sexta-feira, abril 13, 2007

Os meses em que meu mundo caiu (1)

Resolvi finalmente escrever os detalhes do pior momento da minha vida aqui depois que li o Nelson Rodrigues fazer o mesmo sobre seu pior momento, que foi o testemunho do assassinato de seu próprio irmão no jornal do pai e a morte deste por não suportar que o filho tenha sido morto no lugar dele. Esse conjunto de crônicas está na coletânea "O Reacionário", que felizmente será relançada em breve.

Em algum dia de maio que não sei e nem quero saber qual é vão completar quatro anos do acontecido. Mas a história começa antes. Muito antes.

Em fins de 2001, por influência de dois colegas meus da universidade que haviam ido para a Rússia numa viagem organizada por um professor de Rel, P******* (bichona louca) e achado tudo ótimo - como era diferente viajar para países não-tradicionais, etc. (aquele papo esquerdista universotário que eu também fazia parte) - eu resolvi que na próxima viagem dessas eu iria. Um deles, o Daniel, era meu amigo dos tempos do segundo grau. Estudamos o segundo e o terceiro ano juntos, passamos no mesmo semestre pra UnB e eramos unha e carne (esse outro, o Matheus acabou virando meu amigo, fizemos mestrado juntos, viramos unha e carne e hoje virou também meu ex-amigo - mas isso é uma outra história que ainda estou processando, por ser mais recente). Bom, a viagem seguinte seria para a China.

Divulgação aqui e ali, formou-se um grupo considerável de potenciais viajantes para a China em uma matéria de extensão. Esse grupo diminuiu com o tempo, seja pelo custo da viagem (dólar a R$3.50, se lembram? - eu fui por votrocínio e com uma puta grana que tinha guardado na poupança, coisa de R$ 9 mil, que tava economizando para fazer mochilagem na Europa Ocidental - mas acabei me esquecendo disso com o tempo) seja porque o P******* era uma bicha temperamental daquelas. Enfim, os estudantes dessa matéria fizeram uma feijoada num sábado para o povo da embaixada da China na casa de um cara que acabou ficando meu amigo, mas com quem perdi contato. E lá fui eu ajudar na mis-en-place. Foi quando tudo começou.

A garota em questão chamava-se Camila. Em determinada hora na feijoada (não como feijão, e não me lembro do que comi no dia) estavamos sentados lado a lado naquelas cadeironas de rancho. Eu estava na minha, nem tava me importando com ela. Até que ela, sem mais nem menos, deita a cabeça no meu ombro! Antes daquele dia talvez eu tenha trocado umas três ou quatro palavras com ela e nem me importava. Afinal, eu estava muito perdidamente apaixonado por outra garota a Michelle, que entrou comigo na graduação e que também é personagem dessa história. Enfim, até então a Michelle era algo 100% platônico e distante - mal tinha coragem de olhar pra ela.

Voltemos à Camila. Eu sou um cara tímido, extremamente sem jeito com mulheres. Eu assumo isso - estou melhorando, mas preciso melhorar em muito ainda. Agora ponha-se no meu lugar: o que você faria se uma mulher que você mal conhecesse e com quem mal trocasse idéias, em um dia de conversas maior que o usual ela vem e no meio do nada apóia a cabeça no seu ombro? Bom, eu pensei que "ela sente algo por mim". Sim, é fácil você rir disso. Eu mesmo me acho um idiota por ter deixado que esse sentimento aflorasse naquele dia, mas enfim, aconteceu.

O foda vem agora, ela tinha namorado, o tal Pedro. Mas esse namoro terminou no dia da viagem pra China, quando não quis ver eles se beijando na despedida. Tá. Vamos à viagem. Acontece que a Camila acabou se tornando a única mulher disponível do grupo (tinha duas mestrandas e uma doutoranda que deviam ter o dobro da nossa idade na época e uma japonesa que foi com o namorado - depois essa japonesa terminou com ele e pirô piroca, fazendo uma bruta de uma tatuagem no lombo maior que a minha mão (de garota meiga virou clubber, mas essa é uma história que não conheço nem me diz respeito). Tinha também duas bichinhas que viajaram também. Uma fazia Rel no Ceub e ficou arrozando a Camila sem parar, o que me deixava puto, e a outra fez amizade com essa bichinha (essa outra é casada e até é pai, mas não engana ninguém). Também foi o dono da casa da feijoada (Thiago), o gordinho que chutou o gato dele a la Joselito, o Poeta (mantenho contatos esporádicos com esse pelo msn até hoje) e o Daniel (o Matheus não conseguiu dinheiro pra ir). Ah, também foi o professor.

Ainda na primeira parada, em Pequim, a companhia de viagem resolveu trocar a gente de hotel, não sei porque cargas d'água. Falaram que o hotel que estavamos era ruim (não era!) e iriam botar a gente num melhor (acabou sendo pior). Na hora das mudanças das malas, o P*******, que vivia reclamando da saúde, reclamou com a gente que ninguém ajudou ele, e a Camila resolveu responder. Pra quê. Ele deu o maior esporro nela, esporro daqueles de gritar mesmo. Obviamente ela chorou, e obviamente eu fiquei extremamente puto com o professor, mas não falei nada. Fui consolar a Camila.

O foda é que toda hora ela ficava falando no maldito do Pedro. "Purrrque o Pedro isso, purrrque o Pedro aquilo", com aquele sotaque (que acho nojento hoje exatamente por todo o acontecido) de paulista de interiorrr, principalmente se vem de cidades fronteirícias com Minas. É foda ficar ouvindo de uma mulher de quemque você está afim sobre outro homem, seja namorado, ex, pretendente, o que for. Meu id tem vontade de falar: "Caralho, para de ficar falando de outro na frente de mim, porra! Eu tô afim de você, se você não sabe, mas me respeita, cacete!", mas meu superego idiota nunca deixa. Voltemos. A viagem prossegue e chegamos a Xangai, no último dia, quando fomos no Hard Rock Café de lá bebemorar, e encontramos a mesma banda filipina que tocou no Hard Rock Café de Pequim. Nesse momento aconteceu algo importante para o desfecho: o Daniel deu umas indiretas pra Camila e ela aparentou corresponder. Mas era o último dia e todos (salvo o casal de namorados) ficamos no 0 a 0.

Acontece que a Camila depois da China faria intercâmbio de francês por 6 meses em La Rochelle, França. O que eu fiz? Fiquei mandando pra ela por esses seis meses um resumo de tudo o que acontecia no Brasil (primeira manifestação do PCC, se não me engano, Copa do Mundo, debates eleitorais, etc.). Vou parar a história na iminência da volta dela, em setembro de 2002, mais ou menos. Here comes the pain...

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, sou eu de novo(fui o primeiro a comentar ``os meses em que meu mundo caiu(2)´´). Eu só queria dizer que quase fiz rel, só não fiz porque meu pai me torrou o saco até o limite do limite, por isso depois de fazer 1 semestre de medicina na Católica porque minha mãe quis (a primeira metade de 2007), eu vou fazer direito no CEUB. Bom, a prova é amanha às 9 da manha, dia 24 de junho. 2007, o pior ano da minha vida. É, até que somos bem parecidos, tanto nas tragédias quanto nos gostos. Boa noite.