segunda-feira, julho 04, 2011

Adeus Itamar

E lá se vai o melhor presidente da Nova República. Como afirmo isso? Simples, basta usar o critério lógico "como ele pegou o país e como ele deixou o país". O Sarney pegou um país com inflação e esperançoso com a Nova República e deixou um país com hiperinflação (80%/mês) e enojado com políticos. O Collor pegou um país com hiperinflação e enojado com os políticos e deixou o país com inflação, com crescimentos negativos de PIB e extremamente enojado com os políticos.

O Itamar resolveu o problema da inflação, dos crescimentos negativos e aquela coisa de "ética na política" (que foi uma lorota inventada pelo PT para desqualificar quem não era petista) melhorou um pouco nossa relação com os políticos. Tínhamos a impressão de que era só descobrir os erros e isso aparecer numa CPI que o político seria cassado e o sistema progrediria. E entregou o país assim para o Fernando Henrique. Fernando Henrique manteve a inflação sob o controle, e a situação política esteve sob controle. Mas o país ficou estagnado no período (com o PSDB aplicando um "efeito Plano Cruzado" nas eleições de 98, mantendo o real valorizado até pouco depois das eleições) e houve o apagão.

Assim o Lula pegou o país. Ele teve o mérito de manter a inflação sob controle e surfar na bonança econômica internacional. Mas a confiança para os políticos despencou a níveis pré-Collor. Como o brasileiro parece se importar mais com o bolso do que com lições de ética, Lula fez sua sucessora (sim, a Dilma foi a primeira mulher, mas o Lula foi o primeiro pernambucano, o Itamar foi o primeiro desquitado, o Fernando Henrique foi o primeiro doutor... Sempre haverá alguém para fazer a relação besta de "primeiro em..."). Daí vem a Dilma, que parece estar sendo uma versão piorada do Lula (já que o Lula ao menos sabe fazer articulação política - e alguém me diga por favor: qual é afinal a posição do Governo sobre o Código Florestal?), e não parece que a bonança econômica do mundo continuará...

Mas voltemos ao Itamar. Daqui a uns 50 anos darão o crédito que ele merece. Não só por estar entre os senadores eleitos em 74 pelo MDB que representaram a PRIMEIRA DERROTA DA DITADURA (infelizmente com o efeito colateral dos senadores biônicos, embriões da terceira vaga para senador que cada estado tem direito). Não só por ter pegado um país em turbilhão político e econômico e ter entregue o mandato em uma situação infinitamente mais tranquila (com direito a Globo Reporter especial). Não só por ter feito o sucessor, algo que não acontecia desde Getúlio com JK em 54 (não propriamente uma sucessão, mas o Getúlio já tinha indicado que o JK seria seu candidato).

Itamar foi a pessoa que acabou com o Fernando Henrique num só golpe. Como sói acontecer na política, o objetivo do Itamar era eleger uma pessoa que não estava em um grande momento da política (sem o real o Fernando Henrique não conseguiria reeleger-se ao Senado) e tentar a sorte em 98. Mas ele não contava com a emenda da reeleição (inclusive pouco antes de morrer o Itamar conseguiu aprovar na reforma política sua emenda para acabar a reeleição). Aí começou sua birra com o FHC. Que se acentuaria a níveis estratosféricos quando houve aquela tristemente histórica conferência do PMDB na Câmara em meados de 98 onde o Itamar, que apresentaria sua pré-candidatura, não conseguiu falar tamanha a baderna que o pessoal do MR-8 -ligado ao Quércia- estava fazendo. Não sei se foi ou não manobra dos tucanos, mas o objetivo deles (o PMDB não apresentar candidatura própria e não ameaçar uma eventual reeleição do FHC) foi atingido.

Assim, o Itamar ganhou o "prêmio de consolação" que foi a candidatura ao Governo de Minas Gerais. Candidatura essa que foi enormemente facilitada graças à incompetência de Eduardo Azeredo, famoso por ir para a Europa bem no período das enchentes anuais de Minas. Ganhando, Itamar deu um tapa de luva de pelica no FHC com a moratória de Minas (Itamar faria outro péssimo governo em Minas, mas fez que seu escolhido, Aécio Neves, ganhasse a sucessão e espertamente saiu da ribalta política).

E aqui caberia um mea culpa de toda a imprensa tucana (sim, falo da Veja), que se comportou como o MR-8 contra o Itamar, chegando até a chamá-lo de 'Francaleone'. A culpa da desvalorização NÃO FOI DO ITAMAR. A culpa da desvalorização foi a adoção de uma POLÍTICA CAMBIAL ERRADA BANCADA PELOS SRS. PEDRO MALAN E GUSTAVO FRANCO. Se o Brasil tivesse desvalorizado a moeda senão na crise do México, mas na crise da Tailândia ou da Rússia, já poderíamos estar com uns 5 a 10% a mais de PIB. Na situação que estávamos, qualquer vento derrubava a nossa economia, e calhou de ser um vento topetudo.

Vamos então aos achievments do Itamar: 1) pertenceu ao grupo de senadores eleitos pelo MDB em 74; 2) conseguiu ser Presidente sem voto; 3) conseguiu estabilizar a economia e a política do país; 4) fez seu sucessor; 5) acabou com um só golpe a popularidade de seu principal adversário na época. Itamar não teve apenas fortuna...

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