terça-feira, maio 27, 2008

Livros lidos em 2008: 1 - Brasil, um país do Futuro, de Stephan Zweig

Pois é, com essa coisa de trabalho e tese de comércio exterior está complicado arranjar tempo (e saco) para ler livros. Mas de ontem pra hoje devorei esse, que originou nosso lema (e carma) de ser o "país do futuro". Para quem não sabe, Zweig foi um judeu austríaco não-praticante, ativo nos circuitos culturais de Viena na época que, com o Anschluss, se mandou para a Inglaterra, EUA e, finalmente, Brasil. Os detratores dele (em parte porque parece que ele recebeu subsídios do Vargas para falar bem da Terra dos Papagaios) falam que para escrever um livro com esse título ele só poderia estar maluco e por isso se matou junto com a mulher em 1942, mas na verdade ele se desesperou com a queda da França na II Guerra.

Os primeiros três quartos do livro fazem um apanhado geral da história brasileira, sempre ressaltando nosso caráter pacífico e pela convivência idem entre as raças. Compreendo ele: andei por praticamente todo o Império Austro-Húngaro e captei o espírito da I e II Guerras ali. Parêntesis: isso é o que os brasileiros deveriam prestar mais atenção antes de apoiar bobagens como as cotas; o que se chama de "preconceito racial" não é nem nunca foi nem UM DÉCIMO do que aconteceu/acontece na Europa e EUA. Voltando: Zweig filia-se a Freyre e Ribeiro no reforço à tese de mistura das raças. Ele dá um destaque interessante à importância dos jesuítas (cita bastante Manuel da Nóbega) na formação espiritual e da unidade brasileira.

Já o pouco mais de quarto final fala do périplo que o autor fez pelo Brasil até voltar para os EUA. Começando pelo Rio de Janeiro, ele fica embasbacado como todo e qualquer estrangeiro (tá bom, Brasileiro). É uma outra amostra do "Rio velho que já não existe mais": há Bondes, pode-se andar tranquilo nas favelas, Copacabana é a praia de luxo, Ipanema e Leblon ainda estão por serem ocupadas e a Barra da Tijuca então nem se fala. Depois ele vai para São Paulo. Há a menção da rivalidade com os cariocas, a mentalidade "trabalho, trabalho e trabalho" e os arranha-céus. De lá, ele vai para Campinas ver e provar o café.

Voltando para o Rio, pega um avião até Belo Horizonte e clama as belezas de uma cidade planejada (você que lê isso faça o seguinte: veja Belo Horizonte no Google Earth, dentro de um "anel rodoviário" -na verdade a Av. do Contorno- parece bem-planejado, não?; pois é, aquilo era ORIGINALMENTE os limites de Belo Horizonte...). De lá vai para Ouro Preto, ainda por estrada de terra. Fica besta com a capacidade dos artesãos (cita Aleijadinho) em fazerem obras de arte sem ter nenhuma referência do barroco europeu. De Belo Horizonte ele vai para Salvador e fica embasbacado com a cidade, as baianas e o acarajé (e ainda deu sorte de ir na festa do Senhor do Bonfim!). Seguindo para Recife (não sem falar que, com o planejamento urbano que o então prefeito estava fazendo a capital pernambucana cidade-modelo - outra previsão errada...) para provar o açúcar, ele pega o avião até Belém, fala um pouco sobre a borracha e depois se manda para os EUA, quando o livro termina.

Opinião: Sempre é bom ver opinião de um gringo sobre nós tapuias e, noves fora o tom getulista, Zweig não foge à regra. É o tipo de livro que daria a meu amigo estrangeiro. Mas aquela coisa de "brasilerra ser tão bonzinha" está 100% datada. Mas é muito bom. Se puder, contrabalanceie dando "Tristes Trópicos" do Levi-Strauss, onde ele desce o sarrafo no Rio de Janeiro.

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