sexta-feira, março 20, 2009

Livros lidos em 2009: 1- O Jardim das Aflições, de Olavo de Carvalho

Em um ano que prometia ser parado em termos de tudo, até que as coisas estão saindo muitíssimo melhor que eu pensava... Tirando a falta de trabalho, tudo está bem. E fevereiro terminou de uma ótima forma. Meu tio ligou para mim e disse:

- Lobo, conhece o Olavo de Carvalho?

- Claro!

- Tô com um livro dele sensacional aqui, "O Jardim das Aflições", quer emprestado?

- Sim, pode me dar!

- Esse não vou dar não, apenas emprestar...

E meu pai trouxe o bendito. Começei a ler na sexta, acho, e terminei hoje. Resumindo meus sentimentos: "Pensava que conhecia o Olavo Parente, mas a coisa é 'pior' do que eu pensava...". O PT, o Foro de São Paulo, os crimes do comunismo, todos são temas secundários do livro - o Foro nem é citado, na verdade.

Vamos ao resumo: o pretexto para o Olavo escrever o livro foi uma palestra sobre Ética em 1990, no MASP. Lá, ele fica pessimisticamente embasbacado com uma palestra sobre Epicuro, de um tal Mota Pessanha (tal é modo de dizer, pois o sujeito foi quem fez a compilação de "Os Pensadores", da Abril - composição dos pensadores bastante criticada pelo Olavo, diga-se). O que deixa o campineiro possesso foi a promoção de Epicuro (filiado ao hedonismo e, consequentemente ao materialismo) à primeira divisão dos filósofos clássicos, em detrimeto de Platão e, principalmente, de Aristóteles.

(Adendo: por duas vezes tentei encontrar na biblioteca da UnB o "Aristóteles em Nova Perspectiva" para usar na minha tese de mestrado, o que - infelizmente - não consegui).

A partir daí ele reflete sob a questão e conclui que o pensamento Pessanha não passa de uma síntese de algo infinitivamente mais profundo. O livro é dividido em 5 partes: Pessanha, onde há a contextualização da história; Epicuro, onde há a análise da filosofia do sujeito e a sua consequente desmoralização, pela incongruência absoluta; Marx, onde Olavo justifica que a influência do grego antigo é muitíssimo mais marcante do que um pobre marxista (um oxímoro, eu sei - obs 12/9: na verdade, quis dizer redundância) poderia pensar.

Os outros dois eu cito separado porque são umbilicalmente interligados Os Braços e a Cruz e "Caesar Redivivus", contém uma sublime visão metafísica e uma potente análise histórica e histórica das idéias. Vamos lá porque a coisa é pesada: pela análise metafísica do Olavo, toda religião pode ser resumida em 4 aspectos: Deus, alma, Mundo Humano e Mundo Natural, e as diferenças seriam meramente no enfoque: todas partem de Deus (o budismo oculta um pouco, mas o que Buda não seria senão o mensageiro do Divino?), mas umas enfocam mais a alma (budismo), outras na comunidade humana (judaísmo), etc.

Já a análise histórica (ocidental) é a relação pendular entre a religião de César (oficial, e restrita ao Mundo Natural e Humano) e a religião de Deus no decorrer da história. Após o triunfamento inicial da segunda sobre a primeira, a anarquia pós-Império Romano faz com que a Igreja tenha que voltar um pouquinho com a religião de César pela ascenção do Império Franco. A religião de César é mostrada como ressurgindo pouco a pouco e possui seu ponto culminante com o surgimento... da União Soviética? NÃO, DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA!!! Quem achava que conhecia o O. de C. caiu do cavalo com essa. A Revolução Americana seria mais maléfica que benéfica (apesar da democracia ser boa por permitir a manifestação das idéias divergentes), pois mostrou que um Estado acima das religiões era possível. E o que não seria esse Estado acima das religiões uma religião ela mesma? Isso seria o semente da consolidação da religião de César.

Bom, o livro é bastante complexo para as suas mais de 300 páginas, mas o O. de C. possui uma linguagem bastante clara para um filósofo (falo isso do ponto de vista de um leigo que já leu algumas obras filosóficas e apenas ficou na tentativa em muitas outras). Leitura obrigatória.



Nenhum comentário: