sábado, outubro 06, 2012

Refutações às correntes teses sobre o "feminismo" (e outros ismos) que vivo vendo no Facebook (2)

Ah, mas o segundo post é MUITO PROBLEMÁTICO. Como sempre: original em itálico

www.papodehomem.com.br/feminismo/#feminismo2

2. Machismo vs feminismo, a falsa dicotomia

Machismo é a dominação do homem sobre a mulher.
Já discordo de cara. Repetirei no decorrer desse post: machismo é a concepção de que o homem é inerentemente melhor que a mulher em um, vários ou todos os aspectos. A submissão é a consequência desse pensamento de superioridade, não a causa.

Os dois termos não são, nunca serão, não podem ser análogos. É uma falsa simetria. É como reclamar de não haver um Dia da Consciência Branca.
Aqui a coisa começa a entornar o caldo de vez. Vamos pelo final: 1) Dia da Consciência Branca não existe por uma razão factual: nenhum parlamentar apresentou projeto semelhante no Congresso (ao menos desconheço isso)  e não houve aprovação nesse sentido; 2) há uma questão cultural implícita no Brasil aí: NENHUM branco se identifica automaticamente como um branco: ele se identifica como "descendente de portugueses", "descendente de italianos", "descendente de espanhóis", etc. E aí, meu caro Alex, HÁ o "dia da comunidade portuguesa", o "dia da comunidade italiana" e o "dia da comunidade espanhola"; 3) quanto aos negros há exatamente o contrário: NENHUM negro se identifica ostensivamente com a cultura local da qual foi retirado para ser escravizado. Não existe o "dia dos bantos", "dia dos nagôs", "dia dos jejês", etc. "ah, mas não há diferença entre os negros!". MENTIRA! Quem fala isso não conhece as diversas matrizes do candomblé (candomblé iorubá, candomblé banto, candomblé jejê), por exemplo; 4) até os imigrantes japoneses não se veem como "asiáticos" ou como "amarelos", mas sim como "japoneses"

Se os brancos não se veem como unidade cultural, mas os negros sim, isso explicaria não haver um "dia da consciência branca" e nem mesmo um "dia da consciência asiática", mas sim o "dia da consciência negra". O porquê disso cabe aos antropólogos explicar. Como cientista político, arrisco uma tese: 1) nunca houve "dia da consciência branca" porque a maioria dos brancos no Brasil tem origem latina (portugueses, italianos e espanhóis), e nunca houve um "panlatinismo" como um correspondente do "pangermanismo" ou do "pan-eslavismo". Fosse o Brasil colonizado pelos holandeses, ingleses ou alemães, isso poderia ter acontecido...; 2) o movimento negro bebe da fonte do pan-africanismo e do nacionalismo negro de Marcus Garvey, daí a questão da unidade continental (étnica não é, que o diga os massacres entre as etinias africanas que ainda acontecem) ser mais evidente.

E só para esclarecer: o Sr. Alex Castro adora falar de simetria. Pois eu vou falar também: comparar feminismo ao movimento negro TAMBÉM É uma FALSA SIMETRIA. Enquanto que o movimento feminista surgiu primeiramente como a busca de direitos políticos iguais para homens e e mulheres (que as mulheres votassem e pudessem ser votadas), classificando o comportamento misógino DESORGANIZADO e NÃO MILITANTE da sociedade até então de "chauvinismo machista" (aí a origem do termo), o movimento negro foi tanto uma reação à crença ORGANIZADA já presente no Ocidente ao menos desde Lineu - e no Oriente desde ao menos o Século XIV com Ibn Khaldun, que dizia o seguinte dos povos que viviam abaixo de Gana: "Beyond them to the south, there is no civilization in the proper sense. There are only humans who are closer to dumb animals than to rational beings. They live in thickets and caves and eat herbs and unprepared grain. They frequently eat each other. They cannot be considered human beings" - de que os negros eram de uma raça inferior (segundo Lineu, os negros eram "relaxados e displicentes") como uma reação ao colonialismo europeu na África. Resumindo: não havia uma militância misógina ORGANIZADA contra as mulheres há 300 anos, mas já havia militância racista ORGANIZADA contra os negros ANTES da solidificação do movimento negro.

(Uma camisa “100% Branco” é de profundo mau-gosto, ao mostrar quem está por cima celebrando sua hegemonia. “100% Negro”, por outro lado, é a celebração de uma identidade subalterna tentando se afirmar contra todas as desvantagens inerentes no sistema. Captaram a diferença?)

Não falei que o Diabo está nos detalhes? O senhor, Alex Castro, é um HIPÓCRITA e INTOLERANTE pelas razões descritas no nos meus dois conjuntos axiomáticos lá dos pressupostos.
(Axioma 1 - Não faça para os outros o que não gostaria que fizessem com você)
Sub-axioma 1 - Quem não age dessa maneira pode ser o que se convém chamar de HIPÓCRITA

Axioma 2 - A simples afirmação de uma condição humana , real ou presumível, é inócua per se, apenas sendo prejudicial quando há um ato, verbal ou físico, contrário à condição humana, real ou presumível, de outrem. Agindo com esse prejuízo, essa pessoa torna-se INTOLERANTE.).

1) O que dá a entender que a pessoa  que veste a camisa "100% branco" é racista? Poderia me explicar essa ilação? Porque eu não "captei";
2) Mesmo considerando que essa pessoa seja racista, o que dá você o direito de concluir que essa pessoa estaria praticando um ato racista? Expor a afirmação de uma condição humana per se não é crime. Se essa pessoa dizer a um negro: "sou branco!", isso NÃO é racismo. Se essa pessoa dizer para um negro: "sou 100% branco!", isso NÃO é racismo. Se essa pessoa dizer para um negro: "você é negro!", isso NÃO é racismo. Se essa pessoa dizer para um negro: "você é 100% negro", isso NÃO é racismo. E vice-versa. São todas as afirmações a constatação apenas de um fenótipo. Agora, se esse alguém, branco ou negro, disser para outrem: "sou branco/negro e sou melhor que você por isso", isso É racismo. Se ela disser: "você é branco/negro e é pior que eu por isso", isso É racismo (considero aqui racismo também como injúria por cor).
3) Que "hegemonia" é essa? Pode ter havido essa hegemonia no passado, mas desde 1888 não existe mais. Nosso maior escritor, Machado de Assis, era mulato (que o movimento negro considera "afro-brasileiro" - podendo, assim, ser considerado TAMBÉM "euro-brasileiro"),. Muito antes do Barack Obama tivemos um presidente mulato (que o movimento negro considera "afro-brasileiro", etc. etc.), Nilo Peçanha (foi vice-presidente que assumiu o cargo com a morte de Afonso Pena, mas assumiu, cumpriu integralmente seu mandato e saiu do cargo sem que houvesse uma comoção golpista do tipo "ai meu Deus! há um negro na Presidência!"). Hegemonia cultural também não pode ser, pois o nosso principal produto musical de exportação, o samba, foi criado por negros. Chegamos ao Oscar (mas quem levou foi a França, pois o diretor era francês) com "Orfeu Negro", adaptação magistral feita pelo Vinícius de Moraes da tragédia grega "Orfeu e Eurídice" à cultura negra - aliás, não fosse esse filme, feito por negros e por brancos, a mãe do Obama não teria se interessado pela cultura negra, e provavelmente o atual presidente dos EUA seria branco... Os exemplos são muitos e incontáveis da presença e da hegemonia da cultura negra em VÁRIOS aspectos da sociedade brasileira.
4) Quer dizer então que "ser negro" é possuir "identidade subalterna"!? Por que um negro seria subalterno a um branco? Senti um quê de RACISMO aí...
5) O Sr. Castro fala em "desvantagens inerentes ao sistema". Quais desvantagens? Qual sistema? Esse sistema prejudica as pessoas por serem negras ou por serem pobres? Esse sistema prejudica as pessoas porque elas têm menos estudos ou porque são mais escolarizadas? Quem tem mais chance de se dar bem na vida: um filho de um analista judiciário negro ou um filho de um faxineiro tercerizado que trabalha no tribunal desse mesmo analista judiciário negro? Suponhamos então que os filhos de ambos, por quaisquer razões, abandonem os estudos após o ensino médio e já tentem entrar no mercado de trabalho. Quem ganhará: o filho do faxineiro branco que terminou o ensino médio numa escola estadual mediana, o filho do analista judiciário negro, que estudou em uma escola particular mediana ou um branco pobre, bolsista de escola particular igualmente mediana, que fez das tripas coração para superar as cotas para estudantes de escola pública (e de negros, e de indígenas) passou no vestibular para uma universidade federal e está procurando um emprego que exige exige médio completo para poder pagar a condução, os livros da faculdade e ajudar um pouco em casa? Aliás, falando em cotas, uma vez que elas foram aprovadas (e essa foi a PIOR decisão do STF desde sua aquiescência ao Golpe de 64, mas isso é para outro dia), pergunto de novo: que "desigualdades inerentes ao sistema" são essas?

Captaram a diferença?

O machismo, por definição, é anti-mulher mas o feminismo não é, nunca foi, nunca será anti-homem. 

 O machismo não é anti-mulher, como eu já disse, mas sim preconiza que o homem é superior à mulher em um, vários ou todos os aspectos. O comportamento anti-mulher se chama misoginia, sendo uma variante extrema do machismo. Posto em um diagrama lógico: toda misoginia é machista, mas nem todo machismo é misoginia

O inimigo do feminismo não é você, homem de carne e osso lendo isso, mas a estrutura machista da nossa sociedade.

Assim como o comportamento anti-homem chama-se misandria. Falarei muito sobre isso. Já vou adiantando que há muita misandria no 3º post do Sr. Castro...

Outro dia, um amigo me disse:
“o feminismo levado ao extremo é pior do que qualquer machismo”.
Mas quando é que o feminismo foi levado ao extremo? Vocês já viram mulheres pregando discurso de ódio aos homens, dizendo que os homens não deveriam poder trabalhar, votar, assinar contrato? Nunca vi ninguém nem mesmo defender isso, quanto mais aplicar no mundo real.

 O feminismo levado ao extremo chama-se misandria e continua sendo feminismo, assim como o pensamento de esquerda levado ao extremo torna-se de extrema-esquerda e continua sendo de esquerda, e o da direita, extrema-direita, que continua sendo de direita, uma vez que inexiste uma palavra que conceitue o oposto do machismo (ou seja: crer que as mulheres são inerentemente melhores que os homens em um, vários ou todos os aspectos). Compreenderam a diferença? Voltando ao tópico anterior, resgato à pergunta 1:
"[1]Mulheres devem receber o mesmo valor que homens para realizar o mesmo trabalho?"
Minha resposta foi: "1) Sim; mas considerando "mesmo trabalho" não só como "mesma profissão", mas também "mesmo esforço" e "mesmos resultados"".
Ok, agora vou mostrar uma aplicação ao mundo real do extremismo do pensamento feminista: cotas para mulheres em conselhos administrativos de empresas.Absurdo? Sim, mas isso já está acontecendo. Já vigora na Noruega e vai vigorar na União Europeia em breve. Agora pergunte a um homem competente e com méritos que foi preterido no conselho administrativo em prol de uma mulher menos competente por uma lei estúpida se isso é ou não é feminismo levado ao extremo. Isso não é tratamento com igualdade, tampouco com equidade (já que a única coisa que esse homem fez para ser preterido no conselho foi... ser homem!). Tanto até que houve protestos até de associações feministas!

Por outro lado, o machismo, em todas as suas vertentes, é aplicado todo dia, no mundo inteiro, em bilhões de mulheres. E, pior, o machismo mata.

Vou falar algo para vocês, e espero que o Sr. Castro não fique bravo comigo: o machismo NÃO mata. Quem mata é o homem que puxa o gatilho, que esfaqueia a mulher, que queima a mulher, que a espanca até a morte, etc. O homem que mata sua ex-companheira não a mata por machismo, mas por falta de maturidade em lidar com o fim do relacionamento e por covardia por ser, geralmente, mais forte que a mulher. Não fosse assim, a Elise Mitsunaga teria matado seu marido por feminismo... Ela matou por falta de maturidade em lidar com o fim do relacionamento e à traição (=covardia), matando-o pelas costas. O machismo não está no assassinato dessas mulheres, mas sim na cultura do medo que faz com que elas não denunciem seus maridos violentos à polícia, no medo infantil de pensar: "o que os outros irão minha família irá pensar?" e no pensamento estúpido de "o que será dos meus filhos sem um pai?". Talvez vocês tenham se esquecido do Axioma 3, então aqui irá ele de novo:
Axioma 3 - A afirmação de UMA condição de um sujeito ou de um objeto é, NECESSARIAMENTE, a REDUÇÃO desse sujeito ou objeto, tornando INCOMPLETA a sua total compreensão e conceituação.
Falar que o homem mata a mulher por machismo é deixar incompleta a compreensão sobre o porquê dos assassinatos.


Também tem gente que diz:
Não sou machista nem feminista, sou humanista!
Mas os três termos não tem literalmente nada a ver um com o outro: o machismo é um sistema de dominação, o feminismo é uma luta política por direitos iguais e o humanismo é o sistema filosófico materialista que coloca a humanidade em primeiro lugar  — em oposição à deus e à metafísica.
Não é nem que são termos opostos ou coincidentes, mas se referem a áreas completamente distintas.
Seria como dizer:
Não sou nem paulista nem canhoto, sou engenheiro!
 Falou "A não é B e não é C", mas explicou "A é X, B não é B e C é C"

No humanismo o Sr. Castro acertou, portanto não entro em mais detalhes. Digo de novo: o machismo (derivado do "chauvinismo machista") não é um sistema de dominação, mas sim tipo de pensamento, nutrido por muitos homens e por algumas mulheres, de que os homens são intrinsicamente que as mulheres em um, vários ou em todos os aspectos. O feminismo é uma luta política? Ok, isso é. Agora, como se dá essa luta política - apenas no gogó? Não, se dá através da conquista de espaços, e a conquista de espaços se dá pela... dominação destes espaços! Mas eu não digo que o feminismo é um sistema de dominação, mas sim um tipo de pensamento, nutrido por homens e mulheres, de que a mulher deve possuir os mesmos direitos, os mesmos deveres e as mesmas oportunidades que os homens, de acordo com seus méritos e de forma equânime (exemplo: o homem deve ter direito ao exame PSA - aquele da próstata - assim como a mulher ao exame de coleta gratuitos). Afinal, foi esse o questionário que respondi no tópico anterior, não? Infelizmente esse conceito de feminismo não é pacífico (vide o exemplo das cotas para mulheres em conselhos de administração), porque também encobre o que se reconhece como oposto ao machismo (ou seja: feminismo também seria o pensamento de que a mulher é inerentemente melhor que o homem em um, vários ou outros aspectos - quando inventarem um termo específico para isso me avisem) e, principalmente, esconde a misandria de algumas militantes (ah, e viola o Axioma 3).

Portanto, falar que “as feministas são tão ruins quanto os machistas” só faz expor o machismo de quem fala.
A feminista mais radical não tem como ser pior do que o machista mais brando. Por definição, é impossível.

 Não, não faz não. O pensamento "as feministas são tão ruins quanto os machistas" é totalmente inconclusivo. Se estamos falando de um misógino e uma feminista tradicional, do primeiro sentido, o postulado é falso; se estamos falando de um machista que o é apenas por achar, por exemplo, que os homens dirigem melhor que as mulheres (OBS: isso é desmentido pelas companhias de seguros) e uma feminista do segundo sentido, ou mesmo misândrica, o postulado é verdadeiro. Assim, a conclusão do Sr. Castro é ERRADA.

Só para recapituar os conceitos discutidos nesse post:

Misoginia - Pensamento de ódio ou de desprezo à mulher. Forma extremada de machismo.
Machismo - Pensamento que crê na superioridade masculina em um, vários ou em todos os aspectos.
Masculinismo - Pensamento que crê que os homens devem ter os mesmos direitos, os mesmos deveres e as mesmas oportunidades que as mulheres de acordo com seus méritos e de forma equânime (exemplos: mulheres também devem abrir a porta dos carros para os homems, mulheres devem dividir a conta do motel, a licença-paternidade deveria ter a mesma duração que a licença-maternidade, fim do preconceito aos homens que seguem "atividades típicas de mulher", como enfermaria e copa, guarda compartilhada com a ex-esposa de seus filhos, etc.)
Feminismo - 1) Pensamento que crê que as mulheres devem ter os mesmos direitos, os mesmos deveres e as mesmas oportunidades que os homens de acordo com seus meritos e de forma equânime; 2) pensamento que crê na superioridade feminina em um, vários ou em todos os aspectos.
Misandria - Pensamento de ódio ou de desprezo ao homem

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