quarta-feira, agosto 04, 2010

Eleições 2010 - O Plano Cruzado e prognósticos presidenciais

"Hein, não seria Plano Real?". Não, é Cruzado mesmo. Explico: o Plano Cruzado, de 1986, para a Geração Restart, foi uma tentativa de conter a inflação galopante que ocorreu por toda a década de 80. A principal medida foi o congelamento dos preços. Não estou com muita paciência para explicar os efeitos econômicos disso, mas vocês podem testemunhar hoje na Venezuela quais foram as consequências: desabastecimento dos supermecados e venda a ágio. Já em julho, portanto, o plano já dava sinais de fracasso. Mas...

Há um dado extra que poucas pessoas levam em conta: o político. Em 1986 haveria eleições gerais (bem, quase, porque ainda não haveria para presidente); além disso, os congressistas federais eleitos participariam da futura Assembléia Constituinte para redigirem a nova Constituição. Com o sucesso inicial do Plano Cruzado (principalmente o congelamento) os aliados do Sarney ganharam de lavada. Para vocês terem uma idéia, o PMDB ganhou as eleições para governador em todos os estados menos o Sergipe (onde ganhou o PFL, então aliado do Sarney). O problema é que pouco depois das eleições, em novembro, foi anunciado o Plano Cruzado II, acabando com o congelamento de preços, que dispararam na mesma medida em que a popularidade do Sarney despencava.

Isso foi considerado na época como estelionato eleitoral, e foi o principal responsável por, nas eleições de 1989, Brizola, Lula e Collor (em um partido novo, o PRN, e visto como um "outsider"), ficassem em terceiro, segundo e primeiro nas eleições presidenciais, em detrimento de partidos e figuras tradicionais da política brasileira. O Sarney hoje é um cacique político e bastante poderoso, mas nem em sombra terá de novo o poder que teve como presidente, se escudando apenas no clientelismo do Maranhão e Amapá e do servilhismo que as justiças desses estados (e a do DF também) tem em relação a ele.

(UPDATE - Como fui me esquecer do Collor? Ele foi outro praticante de estelionato eleitoral. Ele se elegeu falando que caso o Lula fosse eleito ele confiscaria a poupança e a propriedade de todo mundo, e uma das primeiras coisas que fez foi justamente confiscar a poupança! Além da cagada propriamente dita, isso fez com que ele sumisse do mapa por 14 anos - infelizmente ele agora voltará para o Executivo, o que diz muito do porquê Alagoas ser Alagoas).

(Estou chegando lá...)

Em 1994, graças ao Plano Real, Fernando Henrique Cardoso ganhou as eleições presidenciais. Ambos tiveram melhor sorte que o Plano Cruzado e o Sarney e o Plano Collor e o Collor. Mas o real tinha um problema: a moeda estava artificialmente supervalorizada (se não me engano, R$ 1,20 para U$ 1). Não, não foi culpa do Serra; ele era parte do grupo mais "desenvolventista" do governo, contra o grupo mais "monetarista" do Gustavo Franco e Pedro Malan, quem deu as cartas no primeiro mandato do FHC. ASSIM COMO NO PLANO CRUZADO, era uma situação insustentável que cedo ou tarde iria deringolar - principalmente com a quantidade de crises financeiras internacionais daquela época. ASSIM COMO O SARNEY, FHC fez tudo para que a crise não estourasse nas eleições. Conseguiu assim ser reeleito.

A situação da economia estava por um fio, por uma gota d'água, e qualquer acontecimento de magnitude média, que em circunstâncias normais não afetaria um país, derrubaria tudo. Esse fio foi puxado, essa gota caiu quando Itamar Franco declarou moratória de Minas Gerais, havendo a desvalorização do Real logo em seguida. Na época houve uma tentativa de colocar toda a culpa no Itamar (principalmente por revistas governistas como a Veja), mas foi algo parecido com o Galvão Bueno narrando o frango do Júlio César, goleiro que incensara tanto, no primeiro gol da Holanda: ele se omitiu, mas todos sabíamos quem era o culpado - para além "daquele ser". Logo, a valorização artificial do real, assm como o congelamento dos preços, foi visto como um estelionato eleitoral pela população brasileira. Felizmente, a desvalorização não trouxe a inflação de volta consigo, o que atenuou um pouco o impacto negativo. Mas o resultado político? Lula eleito.

Lula poderia ter tido seu estelionato eleitoral no episódio do Mensalão - afinal, não era o PT o "partido da ética na política"? Mas a mensagem do "todos fazem", "política é assim mesmo" parece que fez efeito (ou então um estelionato eleitoral não é visto da mesma forma que um estelionato econômico), e ele conseguiu a reeleição. Como parece não haver nenhum estelionato econômico nem político em vista, a Dilma parece ser a favorita para as eleições. O Serra, como PSDB, parece ter resquícios do estelionato eleitoral do FHC. É só pegar os dados do Datafolha, o instituto mais confiável: Serra e Dilma estão em empate técnico com, respectivamente, 37% e 36%. Marina Silva está com 10%. Os eleitores da Marina geralmente são antigos eleitores do PT que estão desapontados com o rumo do partido. Indo para o segundo turno, a maioria votaria na Dilma e ela ganha.

Para a Dilma, não há muito o que fazer na campanha. É só não errar e torcer para que não surja nenhum escândalo político na campanha. Já o Serra, além de fazer um programa de governo robusto, deveria se concentrar no fato do Lula ter sido ENTREGUISTA (o FHC ao menos vendeu, o Lula deu) e questionar a relação do PT com as FARC. Quanto à Marina, é cultivar uma imagem positiva para tentar o Senado nas próximas eleições. Parece estar dando certo com o Cristovam...

Nenhum comentário: