quarta-feira, julho 09, 2014

Brasil 1 x Alemanha 7 - fatores mundanos da derrota

Primeiro eu disse no ano passado:

Agora, as semis. Pegaria o primeiro do grupo E (que seria a Suíça ou a França), o segundo do grupo F (provavelmente a Bósnia), o primeiro do grupo G (provavelmente a Alemanha) ou o segundo do grupo H (ou Bélgica ou Rússia). Não me preocupo com a França, pois apesar da freguesia recente dessa vez não há nenhum Platini ou Zidane no outro lado. Já a Alemanha é outra história. Claro, eles têm uma pressão psicológica de estarem há duas Copas empacados nas semi (já nós estamos nas quartas...). Mas esse segundo confronto seria imprevisível. No caso, é torcer para que a Alemanha dê um tropeço na fase de grupos ou, se não for possível, que vá pelo caminho (igualmente não acredito, a menos que pegue a Bósnia ou a Rússia nas quartas - alemães costumam cair contra seleções do leste europeu nas quartas, vide Bulgária em 1994 e Croácia em 1998. A Rússia chegando às semi-finais seria algo interessantíssimo....

Depois, eu disse dois dias antes da partida

Tanto o Brasil quanto a Alemanha conseguiram anular a questão do desgaste físico nas oitavas vencendo em tempo normal. Infelizmente, a Alemanha tem a vantagem de jogar com o time mais inteiro (não falo totalmente inteiro porque claramente o Schweisteiger não está 100%). Vale salientar que os alemães fizeram a preparação perfeita para essa Copa: em vez de ficarem reclamando como os ingleses simplesmente foram para um lugar quente pra cacete e isolado do resto do país(Santa Cruz de Cabrália/BA) e treinaram nos horários mais ingratos do jogo, em um centro de treinamento construído por eles apenas para a Copa. O favoritismo é da Alemanha (que já demonstrou ignorar solenemente vaias da torcida), mas fica o alerta: o Brasil está como um animal ferido e acuado. E quando um animal está ferido e acuado ele tende a ser mais feroz... Mas isso é apenas uma torcida. Ou o Fred e o substituto do Neymar entram para arrebentar ou estaremos no sal.

Pois é: eu temia a Alemanha. Uma partida, e uma única final de Copa do mundo jamais podem servir de parâmetros para os jogos posteriores. Fazendo uma análise ex post facto, seria como apostar na vitória do Brasil sobre a França em 1986 (e 1998, e 2006...)  apenas por termos ganho deles de goleada em 1958 nas semi-finais.

O que aconteceu no campo (pois sobre fatores sobrenaturais falarei no próximo) foi o seguinte: 1) o desfalque do Neymar abalou o psicológico do time; 2) o desfalque do Thiago Silva abalou o psicológico E o tático, além de ter sobrecarregado ainda mais o psicológico do David Luiz; 3) a descompostura que o Boateng deu no Marcelo quando ele tentou cavar um pênalti foi a estocada final que deixou a presa pronta para levar os sete tiros alemães. Quem já foi para o mundo germânico sabe que eles são o povo mais grossamente educado do mundo. Quando você faz algo que não é o correto eles não vêm gentilmente pedir para não fazer aquilo, mas sim de uma maneira bastante ríspida, mas que não chega a ser deseducada, até porque a intenção é mesmo educar a pessoa. Em 2002 havia o Lúcio (um cara a quem se você pergunta "bom dia!" ele responde "bom dia por quê?") para revidar. Agora havia um tal de Luiz Gustavo de quem nunca havia ouvido falar até a suspensão contra o Chile. E de um time secundário da Alemanha, que é o Wolfsburg; 4) a pane. Por mais que os alemães fosse melhores, por mais que fossem de qualquer jeito (mesmo se fosse com o time completo não ganharíamos deles), um 7x1 jamais ocorreria em circunstâncias normais; 5) simplesmente estamos em uma entressafra de jogadores, e esse problema vem se arrastando desde 2006. Citem-me jogadores de um Ronaldinho (o careca) ou até do Ronaldinho Gaúcho surgidos desde então; 6) nó tático. Mesmo que não fosse 7x1 ainda acho que perderíamos de goleada. As duas goleadas que o Santos tomou do Barcelona, uma no auge desses, outra nem tanto, devem ser analisadas por todos os técnicos e jogadores brasileiros. Não é só uma questão de falta de talento, mas de uma reciclagem completa. Está na hora.

E agora é hora de comparar com o histórico das outras duas Copas. Histórico que já tenho aqui no blog. Em 2006 eu me lembro que fiquei puto com a Globo tentando promover o Cafu à sua 4ª final consecutiva. Dessa vez fiquei vacinado e não fui nessa de "mesmo sem Neymar dá!". Outra coisa marcante em 2006 foi a teimosia do Parreira em manter o Cafu, o Roberto Carlos e o Ronaldinho em campo. Bom, apesar de os brasileiros não terem puxado o saco dos alemães, nessa Copa também dá para botar o crédito da culpa na teimosia Felipão (e no Parreira também, que foi o auxiliar técnico - lembrando que em 2002 o auxiliar foi o Antônio Lopes). Para começar, não devia ter convocado o Fred. Há muitos outros atacantes picaretas atuando no Brasil e todos eles com um desempenho atual melhor que o dele. Mas tá. O Fred jogou a primeira, cavou o pênalti e não fez mais nada depois. Depois do 0x0 contra o México o Felipão tinha a OBRIGAÇÃO de colocar outro jogador no lugar dele! O Hulk também. Aliás, o Hulk só joga bem para padrões russos. Há muitos outros jogadores picaretas brasileiros que jogam na Europa, etc., etc. Falta um pouco mais de postura contingencialista aos técnicos brasileiros.

E o psicológico, que foi a tônica da Copa de 2010... Naquela época tivemos um excesso de "atitude" e de teimosia do Dunga. O problema é que dessa vez não tivemos salto alto (ao menos em nenhum momento tive essa impressão - se os jogadores se deixaram enganar pelo hino à capela é outra história), nossa atitude foi controlada (não tivemos nenhum cartão vermelho,  como ocorreu em 2006), mas viramos um bando de menininhas choronas! E o cacete essa história de que "é melhor ganhar a Copa chorando do que perder afetando seriedade". VOCÊS SINCERAMENTE QUERIAM QUE O HEXA TIVESSE A ALCUNHA DE "GERAÇÃO EMO", CARALHO!? E sério: pensei que a psicóloga da Seleção ficaria na Granja Comary o tempo todo, e não que fosse chamada "apenas quando necessário". Caramba, a Copa aqui, uma pressão filha da puta para que "o trauma do Maracanã fosse superado", o peso da vitória, o peso da vitória em casa, o peso da vitória após as manifestações... Isso não foi considerado em nenhum momento?

Enfim, essa derrota mais que histórica infelizmente nos deixará com um medo infundado dos alemães (aliás, senti falta dos cartazes em caracteres góticos deles nessa Copa. Davam um chame especial nas partidas deles em 2006). Sério, preparação por preparação também fizemos nossa Copa impecável, que foi em 1958. Além disso, que a primeiríssima partida do Brasil seja no Mineirão, para evitar qualquer marcação com o estádio. E que, por favor, surja um técnico que saiba se adaptar às circunstâncias dos jogos! CHEGA DE TEIMOSIA!

Resumo: 1) CHEGA DE TEIMOSIA; 2) reciclagem; 3) que surjam novos bons jogadores. No próximo post, os fatores sobrenaturais que determinaram nossa derrota.


Nenhum comentário: