sábado, outubro 06, 2012

Refutações às correntes teses sobre o "feminismo" (e outros ismos) que vivo vendo no Facebook (3)

3. “Homens e mulheres não são, nem nunca serão iguais!”

http://papodehomem.com.br/feminismo/#feminismo3

O feminismo não defende que homens e mulheres são biologicamente iguais, mas sim que devem ter direitos iguais.

Depende do feminismo. Se for o extremado misândrico, não, pois defende que as mulheres são superiores aos homens. Se for o feminismo tradicional, sim. Mas serei bonzinho e considerarei a segunda concepção. Será que valerá a pena?

Muitas vezes, entretanto, só se alcança a igualdade ou equivalência de direitos justamente atentando para as diferenças. A expressão constitucional “todos são iguais perante a lei” é mais corretamente interpretada se dizemos “tratar diferentemente os desiguais para que tenham acesso equivalente ao direito que a lei confere a todos”.

Aqui já não estamos falando de igualdade, mas sim de equidade; porém, tudo bem. Um exemplo de equidade que concordo e é relacionado ao feminismo é em relação à Maria da Penha. Outro, que discordo, é a das cotas para mulheres em conselhos de administração de empresas privadas.

(Alguns leitores da versão prévia desse texto pediram para que eu falasse um pouco de Judith Butler, da distinção entre sexo e gênero, do gênero como performance, da construção social do gênero, etc, todos temas fascinantes e importantes, mas que são complexos demais pra um texto tão didático como esse aqui se propõe a ser. Aqui tem um trechinho que escrevi sobre isso.)
"Não qual é o problema de uma cantada na rua!"
"Não sei qual é o problema de uma cantada na rua!"


A principal refutação a ser feita ao ponto 3 é justamente a esse quadrinho. Ele é, claramente, MISÂNDRICO, que supõe que todos os homens são uns tarados irrecuperáveis que não conseguem controlar seu id. Além de, é claro, violar o Axioma 3:
(Axioma 3 - A afirmação de UMA condição de um sujeito ou de um objeto é, NECESSARIAMENTE, a REDUÇÃO desse sujeito ou objeto, tornando INCOMPLETA a sua total compreensão e conceituação.)
Esse quadrinho é uma FALÁCIA estapafúrdia chamada "apelo à emoção", que consiste em usar argumentos extremados e em seu conjunto IRREAIS para anagriar pessoas à causa.Vamos à discussão quadro a quadro:

Quadrinho 1: O homem fala "caralho, que linda!" a uma mulher. Reparem que ele está na porta de algo que suponho ser uma loja. Para poder fazer esse tipo de comentário (e usando palavrão!), e não ter ninguém além dele e da mulher vítima, ele deve ser o dono da loja (se ele fosse um empregado da loja, tomaria uma bronca do patrão por espantar a freguesia, e se fosse um outro qualquer, levaria uma sova tanto do dono quanto do empregado, pelo mesmo motivo). Esse quadrinho é malaciosamente FALSO, pois nenhum homem dono de venda faria uma abordagem dessa a uma mulher bonita. Ele: a) olharia; b) falaria com ela "boa tarde, moça [bonita]! Você não gostaria de entrar na loja para ver nossos artigos em promoção?"; c) falaria "caralho, que linda!" em VOZ BAIXA. Sabem por quê? Porque senão além de ela evitar passar na frente da calçada da loja, ela falaria para suas amigas evitarem de passar por ali, e o dono acabaria perdendo a freguesia. Outro problema desse quadrinho é que um homem geralmente só faz esse tipo de comentário quando está acompanhado de um amigo, não quando está sozinho.

Quadrinho 2: Dois homens, sentados na escada de um prédio de subúrbio de cidade grande americana, falam para a mulher (que espera seu ônibus) em tom jocoso: "qual é o número do seu telefone?". Percebe-se que o quadrinho é gringo não pela sua paisagem, mas pelo tipo de cantada: nem o cantador mais tarado brasileiro usaria essa cantada tão batida...

Quadrinho 3: a mulher passeia pela rua quando um homem, em sentido contrário, diz: "chupa o meu pau!". COMO É!? Então o Sr. Castro REALMENTE está dizendo à verdade quando diz que "o feminismo busca apenas os direitos iguais entre os homens e as mulheres", e que "por definição, é impossível a feminista ser mais perigosa que o machista mais brando"? Pois eu digo: além de HIPÓCRITA E INTOLERANTE (ver post anterior), o senhor é um MENTIROSO quando diz todas essas coisas e publica um quadrinho visivelmente panfletário pró-misandria em seu post! NENHUM HOMEM NORMAL EM SÃ CONSCIÊNCIA DIZ "CHUPA MEU PAU!" A NENHUMA MULHER COM A QUAL CRUZA (no sentido de andar contra) NA RUA! Por mais que ache-a linda, por mais que a ache gostosa, por mais que a conheça, ele NUNCA. DIRÁ. ISSO! E já repararam na cara de sadismo dessa personagem? Se isso não é MISANDRIA não sei o que mais é. E desafio a qualquer mulher a escrever aqui nos comentários uma história que seja: "isso não é verdade, Lobo, pois outro dia estava andando na rua e um homem, sóbrio, que não era morador de rua, com calças, andou contra a minha direção e me disse, com um sorriso sarcástico: 'chupa o meu pau!'". Aqui está o núcleo da falácia do apelo à emoção. A partir de agora, é impossível não pensar que todo homem é um maníaco sexual pronto a arriar as calças e masturbar-se na frente de uma mulher (ou estuprá-la) a qualquer momento. Mas seguirei com os quadrinhos restantes.

Quadrinho 4: a mulher, já puta da vida, faz outra caminhada (as roupas são diferentes - mas o quadrinho dá a entender que isso é do mesmo trajeto dela para a casa...) e um cara diz: "sorria, você é tão bonita!". Ninguém faria um comentário desses a uma desconhecida (qualquer pessoa normal tende a sair de perto quando vê um desconhecido com raiva ou chorando), mas reparem no olhar do sujeito: é o mesmo olhar malicioso do quadrinho 3. Ele só pode estar querendo algo com ela...

Quadrinho 5: outro momento. A mulher está voltando das compras (reparem no saco) cabisbaixa e resignada, quando um cara no carro diz: "ei, eu estou falando com você!" (eu entendi que antes disso veio aquele "ei! ei!"). Como ela não responde, ele (bravo) lasca um "vai se fuder então!". Até a primeira parte reconheço que é algo bastante comum também por essas bandas. A segunda parte NÃO. E por uma razão muito lógica: o brasileiro geralmente faz isso com o carro em movimento, então só dá tempo de dizer um "e aê, gostosa!". E pode até existir, mas nunca testemunhei um desses galanteadores responder com um "vai se fuder!" ao silêncio pós-cantada. "Apelo à emoção", parte 2.

Quadrinho 6: A mulher está dando suas pedaladas e um transeunte (com o mesmo olhar malicioso presente nos quadrinhos 3 e 4) lasca um "nossa, que bundão gostoso!". "Apelo à emoção", parte 3. Esse quadrinho é fisicamente falso, pois pressupõe que a mulher está andando devagar o bastante para que ela: a) consiga ouvir o gracejo; e b) consiga discernir que esse gracejo é para ela (poderia ser para outra mulher que estivesse passando - ou até mesmo para outro homem, por que não?). Mas nããão. O autor dessa pérola já pressupõe que ela pedala devagar, que ela tenha ouvido o gracejo e que já tenha chegado à conclusão de que ele foi para ela. Daí a cara de brava.

Quadrinhos 7 e 8: em outros momentos, pressupõe que a mulher, andando na rua, ouve coisas como "ei, pare e espere, eu quero falar com você!" e "ei, qual é o seu nome? Vem cá, me dá seu nome!". Eu realmente não queria ser mulher e viver no mesmo lugar onde essa daí vive, pois está cheio de homens tarados sexuais que ameaçam subjetivamente me estuprar...

Quadrinho 9: ela ainda anda e se ouve um "quero COMER você todinha". Propositadamente não mostra quem fez essa cantada, e a única hipótese onde acho que isso seja possível seria se ela estivesse passando perto de uma obra. Aí sim concordaria com a crítica. O problema é que o conjunto do quadrinho dá a entender que o galanteador é mais um dentre nós, todos os homens, que somos uns tarados irremediáveis.

Quadrinho 10: a mulher, em casa e já desamparada, tem que ouvir do marido um "se uma mulher me falasse que sou bonito eu ganharia o dia". Pressupõe que: 1) o marido é um machista; 2) o marido não entende as mulheres; 3) o marido trata a mulher como um objeto. Como esse é um quadrinho claramente misândrico, vou responder da perspectiva REAL que um homem casado responderia: 1) se uma mulher me falasse que sou bonito eu realmente ganharia o dia; 2) se eu ouvisse uma mulher falando para mim "caralho, que lindo!" eu ganharia o dia; 3) se uma mulher me perguntasse qual era o meu telefone, eu responderia "tá na lista"; 4) se eu andasse na rua e cruzasse (no sentido de andar contra) com uma mulher e essa me dissesse "chupa a minha buceta!" eu fugiria, pois pensaria (com razão) que ela era uma psicopata; 5) se aparecesse uma desconhecida e me falasse com uma cara de safada "sorria, a vida é tão bonita", eu falaria "tá, obrigado!" e sairia correndo; 6) se estivese andando e uma mulher em um carro me cantasse, eu não responderia, e se ela mandasse "se fuder", eu mandaria ela à puta que a pariu na hora; 7) se enquanto eu estivesse andando ouvisse coisas como "ei, pare e espere, eu quero falar com você!" e "ei, qual é o seu nome? Vem cá, me dá seu nome!", eu iria sair correndo, pois saio correndo de qualquer estranho/a que me aborda na rua; 8) se alguma mulher me gritasse "quero dar tudinho pra você", pensaria que ela seria uma ninfomaníaca com distúrbios mentais; 9) e se a minha mulher falasse "se um homem me falasse que sou bonita, eu ganharia o dia", responderia na lata: "por que, não te acham bonita não?"

Conclusão: esse é um quadrinho claramente MILITANTE que EXARCEBA o machismo na sociedade até que esse se torna algo totalmente IRREAL para fazer o "apelo à emoção", além de ser MISÂNDRICO ao igualar cantadas de homens normais a expressões PSICOPATAS. Ver Axioma 3.

Ah, e não, não valeu a pena...

Um comentário:

Filipe Wels disse...
Este comentário foi removido pelo autor.