quarta-feira, maio 02, 2007

Sobre atos românticos

Conversa de agorinha no msn:

Johnny diz:

Lobo...
Johnny diz:
acabei de fazer a coisa mais romantica da minha vida
Johnny diz:
embora...não valha de muita coisa
Johnny diz:
vc ta aí?
Lobo diz:
sim
Lobo diz:
o que vc fez?
Johnny diz:
tinha um buraquinho no chão, no condominio dela, q parecia um coração...e ela sempre quis enchê-lo ou pintá-lo mas isso nunca aconteceu...
Johnny diz:
hoje de manhã, fui lá com tinta e pincel, driblei todo mundo (e ainda fui expulso do condominio) e pintei o coração
Johnny diz:
mesmo q não de em nada....eu fiz a coisa mais romantica da minha vida hj
Johnny diz:
e escreví um texto q ou colocar no fotolog
Johnny diz:
q me fez chorar cara....

Me fez lembrar o meu ato mais romântico da minha vida. O ato foi um pouco motivado por ódio: haveria SBPC (tipo um seminário geral de todos os campos de estudos) em Goiânia na metade de um ano que agora não me lembro - se não me engano em 2001. E eu estava me preparando para viajar com os colegas da faculdade e tocarmos o terror lá. O Daniel, o Matheus e o Henrique (um goiano crente com quem meio que rompi por tabela depois do affair Camila, já que ele era muito chegado do Daniel) constumavam ir para Goiânia no fim de semana farrear. E me preparei pra psicologicamente ir com eles. Recusei oferta do meu pai para que ele pagasse a estadia pra mim em hotel lá para que eu fosse com eles e farreássemos juntos.

Chegando no fim de semana do SBPC, o Henrique fala que "Ah, mas não dá para dormir todo mundo na casa do meu irmão lá em Goiânia..."
. Meu, pelo fato de eu falar sempre que queria ir muito no SBPC em Goiânia por UM LONGO SEMESTRE eu pensei que seria óbvio pra aquele crente filho da puta (com o perdão da redundância) de que eu iria com eles. Mas nãããão. É que nós cancerianos temos a mania de pensar que nossos atos e nossas indiretas são claramente perceptíveis para as outras pessoas. Mas acontece que não consideramos o fato de que existem pessoas insensíveis no mundo.

(Um adendo: o Daniel, apesar de ter ficado mal com isso, foi pra Goiânia mesmo assim. Isso pra mim hoje é sinal de que a amizade não era de verdade, de que se ele se importasse de verdade ele não teria ido pra Goiânia - um pouco de altruísmo faz bem pro coração, mas na época eu compreendi esse 'egoísmo' da parte dele. Dois anos depois eu aprenderia da pior maneira qual era seu verdadeiro nível de lealdade...).

Na quinta-feira que eles foram embora, eu comprei uma garrafa de cachaça e ameacei bebê-la toda e cair no choro, mas tive uma idéia melhor: resolvi canalizar a raiva para algo positivo - sem contar que não aguentei beber mais de dois goles da cachaça e joguei fora a garrafa. À noite, eu pesquisei na internet como que se escrevia as letras em hebreu, árabe, grego, coreano e japonês.

No dia seguinte, comprei 10 metros de papel pardo (em 5 partes de 2 metros), um vidro de tinta guache preta, um pincel e fita crepe e fui pra minha faculdade sentar no chão e fazer arte. Escrevi "Michelle: eu te amo Ass. Lobo" nos alfabetos acima (em japonês ficou 'Michere') e em russo (eu aprendi cirílico por minha conta) e fiz nos quatro papéis - obviamente não foi nas línguas originais, mas em português transcrito para os alfabetos acima. Voltei pra casa.

Na segunda seguinte fui cedinho pra UnB e coloquei os cartazes - não fiz isso na sexta com medo de que algum vigia arrancasse-os. Dois eu coloquei em cada entrada da minha faculdade, outro eu coloquei perto da xerox da faculdade, um na entrada do Minhocão (prédio central da UnB onde todos os cursos se confluem - onde rola aquelas matérias nada a ver que existem em todos os cursos) por onde eu sabia que ela passava e o outro eu deixei como reserva caso algum deles fosse arrancado.

Quando eles voltaram de Gyn e me perguntaram o que fiz no fim de semana, eu falei "Eu fiz isso" e indicava os cartazes. Não escrevi isso em alfabeto latino porque 1)seria demonstrar ser idiota demais (mas não seria de amor se não fosse idiota, já diria a poeta...); 2) vergonha/covardia. Enfim, obviamente a minha 'intervenção urbana' passou desapercebida por ela, que só viria a saber dos meus sentimentos pela Fabiana, aquela amiga minha que estudou com ela no Objetivo e estava no mesmo curso que a gente. Mas essa é outra história...

Esse foi o meu maior ato romântico. Pelas decepções que veio depois, eu perdi completamente a capacidade de ser ridículo dessa forma. Se na época eu era como o Zacarias, hoje eu tô mais pro Louco do Piazzolla


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