante aqui: o vice dele será o Germano Rigotto. Sim, é verdade que ele perdeu a campanha pela reeleição ao governo do RS no primeiro turno, mas os gaúchos possuem uma idiotia chamada fidelidade partidária: um típico eleitor gaúcho tende a votar no mesmo partido até o final dos tempos. A proporção de eleitores prudentes (que votam de acordo com o desempenho da pessoa) é mais baixa lá que na média do país. Quem perderá com isso será o Bolsonaro e - principalmente - o Alckmin. De qualquer forma, vejo o Meirelles como o candidato para descaracterizar o Alckmin como sendo "o candidato do sistema". O Meirelles é o bode na sala: quando retirarem-no os tucanos dirão "estão vendo, o candidato do Temer perdeu! Votem no Alckmin! O fato de termos sido mais fieis nas votações que interessavam ao governo Temer, fora o impeachment, é irrelevante! Nós vamos mudar tudo [para tudo permanecer como está]"

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