quinta-feira, junho 28, 2007

Bruno Tolentino, RIP

Ontem morreu o poeta Bruno Tolentino, aos 66 anos. Tenho que confessar uma coisa: não sei apreciar poesia. Sou um eqüino de orelhas enormes nesse aspecto. Salvo Omar Kayan (sic) e seu Rubayat (sic - meu persa é horrível), onde há um niilismo boêmio da melhor espécie (os xiitas já gostavam de vinho um dia - hoje os bons vivants têm que contrabandear bebida dos armênios em Teerã), sou incapaz de apreciar a sensibilidade de uma boa poesia que não fale sobre decepções amorosas.

Voltemos ao finado Tolentino. Como eu disse, por ignorância assumida e sempre inconormada, (pensava que) não o conhecia, salvo algumas vezes que o Olavo de Carvalho o enaltecia em alguns de seus artigos. Como o Tolentino era poeta (e por pensar que ele estava morto - meus instintos pavlovianos me diziam que os poetas bons já se foram desse mundo), nunca pesquisei muito sobre o assunto até ontem, no dia do seu falecimento. Primeiro, o Reinaldo Azevedo (o fato de tê-lo criticado não significa que não deixo de ler) lançou uma post de pesar, e muito sentido. Pensei: "bom, devia ser amigo dele, paciência". Depois, no site do Olavo de Carvalho, a mesma coisa, onde ele diz que "Tolentino foi o maior poeta da língua portuguesa depois de Camões". Pensei: "O quê!? O Olavo fazendo um elogio desses? Sinal que esse Tolentino deve ser bom mesmo...".

Daí cheguei no meu quarto de hotel (estou em Betim, quase com a carteira assinada). Ponho na Rede Minas (tv pública) e lá aparece uma homenagem ao Tolentino com a reexibição da reportagem dele divulgando o que agora é sua última obra lançada em vida, A Imitação do Amanhecer. Os detalhes essa mente mal-dormida não se lembra, mas fiquei impressionado dele falando que se trata de um épico em sonetos alexandrinos (!) com narração a partir de três pontos de vista (!!!) e que ele sentia uma pena antecipada do leitor já que os poemas poderiam ser lidos de forma linear, separados, ciclicamente, etc. e que ele, que era o autor, não conseguia mais terminar de ler a sua obra (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!). Quando me estabilizar aqui em Betim esse vai ser meu próximo livro depois de Crime e Castigo.

Não, o post não acabou. Agora vem a melhor parte: hoje o Reinaldo Azevedo pôs em seu site uma entrevista que o Tolentino deu para a Veja em 1996. E EU LI ESSA ENTREVISTA NA ÉPOCA!!! Tinha 15 anos, estava no segundo ano e obviamente não tinha idéia de quem era Wittgenstein e outras pessoas mencionadas na entrevista, um burro completo (hoje sou apenas meio burro, já que, espinozamente falando, os conheço por "ouvir dizer"), mas eu já me incomodava que usassem músicas da mpb e do BRock em questão de provas de português. E o Tolentino meteu o dedo na ferida. Foi a primeira vez que tive contato com essa diferença entre "alta cultura" e "baixa cultura". Se hoje eu sou uma pessoa medíocre, mas que sabe qual é o caminho da salvação para sair dessa barafunda (se não saio é por preguiça, defeito intrisecamente meu), é por culpa
de pessoas como o Tolentino. A entrevista na Veja sai no próximo post.

Nenhum comentário: