segunda-feira, abril 23, 2007

Os meses em que meu mundo caiu (3)

Onde que eu parei mesmo? Ah, na segunda posterior ao sinistro. Continuemos.

Na quarta eu fui no centro espírita. Minha família é espírita convicta, e eu até aquela quarta também era. Estava na terapia de desobsessão, e calhou de que naquela semana seria uma nova etapa na terapia, em uma nova sala, com novos médiuns, etc. Engraçado, até a quarta anterior eu estava evoluindo... Enfim, eu estava lá, completamente desolado, arrasado na alma, precisando de algum gesto que simbolizasse algo como "Lobo, você está mal, mas pode confiar na religião, ela se faz presente nessas horas de dificuldade mesmo, e vai te ajudar a superar isso!". Fosse assim tão fácil... Não me lembro se chegamos atrasados no culto (acho que sim), mas meu nome era o quinto na lista dos que iriam pra desobsessão.

(Pra quem é de fora funciona da seguinte maneira: vc vai pra uma sala onde só há médiuns. Uma pessoa fala pra eles quem você é, onde mora e os médiuns dão detalhes espirituais sobre vc e sobre os 'irmãozinhos', espíritos que não vão com a tua cara por besteiras q vc fez na sua encarnação passada. Daí os médiuns incorporam um ou dois espíritos mais exaltados, os outros (mais a 'tropa' dos espíritos bons, os protetores) fazem um trabalho para que aqueles lhe deixem em paz. Grossamente falando é tipo uma cerimônia de encosto, mas sem demônios e sem que você incorpore).

Estava muito mal, e acreditava na conversa deles de que "os médiuns sentem quando uma pessoa está precisando de ajuda urgente", mas civilizado que sou, esperei pacientemente os que estavam na minha frente irem primeiro pra sala. Nisso, depois de eu ter chegado, aparece uma grávida pra sessão tb. Ok. Espero os 5 sairem. Chega a minha vez, mas quem chamam? A grávida! Aí perdi a minha civilidade e fui embora do recinto pro estacionamento do centro espírita. Minha mãe foi desesperada atrás de mim, depois até apareceu o chefe da sessão lá pedindo pra eu voltar. E eu voltei, mas a minha confiança já tinha sido quebrada. Nunca mais consegui acreditar no espiritismo...

Resolvi viajar pra dar um tempo. No feriadão de Corpus Christi, eu fui pra Pains-MG (perto de Formiga e de Arcos, local do não tão famoso Massacre de Arcos) pro glorioso Carnapains, com meu primo, Gustavo. Teve o primeiro dia e foi razoavelmente legal. Infelizmente, não teve o segundo dia. Meu avô, que tinha sofrido uma queda uma semana antes, falecera no hospital em Lavras-MG. Daí fomos eu e meu primo pro enterro (quem deu carona pra gente foi outro primo do Gustavo, o Rodrigo - hoje eles são inimigos, por questões $$$ seríssimas). Desde o século passado eu não ia pra Lavras, por causa de um pequeno trauma na volta em 1999 - no ônibus direto Lavras-Brasília, teve um moleque filho da puta que ficou chorando A VIAGEM INTEIRA!!! Por isso hoje quando vou pra lá faço o Brasília-BH-Lavras, que pode ser mais demorado, mas não tem moleque chorando. Eu até não estava tão mal pela morte dele, mas quando eu vi a minha avó, miudinha, com os olhos vermelhos de tanto chorar eu não aguentei. Pro enterro vieram meus tios (de Brasília e de Porangatu, na pqp do Goiás), meus pais, minha irmã e a irmã do Gustavo, a Cláudia. Foi foda. Só meu pai, a.k.a o homem sem lágrimas, não chorou. Isso em junho.

Com o sinistro em maio, eu perdi o ânimo pra continuar investindo na Michelle. Nesse período, ela conseguiu um patrocínio (tava superendividada na época da formatura) da Brasil Telecom pra fazer uma turnê na região norte. E chegou 2 de julho, o aniversário dela. Nesse dia, me enchi de coragem pra ligar pra ela desejando os parabéns. Liguei, ela ficou feliz e tal. Até que resolvi perguntar quais eram os planos pro dia... Ela respondeu "ah, vou comemorar com o MEU NAMORADO...". Aquilo terminou de me destruir. Sem contar que acabou qualquer possibilidade de reabilitação com o Daniel, porque se ele e a Camila não tivessem feito a merda eu teria sumido pra ela entre maio e julho. Por causa disso, também perdi o ânimo pra fazer a MINHA festa no dia 21. E decidi que haveria só um almoço com a família...

Mas não, ainda não terminei. Sempre no aniversário almoço no restaurante chinês (aqui em casa todos menos eu têm problemas estomacais, e não são de temperos picantes e comidas fortes), mas eu queria comer mesmo um hadoque defumado ao molho de alcaparras, no restaurante alemão que havia aqui perto. Como é um prato complicado, tem que pedir pra fazer um pouco antes de ir pra lá. Quando a minha mãe ligou, a surpresa: eles não faziam mais hadoque (o restaurante estava decadente e acabou falindo depois)! Aí outro faniquito da minha parte: fui embora de casa pra debaixo de um viaduto também aqui perto. Fiquei uma meia hora sem atender o celular, e quando atendi falei: "ou vai ser hadoque ou nem almoço em família vai ter!". Acabamos indo pro Fritz, um restaurante austríaco que tem aqui em Brasília, e que tinha hadoque (até comi um pouco de foir gras por engano :S). De noite, dou uma saída pra comemorar sozinho no Kranga's (trailer muito bom de hamburguer aqui na quadra), e quando volto, uma festinha surpresa! Minha mãe chamou alguns de meus amigos sem eu saber. Chamou o Matheus, a Fabiana, o Victor e a Maira e a Tatiana mais o marido. Até a segunda viagem pra Rússia, em dezembro de 2003, o inferno astral daria um tempo

A Tatiana foi uma colega minha do mestrado. Foi a mulher mais inteligente que já conheci. Infelizmente faleceu de câncer no ano passado. Era budista agnóstica. Espero que tenha alcançado o Nirvana. Se existem céu e inferno, espero que ela esteje no céu, porque se Deus botar ela no inferno só porque ela não acreditava nele então quando morrer quero ir pro inferno, pois o céu não valerá a pena.

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