quarta-feira, agosto 15, 2018

Notas sobre as eleições 2018 (4) - Alckmin, Ciro e Marina

Temos novidades nessas eleições, mas também temos repetições. Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva já foram candidatos à presidente. Vamos analisar a votação deles?

Geraldo Alckmin 
2006
Total de eleitores: 125.913.479
1º Turno Alckmin - 39 968 369 (31,74% do total)
2º Turno Alckmin - 37 543 178 (29,81%)

Trata-se de um caso ÚNICO em países onde há segundo turno nas eleições: um candidato ter MENOS votos que no primeiro turno. A que atribuo isso? A isso:

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O PT estava dizendo que o Alckmin, se eleito, iria privatizar as estatais, com destaque para a Petrobras, a Caixa e o Banco do Brasil. O que o tucano fez? Mordeu a isca. Fazendo isso, mostrou que não era assim tão diferente do PT. E se for para se votar em alguém semelhante, por que não continuar votando no original? E deu Lula de novo (com a força do povo).

Mas vale a pena se alongar um pouco mais com o Alckmin e sua principal base eleitoral: São Paulo. Vamos ver a quantidade de votos que ele teve desde que substituiu Mário Covas no governo do estado, antes de 2002:

Governo
2002 - 7.505.486 (primeiro turno)
         - 12,008,819 (segundo turno)
Presidência
2006 - 11.927.802 (primeiro turno)
         - 11.696.938 (segundo turno)
(aparentemente o impacto do levante do PCC na época não pesou tanto para o Geraldo)
Governo
2010 - 11.519.314 (eleito no primeiro turno)
2014 - 12.230.807 (reeleito no primeiro turno)
Isso mostra o seguinte: desde o 2º turno de 2002 o Alckmin possui um eleitorado praticamente estável pelo menos de mais de 11 milhões de pessoas. Em 2006 isso representou quase 1/3 dos seus votos nacionalmente. Mas nessas eleições há o "fator Bolsonaro". Como disse antes, é bastante provável que o Alckmin consiga ser o vencedor na suas bases, mas caso o Bolsonaro tire uns 40% dos votos dele, seriam uns 4 milhões que podem fazer uma diferença capital para decidir quem irá para o segundo turno. Além disso, faltam menos de 2 meses e a pesquisa mais favorável ao Alckmin em São Paulo foi uma do Ibope de 3 de agosto que o apontava liderando, mas com empate técnico (19% a 16% - sem Lula). É provável que esses números aumentem por causa do horário eleitoral e sobretudo dos spots publicitários.

Ciro Gomes (cearense de Pindamonhangaba)
Como disse, o Ciro tem a seu favor o fato de ter, em tese, uma boa votação no Nordeste. Mas tem como peso o fato de não mais ser o candidato do "voto de protesto" como foi em 1998. O desempenho do Ciro como candidato à Presidência foi:

1998 -  7.426.190 (10,97% dos votos válidos)
2002 - 10.170.882 (11,97% dos votos válidos)

(Deve-se levar em conta que foi apenas em 2002 que se adotou nacionalmente o voto eletrônico - o que, se ajudou a diminuir a confiança na legitimidade do pleito - uma vez que eleição que não pode ser auditada é fraude POR SI SÓ-, por outro lado indubitavelmente diminuiu a quantidade de votos inválidos, uma vez que os analfabetos e semi-analfabetos só precisam decorar os números e ver a cara da pessoa. Isso explica a discrepância na quantidade de votos válidos).

O problema do Ciro é que, após 2002, a atuação política do Ciro se tornou bastante errática: virou ministro do Lula em 2002, teve uma votação maciça para deputado federal pelo Ceará em 2006, fez um movimento político totalmente equivocado ao mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo e tentar ser o candidato ao governo de lá pelo PSB, com apoio do PT - no que foi devidamente rifado pelo Lula. Depois disso se deitou nos louros do caudilhado do Ceará com seu irmão Cid e do afilhado político via PT Camilo Santana.

Mas o problema do Ciro é que ele é big in Ceará somente. Nos outros principais estados do Nordeste (Pernambuco e Bahia) quem parece herdar mais o eleitorado órfão do Lula é a Marina Silva. No caso da Bahia (Paraná Pesquisas, 30 de maio), na pesquisa com o Lula ele ficaria com 43%, o Bolsonaro com 17%, a Marina com 8,3% e o Ciro com 7,1%. Sem o Lula o Bolsonaro fica com 19,5%, a Marina fica com 18% e o Ciro com 13,5%. Já Pernambuco (Datamétrica, 18 de julho), o cenário com Lula é Lula 65%, Bolsonaro 9%, Ciro 2% e Marina 1%. Já sem o Lula seria Marina 14%, Bolsonaro 12% e Ciro 7% (a pesquisa que coloca o Haddad na frente com o estímulo "com o apoio de Lula" deve ser descartada: primeiro pelo viés de confirmação; segundo, porque o Lula estará preso e não aparecerá na TV nem dará um depoimento falado a respeito - apesar de que isso pode ser plenamente falsificado via WhatsApp com a quantidade de imitadores de Lula que há por aí).

Pesará ainda contra o Ciro a falta de tempo na TV

Marina Silva

Em 2010 ela encarnou o voto da esquerda não-petista, obtendo 19.636.359 votos. Em 2014, após a sabotagem (admitamos) que a Rede sofreu na justiça, após ser vice de Eduardo Campos, após a tragédia com a morte deste, após um crescimento espantoso nas pesquisas e após uma campanha terrivelmente suja por parte do PT, ela ainda assim obteve um aparente crescimento na sua base eleitoral, tendo 22.176.619 votos. No entanto, esse crescimento deve ser debitado principalmente (talvez até unicamente) a Pernambuco, terra de Campos, onde ela ficou em primeiro lugar com 2.310.700 votos. Provavelmente a boa votação da Marina em Pernambuco no cenário sem Lula descrita acima deva ser creditada a essa "memória d'água" eleitoral. Deve ser destacada também a votação que ela teve no Rio de janeiro, onde teve 2,590 milhões de votos (31,7% - mais votos inclusive que o próprio Aécio Neves. Na última pesquisa (Paraná Pesquisas, 23 de julho), no cenário com Lula, Bolsonaro lidera com 26,6%, Lula com 25,5% (empate técnico, portanto), Marina com 10,4% e Ciro com 6,1%. Sem Lula, Bolsonaro continua liderando com 29,1%, Marina passa a ser vice com 15,2%, Ciro fica com 8,6 e Alckmin com 4%.
O problema da Marina é o seguinte: mesmo sendo a candidata da esquerda não-petista, ela ainda conseguia se vender como candidata anti-sistema. Hoje quem consegue se vender assim é o Jair Bolsonaro. Além disso, mesmo no campo da "esquerda não-petista" ela terá a concorrência do Ciro Gomes que, se não representa uma ameaça tão séria assim, subtrairá-lhe votos que podem ser capitais na diferença entre ir ou não para o segundo turno. E mais: ela pode esquecer dos 2,3 milhões de votos em Pernambuco, pois a máquina eleitoral local já não estará mais com ela: o governador Paulo Câmara, ao menos até definição final do TSE, já disse que apoiará o Lula.
Finalmente, na casa de ferreiro o espeto é de pau: no Acre (4 de junho, Delta/TV Gazeta), Bolsonaro lidera com 32,50%, Marina fica em segundo com 18,1% e Lula em terceiro com 17,66%. Não houve pesquisa sem Lula.
(e é uma pena que não consegui encontrar nenhuma pesquisa no Pará, estado mais importante do Norte... No segundo mais importante, Amazonas -Instituto Intake Marketing e Pesquisas, 28 de junho -, Lula e Bolsonaro estão em empate técnico  com 28% e 27%, respectivamente, com a Marina aparecendo num distante terceiro lugar com 13,1%).

Pesará ainda contra a Marina a falta de tempo na tv.

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