sexta-feira, maio 27, 2011

10 anos do fim do rock no Brasil - A saída do rodolfo dos Raimundos

Você não gosta de Luan Santana? Você não gosta de música emo? Você odeia essa moda colorida? Tampouco se identifica com bobagens mpbísticas/neohippie como Los Hermanos ou A Banda mais Bonita da Cidade? Mas não se sente identificado com Pitty ou Detonautas? Então vou te falar: nem sempre foi assim.

O rock brasileiro, de qualidade, surgiu nos anos 60, com Os Mutantes (e muita coisa da Jovem Guarda também). Nos anos 70 quem conduziu o barco foi Raul Seixas. Mas a explosão mesmo foi nos anos 80, com o surgimento de bandas de tudo quanto é gênero. O tempo foi passando, as melhores bandas foram ficando... Então veio os anos 90. O ritmo das mudanças diminuiu consideravelmente, mas ainda surgiram bandas grandes, como Skank, indies de qualidade como Chico Science & Nação Zumbi, a 'Família Hemp' (Planet Hemp & O Rappa)... Mas divago. Fora o Planet Hemp, a molecada se identificava era mesmo com os Raimundos.

Surgidos no final da década de 80, os Raimundos acabaram sendo os principais representantes da cena hardcore brasiliense que vibrava na cidade (bandas a se destacar: D.F.C., OsCabeloduro e Little Quail and the Mad Birds - antiga banda do Gabriel dos Autoramas). Elas tinham algo que as diferenciava das demais: um pé em música regional. No caso, forró. Especificando mais ainda, aquele forró de duplo sentido consagrado por Genival Lacerda, Cremilda e, principalmente, Zenilton, quem seria um dos principais colaboradores dos Raimundos nos dois primeiros álbuns. O primeiro álbum, do mesmo nome (94), estorou nas paradas com "Selim" ("eu queria ser/o banquinho da bicicleta/ pra ficar bem no meio das pernas/ e sentir o seu ânus suar"). Sim, isso tocava nas rádios! E fez um puta de um sucesso na época. Mas o álbum todo é um petardo ("Puteiro em João Pessoa", "Palhas do Coqueiro", "Rapante", "Carro Forte", "Nega Jurema" - primeiro clipe deles - "Cajueiro/Riacho das Pedreiras" - auge do forrocore, "Bicharada" e "Marujo". Conseguiu o disco de ouro na época.

Tudo muito bom, tudo muito bem. O "problema" é que, em 95, surgiram os Mamonas Assassinas. Não que eles não fossem legais (eram), mas o fenômeno Mamonas acabou associando os Raimundos a uma "banda engraçadinha", algo que faria estragos posteriormente.

Mas não ainda no segundo álbum, "Lavô tá Novo" (95). A parceiria do Zenilton ainda estava lá ("Tá querendo Desquitar"). O contato com o popular ainda estava lá ("Esporrei na Manivela", música de domínio popular). Tinham outra "balada" maravilhosa ("I Saw You Saying"). E coisas novas também, como influências do ska ("Opa! Peraí, Caceta") e rap ("Cabeça de Bode"). "Eu Quero ver o Oco" virou um verdadeiro hino. Ainda eram os Raimundos de sempre, mas mais polidos. Consequentemente, esse álbum vendeu merecidamente mais que o anterior.

Então o "efeito Mamonas Assassinas" fez-se valer. A banda descartou a parceiria com o Zenilton, se mandou para Los Angeles fazer um álbum punk-hardcore "sério", "Lapadas do Povo" (97) - não conto o "Cesta Básica" (95) porque é coletânea. Sem a parceiria com toque no popular, e sem comercializarem a boa balada "Bonita", o álbum "sério" não vendeu tanto.

Ainda houve um acontecimento realmente trágico na turnê do álbum: por culpa da péssima organização dos produtores, houve tumulto e pisoteamento em um show que haveria em Santos, morrendo 8 pessoas. Me lembro da cara de consternação deles após a tragédia, e acredito que é batata que isso foi um dos principais fatores que influenciou o Rodolfo a virar crente.

O que restava a fazer era adiantar o fim da turnê, refrescar a cabeça e voltar com calma depois. Voltaram com o álbum mais acessível (e bem-sucedido) da carreira deles: "Só no Forévis" (99). Não voltaram com a parceiria com o Zenilton, o que contribuiu para inquietações entre os fãs sobre a mudança do som, mas voltaram com a balada. E que balada! "Mulher de Fases" simplesmente obliterou da memória todos os hits anteriores, o que catapultou as vendas do álbum. E também a "Me Lambe", uma das músicas mais deliciosamentes de duplo sentido que eles já fizeram - e com toques de ska. A música "Aquela" (que na verdade é do Little Quail) entrou pra trilha sonora de Uga Uga (por isso o Carlos Lombardi é meu roteirista de novela preferido!). As minhas preferidas eram "Boca de Lata", único dos dois únicos raps que eu gosto NA VIDA e "Língua Presa", que é genial.

Sim, vendeu pra caramba o álbum, mas na época eu sentia algo errado no ar. Hoje eu já posso dizer: 1) a acessibilidade deles foi excessiva. A "Mais Pedida" é insuportável de tão pop; 2) eles continuaram naquela de perseverar em ser uma banda punk-hardcore "séria" (o maior exemplo disso foi na música "Deixa eu Falar", composta como reação à prisão do Planet Hemp em Brasília em 98 ou 99 - se é pra falar então deixa EU falar: o D2 não faz nada que preste desde que passou a cantar rap); 3) já havia sinais de que a tragédia de Santos fez seu estrago na psiquê do Rodolfo. Olhem a letra de "Alegria":

"Levanto os olhos pro céu e grito:
"-Vem cá, bom Deus, vingar Jesus,
o pobre aqui não vive, sobrevive".
Feridas que a revolta cria, eu sou o pus!

Tem gente que vê e é cega em ilusão de luz
Tem gente que vê e é cega, usa rédeas e bitola.
ACORDA!"


Isso parece ou não parece música GOSPEL!?

Enfim, o álbum fez sucesso, eles excursionaram e tudo andava às 1000 maravilhas. Aí o Rodolfo se apaixona por um rabo-de-saia-até-o-tornozelo crente. E vira crente. Vai levando a coisa e tal, até que, para promover o "MTV ao Vivo", a banda ou os empresários, não sei quem, escolhem "Reggae do Maneiro", como música de trabalho. Ah, mas pra quê!? O filho da puta do Rodolfo, além de hardcore "sério" agora era crente, que queria a "20 e Poucos Anos", cover do Fábio Jr*., porque era mais "séria" e não era "zoação" como o "Reggae...", resolve sair da banda. A princípio o restante declara o fim da banda. Mas graças a críticas filhas da puta como a da Veja e do Álvaro Pereira Júnior, eles continuaram de birra.

Mas o estrago estava feito: desde então do rock brasileiro não surgiu nada que preste. O Rodolfo acabou criando uma banda depois, a Rodox, mas todos perceberam que era tapeação para evangelizar as pessoas e a banda acabou rapidinho. Hoje ele é pastor nos EUA (e que fique por lá mesmo!). Já os Raimundos, depois de diversas mudanças, continua na ativa. Infelizmente não pensa nem um pouco em voltar com a parceiria com o Zenilton e viraram punk-hardcore "sérios" de vez. Bem, pelo menos ficam-se as lembranças.


*Fábio Jr., apesar de ser gente boa, é responsável por duas hecatombes no rock brasileiro: a saída do Rodolfo dos Raimundos e Fiuk. Pensem nisso.

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