terça-feira, abril 14, 2009

A encruzilhada das cotas

Quem diz que as cotas são incompatíveis com a realidade brasileira pode soltar fogo agora. Ontem passou no Jornal Nacional o caso da universitária que entrou pelo sistema de cotas na UFSM e teve a matrícula cassada pela reitoria. Segundo o pró-reitor, ”é preciso o auto-reconhecimento, eu devo me
sentir negro e devo sentir os efeitos dessa condição numa
sociedade, numa cultura. Ela não se sente mais ou menos negra ou
parda do que qualquer outro parente seu e de que nunca usou a
categoria de parda ou negro em outra situação que não a
inscrição para o vestibular” (confiram o link).

Chegamos ao grande ponto: as cotas são originárias dos EUA, correto? Chegaram aqui graças ao contínuo lobby da Fundação Ford, que, mesmo após a Suprema Corte norte-americana vetar o sistema de cotas para o acesso a universidades continua com modus operandi cotista. Engraçado que pra esse tipo de imperialismo todo mundinho acadêmico fica calado...

Porém, esqueceram de uma grande diferença entre os EUA e o Brasil (e nem falo de como a escravidão foi resolvida lá* e cá), mas sim no critério de identificação. Enquanto que nos EUA se você teve um bisavô negro (1/8 de ascendência, portanto) você é negro, aqui o que vigora é a auto-declaração (se você acha que é negro você é negro, se você acha que é moreno você vai para a categoria "pardo"** - embora o IBGE, por pilantragem estatística, esteja considerando os "pardos" como pretos). Nessas horas aquele "substrato 1/8" se manifesta e entra em conflito direto com a "auto-declaração", tornando-se incompatível com a tradição legal brasileira.

Hum... Talvez ainda esteja cedo para dizer isso, já que o STF ainda está por julgar a constitucionalidade das cotas...

*Todos sabem que a escravidão nos EUA acabou de uma vez, graças à Guerra Civil, enquanto que por aqui acabou aos poucos. O que pouca gente sabe que o Lincoln, apesar de abolicionista, era favorável à uma "solução brasileira" para a abolição. Quem duvida pesquisem a torrente de artigos que saiu sobre ele quando da posse do Obama

** Qual a dificuldade em substituir de vez a categoria "pardo" por "moreno"!? Ninguém em sã consciência fala que é "parda"! Pardo é cor de envelope, não de gente!!!

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