quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Agora sim!!!

Judeus lançam concurso anti-semita

Em resposta aos protestos às polêmicas charges do profeta Maomé, publicadas pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, dois artistas israelenses lançaram uma iniciativa criativa para enfatizar a importância da sátira, da liberdade de expressão e do humor, como noticia Nirit Anderman [Haaretz, 20/2/06]. Após tomarem conhecimento sobre o concurso de cartuns sobre o Holocausto proposto por um jornal iraniano, o ilustrador Amitai Sandy e o ator e roteirista Eyal Zusman decidiram anunciar uma competição israelense de charges anti-semitas com um detalhe bastante peculiar: aberta apenas para participantes judeus.

"Nós vamos mostrar ao mundo que podemos fazer as melhores, as mais inteligentes e as mais ofensivas charges anti-semitas já publicadas", afirmou Sandy na semana passada em seu sítio, confirmando o tom autodepreciativo característico do humor judaico. Notícias sobre a competição se espalharam pela rede e, dentro de poucos dias, os organizadores haviam recebido centenas de e-mails parabenizando a iniciativa. A maior parte das mensagens vinda de judeus – algumas deles com tom de vingança. "Havia e-mails do tipo ‘Vamos mostrar a estes árabes primitivos que somos melhores do que eles", contou Sandy, alegando que, no entanto, o concurso não tem o objetivo de ser contra os iranianos, mas sim o de mostrar que é possível acabar com o ódio e o medo em relação ao anti-semitismo usando o humor.

De acordo com o ilustrador, 40 judeus já enviaram seus desenhos e a maioria deles tem como tema o Holocausto. Muitos internautas que deixam comentários no sítio são descendentes de sobreviventes de campos de concentração e afirmam não ter hesitações em lidar com este trauma.

A minoria que se mostrou contrária ao concurso, curiosamente, não é composta de judeus. Um grupo de cristãos pró-israelenses dos EUA, por exemplo, argumentou que a iniciativa é perigosa, porque anti-semitas poderiam usar as charges da competição para fazer propaganda contra os judeus. Fora da internet, o concurso reacendeu o debate na mídia sobre os limites da sátira. Sandy revelou que, em três dias, foi entrevistado por mais de 30 jornais, duas emissoras de televisão e um programa de rádio transmitido em mais de 450 estações nos EUA.

O prazo para enviar charges para o concurso termina no dia 5/3. O júri será composto por Sandy, Zusman, cartunistas israelenses e a historiadora americana Deborah Lipstadt, que escreveu um livro sobre a negação do Holocausto e tornou-se conhecida por ter sido processada, em 1998, por David Irving, historiador que negou o Holocausto e que, nesta segunda-feira (20/2), foi condenado por um tribunal austríaco a três anos de prisão. Para a legislação da Áustria, onde Hitler nasceu, sustentar a inexistência do genocídio equivale a crime.